quinta-feira, 8 de outubro de 2009

E as surpresas continuam no RN... continuam... continuam..

Texto: Daniel Menin
Fotos: Daniel Menin, Leda Zogbi Walter Cortez

A expectativa para esta viagem era enorme. O amplo conduto deixado em aberto em uma das viagens anteriores e o insucesso da última investida faziam deste final de semana especial. A época de chuvas havia passado e o nível da água no sifão já estava baixo, o que foi confirmado pelo próprio CECAV em uma averiguação prévia. As abelhas que nos atrapalharam nas outras viagens também já não eram um problema pois haviam sido retiradas por moradores locais. Sem estas barreiras, certamente desvendaríamos a tão esperada continuação da caverna.

Os preparativos ocorreram milimetricamente como planejávamos. Ou quase. A Leda chegou cedo em Fortaleza na Sexta-feira, e cedo também tomamos nosso rumo à Mossoró. Apesar da péssima condição da estrada chegamos cedo em em nosso destino (antes das 22hs) e resolvemos seguir direto para Felipe Guerra onde dormiríamos na pousada de sempre. Dormiríamos...

Acontece que a pousada estava lotada por conta de festividades locais. Paradoxalmente por sorte, havíamos errado o caminho e por conta disso realizado uma grande volta por uma estrada mais longa, mas passando em frente a uma pousada bacana. A pousada ficava cerca de 20km de Felipe Guerra, no sentido contrário do caminho correto... Voltamos e nos instalamos nesta segunda opção.

Dia seguinte encontramos com nossos companheiros do CECAV e seguirmos direto para a caverna. Mais uma vez, bem intensionados, tentamos encontrar pontos para spits e mais uma vez resolvemos descer com ancoragens naturais. Os cuidados para posicionar o nó da descida mais alto que das outras vezes e uma barriga na corda na ancoragem ajudaram a entrada e saida do abismo serem menos penosos.

A descida foi rápida. É verdade que todos estavam mais treinados do que das outras vezes. Uma vez no conduto principal, nos desequipamos e seguimos entusiasmados para as continuações. Em menos de 1 hora chegamos no ponto final da topo anterior. Tinhamos a nossa frente realmente um belo file em se tratando de caverna. Visadas de 20, 30, 35m. Nenhuma pegada. Melhor que isso somente se a temperatura da caverna fosse mais amena. Acontece que o calor interno é fortíssimo (em média 32graus) além de muito humido e sem nenhum sinal de circulação de ar. Tinhamos que nos mover com calma e beber muita água para repor o que perdíamos.


Em poucos minutos já estávamos enxarcados e exaustos. As gotas de suor misturadas com terra pingavam na folha de croquis gerando uma irritante lama em cima do desenho.

E assim topografamos o dia todo cerca de 450m de belos condutos. Algumas tiradas retas, algumas leves curvas e áreas bem ornamentadas. Destaque para alguns setores repletos de ossos bem calcificados e alguns bem grandes, possivelmente de megafauna.


Mas não foi neste dia que chegaríamos no final da caverna. Resolvemos parar a alguns metros de uma curva. Caminhei até a curva apenas para confirmar a continuidade da caverna naquele mesmo padrão e deixamos para prosseguir a topo no dia seguinte. Nos acompanhou à essa empretada o Walter, companheiro de Vôo livre e muiti-atleta, com boas noções de vertical e iniciando-se na espeleologia.

No dia seguinte nossa equipe estava mais reduzida. O próprio Walter, com a empolgação de sua primeira caverna, acabou sobrecarregando seus joelhos em passagens apertadas no dia anterior o que os fez amanhecer inchados... melhor não arriscar.

Como haviamos deixado a caverna equipada, nossa descida no Domingo foi ainda mais rápida. Em pouco tempo estávamos nos limites do dia anterior e dando prosseguimento à topografia. A caverna continuava sem nenhuma dificuldade ou obstáculo. Mais visadas enormes intercalando partes ornamentadas e verdadeiros condutos de metrô.


Após cerca de 300m a caverna começa a mudar sua morfologia. Os condutos ficam mais volumosos, com grandes blocos no solo e teto bem mais alto. Em um determinado ponto encontramos uma piscina, ou melhor, uma pequena poça d’agua, o suficiente para molharmos nossas mãos e levar um pouco de água ao rosto e à cabeça. Um grande alivio diante daquele calor insuportável. E continua…


Topografamos até um ponto onde seria preciso escalar grandes blocos para prosseguir. Resolvemos fixar uma base e pararmos a topo neste ponto. Além dos blocos, não se via uma continuação óbvia, parecia estarmos próximos ao fim. Resolvi atravessar o desmoronamento e averiguar se a gruta terminaria ali ou se haveria novamente alguma continuação. Após os blocos a caverna fazia mais uma curva à esqueda. Ao chegar na curva iluminei o conduto com a força máxima da lanterna e o que vi à frente foi novamente o vazio inexplorado. Amplos condutos ainda nos aguardam à frente. Neste segundo dia havíamos topografado 490m somando quase 1000m em todo final de semana. Praticamente dobramos o tamanho da caverna o que estava muito além de nossas expectativas.

Georeferenciando o mapa em imagem de satélite observamos que não estamos muito longe do rio Apodi.

O que nos aguarda da próxima vez? Uma saída próxima ao rio Apodi? Acho improvavel visto o calor e a falta de circulação de ar... Uma passagem subersa (sifão) uindo a caverna ao rio poderia ser uma boa especulação. Para saber ao certo teremos que aguardar e nos preparar para a próxima investida.

A única certeza que temos hoje é de que inicia-se aqui uma nova fase de trabalhos nesta caverna: o vertical de sua entrada, o calor intenso em seu interior, o tempo de deslocamento até o ponto de trabalho entre outros importantes fatores representam riscos a mais e exigem toda uma logística de equipemantos e planejamento da expedição. Além desse planejamento, os espeleologos envolvidos deverão ter uma preparação física e principalmete psicológica para encarar a encrenca. Nada mais natural quando se trata da mais pura espeleologia!

Até as próximas!

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