sexta-feira, 10 de julho de 2009

Bahia Express - relato.1

Abril de 2009
Texto Daniel Menin / Fotos: Daniel Menin e Leda Zogbi / Mapa: Leda Zogbi

Tinhamos apenas 4 dias de viagem. Uma passagem de ida e volta à Salvador e 1 carro alugado. Nosso objetivo principal era sair de Salvador e ir até esta pequena cidade mapear a caverna visitada pela Leda há alguns meses anteriores. Não foi difícil nos convencer da viagem, bastou a Leda enviar a fotografia de um abismo no final de um conduto acompanhado de alguns comentários: “não pude ver direito mas parece que continua bastante... segundo os moradores locais ninguém ainda desceu...” pronto. Logo depois deste e-mail já estávamos marcando a data da viagem.
Tratava-se de um feriado na Quinta-feria, com ponte na Sexta. Chegamos em Salvador Quarta de noite. Nossa agenda estava corrida e com horários bem apertados, mas tivemos agilidade e na quinta mesmo já conseguimos ir até a caverna. Como muitas outras cavernas no Brasil, a gruta tem um apelo regional à religiosidade e sofre bastante as consequências da desinformação somada à fé humana. Uma bela entrada dá acesso a um grande salão onde foi construido um altar que estava repleto de oferendas. Velas, pedaços de roupa, retratos, dezenas de crucifixos, pernas postiças e muitos outros apetrechos se misturam à garrafas pet, latas, sacos plasticos e muito lixo. Difícil de separar o que ainda tem valor religioso do que foi efetivamente deixado como lixo dentro da pobre gruta.




Quanto mais adentramos à caverna menores são as consequências da visitação humana. Ainda bem! Mais adiante e após uma passagem lateral encontramos uma terceira sala, esta paralela à segunda e morfologicamente bastante similar. Teríamos que atravessá-la por um caminho lateral, margeando a sala pela parede a meia altura até chegar em um outro conduto que nos levaria até o abismo fotografado pela Leda na viagem anterior.
Estávamos acompanhados de um guia local e do prefeito da cidade. Além de nos acolher, o prefeito fez questão de nos acompanhar pessoalmente até o fundo da caverna para desvendar os misterios da gruta e daquele abismo.
Mas não seria neste dia que desceríamos o abismo. A ideia era somente avaliar a descida e voltar com a quantidade certa de equipamentos no dia seguinte. Aproveitamos então para iniciar a topografia voltando do abismo para a entrada da caverna.
No dia seguinte resolvemos iniciar a atividade descendo o menor abismo (próximo à entrada) antes de seguir para o abismo final. Corda ancorada naturalmente em uma grante estalagmitie e desci na frente sem problemas nenhum.

Havia bastante lixo na parte mais profunda da descida. É bem verdade que a caverna havia sido toda limpa para nossa chegada. Esta preparação foi feita pelo nosso guia assim que soube de nossa visita. Apesar dele ter feito um excelente trabalho no salão principal da gruta seria impossível de limpar também o lixo caido abismo abaixo. Vale lembrar também que quando estava limpando a caverna nosso guia foi surpreendido por alguns homens com foices e facões que, de forma não muito amigável, o convidaram a parar o trabalho e sair da caverna. Eles consideravam o ato de retirar o lixo da caverna um desrespeito aos fiéis.
Uma vez lá embaixo fui dar uma olhada na continuação da caverna enquanto o restante da equipa aguardava lá encima. Caminhei um pouco e tive a impressão de chegar na parte inferior do maior abismo, aquele no fundo da gruta que desceríamos depois. Seria ótimo pois evitaríamos este trabalho posteriormente. A Leda tbém desceu e juntos topografamos a parte inferior colocando uma base fixa bem visível para tentar uma ligação com o setor superior sem a necessidade de descer o maior abismo. E assim foi feito!
Foram 1 dia e meio trabalho na caverna para terminarmois a topografia e verificar todas as possibilidades de novas continuações. Um belo trabalho com direito também a belas fotografias e recomendações de preservação da caverna para o prefeito. Não é possível segurar de uma só vez toda a população religiosa, mas é sim possível minimizar os impactos desta visitação em massa adotando algumas simples ações como a colocação de latões de lixo no salão religioso e algumas placas de retenção do caminhamento interno na caverna.

Fora da caverna, alguns metros acima existe uma outra entrada que da acesso a uma caverninha vizinha. Também topografamos a gruta buscando possíveis conexões, mas confirmamos que se trata de uma cavidade independente encerrando nossas atividades nesta gruta em 2 dias de atividade.

Este foi mais um trabalho na Bahia. Faltando ainda 2 dias para o final do feriado aproveitamos um dia inteiro para topografamos mais 2 grutas na região. Ambas muito diferentes uma da outra, a primeira delas um enorme salão escondido no meio de uma plantação de cizal e uma segunda a qual acessamos através de um pequeno abismo, mas estas são histórias para outras postagens.