sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Fotos de um Brasil desconhecido


Saiu na edição 26 de jun/jul 2009 da revista Photo Magazine uma matéria do nosso amigo de cavernadas Alexandre "Iscoti" Camargo sobre fotografia em cavernas.

Relata as dificuldades e recompensas da pouco conhecida fotografia das incríveis maravilhas do subterrâneo.

Parabéns Iscotão.

Matéria na Revista go Outside


Saiu em julho deste ano uma matéria muito interessante na revista go Outside, sobre os riscos em algumas atividades e como é a convivência com o perigo.

Fui convidado para falar sobre espeleologia, quais os riscos e prazeres nas explorações e estudos das cavernas. Relatei um incidente há alguns anos em que ficamos presos numa caverna durante uma enchente após a inundação da galeria do rio, nosso caminho para a saída.

Agradeço a todo pessoal da redação e em especial ao repórter Mario Mele, ao fotógrafo e escalador Marcio Bruno pela minha foto e ao Iscoti pelas fotos das cavernas.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Enfim, a conclusão da topografia na Caverna do Trapiá, RN

Texto: Daniel Menin
Fotos: Daniel Menin, Leda Zogbi
Mapa: Leda Zogbi

Neste final de semana passado, estivemos mais uma vez no RN para, junto com a equipe do Cecav-RN, para continuar os trabalhos de exploração e topografia da caverna do Trapiá. A ultima viagem havia sido inesquecível: topografamos mais de 900 m de galerias e acabamos interrompendo os trabalhos apenas pela falta de tempo e cansaço. Tudo isto em amplos condutos sem nenhum sinal de afunilamento ou término da caverna.

Nossas expectativas eram grandes para esta próxima viagem, mas tinhamos um certo receio se a caverna realmente se estenderia por muito mais do que já havíamos conhecido, pois ao plotar a topografia numa imagem de satélite, observamos que o termino da topografia da caverna estava há cerca de 500 m de distância em linha reta do Rio Apodi, somente. Outro indício de que não encontraríamos uma outra saída da caverna era a falta de circulação do ar interno. Por estes motivos, eu já estava me preparando para não encontrar grandes continuações.

Como nas outras viagens, decidimos ir de Fortaleza para Mossoró na Sexta-feira à noite, de jipe. O combinado era pegar a Leda e o Walter no aeroporto às 18h30 e de lá seguir direto para Mossoró. Iniciamos a viagem lá pelas 19h30, e logo após percorrer alguns km de estrada fomos surpreendidos com um desconfortável barulho embaixo do carro. Começamos uma busca a algum mecânico de plantão. Pára em um posto de gasolina, pergunta em outro, entra na cidade mais próxima, faz retorno, vai pra outra cidade, pára em outro posto, discute com palpiteiros, mais um posto de gasolina e acabamos resolvendo retornar à Fortaleza. Durante esse percurso de volta à capital, achamos melhor desconsiderar a viagem de Jipe e alugar um carro para resolver de vez a encrenca. Após todo um “tour” pelo anel viário de Fortaleza, voltamos ao aeroporto e alugamos um econômico Palio 1000, o que acabou sendo muito melhor devido à economia e conforto da viagem. Era esta alternativa ou correr um sério risco de ficarmos na estrada, em um caminho deserto, com estradas em péssimo estado de conservação e relativamente perigosas (trecho Fortaleza-Mossoró).

Chagamos tarde em Mossoró, mas inteiros o suficiente para continuar até Felipe Guerra. Chegamos na pousada lá pelas 2hs da manhã. Outro custo foi conseguir acordar a D. Zila, dona da pousada, que tem um sono pesadíssimo, para descobrirmos onde era os nossos quartos...

Não dormimos muito. Logo de manhã (5hs) uma galera insistia em gritar pela pousada acordando todos os hóspedes que ainda tentavam dormir. Levantamos às 8hs e como das outras vezes, chegamos na caverna lá pelas 10hs da manhã. Rapidamente ancoramos a corda, e nem tão rapidamente seguimos para o ponto final da última topografia. O calor era extremo, a dificuldade de se locomover e a sensação de pouco oxigênio, apesar de serem barreiras já conhecidas, eram sempre bastante incômodas. Segui na frente, junto com o Diego e o Wilson, e pudemos fazer algumas fotografias enquanto aguardávamos o resto da equipe. Logo após a passagem do “Paraíso do Chico”, começa uma série de longos condutos. Avenidas com belas formações, sóis, discos voadores, conduto estelar, observatório...


Também paramos para fotografar o conduto “mudamorfo”, onde a caverna muda seu aspecto físico, ficando com teto muito mais alto e blocos desmoronados no conduto. Apesar de estarmos no inicio da atividade o calor já incomodava e a paciência para as fotos era pequena.

Cerca de 2hs após entrarmos na gruta, estávamos no ponto final da topografia da viagem anterior. Dali em diante, cada metro seria novo no mapa. Todos chegamos bastante cansados e ofegantes, mas após alguns minutos de descanso, fomos nos recuperando.


Resolvemos parar para comer e descansar antes de iniciar qualquer atividade de topografia. Diante do calor extremo e das dificuldades de respiração mesmo após vários minutos de repouso, parte da equipe achou melhor não continuar adiante, mas tomar o caminho de volta. Claramente não se tratava de falta de condicionamento físico, mas sim de uma combinação entre adaptabilidade ao ambiente subterrâneo, alta temperatura e baixa circulação de ar. Cansaço físico misturado a fatores psicológicos, que podem gerar respostas fisiológica inesperadas... Antes de entrarmos, o Walter propôs uma analise interessante para uma próxima investida: medir as respostas fisiológicas dos integrantes da equipe (batimentos cardíacos, temperatura, pressão) para mapear, mesmo que de forma superficial, as respostas do corpo humano diante desta condição extrema de calor. Nesta oportunidade as medidas não se fizeram necessárias para confirmar, na prática, que a situação na caverna é realmente extrema...
Existe potencial de outras cavernas grandes na região, porém, com restrições, devido às características das lentes de calcário, aparentemente rasas e horizontais e em formas de lajedos. O CECAV-RN, apesar de suas limitações de estrutura, vem realizando um ótimo trabalho de prospecção e identificação das cavernas na região, catalogando, mapeando e estabelecendo as áreas de proteção no entorno das grutas.
A parte mais difícil da topografia, nos metros que se seguiam, era a transposição de grandes blocos abatidos e cobertos de lama, que tinhamos que escalar ou passar em fendas estreitas entre blocos. Nada muito técnico, mas qualquer acidente por menor que fosse poderia representar um problema sério.


Uma vez ultrapassadas essas barreiras, a caverna voltou a apresentar a sua morfologia predominante. Grande conduto serpenteando, com caminho de rio seco, teto alto e solo de areia. 
Mais algumas curvas e chegamos novamente a um ponto de subida na lama. Achamos uma escalada mais fácil pela lateral e acessamos um patamar a alguns metros do solo, porém tínhamos que descer do outro lado. Desta vez a descida era mais complicada: apenas uma estreita passagem entre um grande bloco e a parede da caverna, com afiadas pontas dificultando os apoios e rasgando o macacão de quem se atrevesse. E foi assim que deixei boa parte da minha camiseta rasgada na rocha. Antes que os outros passassem pelo mesmo aperto, resolvi dar uma corrida mais à frente para averiguar a continuidade da gruta. O conduto se estreitou um pouco, mas logo depois abriu novamente. A quantidade de blocos no solo indicava um desmoronamento à frente. Mais alguns metros e me deparei com a obstrução completa do conduto por muitos blocos e lama. Entrei em uma passagem mais evidente, rastejando entre os blocos. Aperta mais um pouco e me encontrei em meio a um quebra-corpo bastante estreito e instável. Resolvi retornar. Seria sim possível forçar alguma passagem, porém nas condições de cansaço, sem nenhuma circulação de ar e baixas expectativas de continuidade resolvi não correr mais riscos. Outra evidência do final da caverna era a quantidade de materiais levados pela água e depositados naquele ponto como “efeito peneira”. Era o suposto final da caverna e certamente o fim do nosso mapeamento.
Voltei até a Leda e o Diego, que decidiu não descer pela passagem. A Leda desceu, e mapeamos juntos este ultimo trecho da caverna.
A volta também foi cansativa. A cada parada bebíamos muita água e derramávamos no rosto o excesso não consumido (um indescritível alívio!). Como das outras vezes, tínhamos deixado algumas garrafas cheias d’água ao longo do caminho, o que nos ajudou bastante na volta.


A Caverna do Trapiá, com este mapeamento atinge seus 2.325m ultrapassando em desenvolvimento outras importantes cavernas do Nordeste (Furna Feia, Ubajara). 


Apesar dos amplos condutos e belas formações, desaconselhamos fortemente a visitação turística na gruta devido por diversos fatores, como o acesso perigoso (abismo de 18 m com abelhas), a elevada temperatura interna (cerca de 34 graus, muita umidade e sem nenhuma circulação de ar) e algumas passagens de rastejamento (teto-baixo, sifão, passagens entre blocos).

Por outro lado, a Trapiá é sem dúvida um importante registro espeleológico, não somente para o Rio Grande do Norte, mas para toda a região Nordeste.


Agradecemos especialmente ao Jocy, Diego, Wilson, Iatagan e Darcy, funcionários do CECAV que, além de terem oferecido esta parceria, nos convidando para mapear a gruta com eles, sempre nos deram todo o suporte, demonstrando alto nível de profissionalismo, parceria e amizade.
Valeu galera e até as próximas!


quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O "Lado B" da espeleologia...

Texto: Daniel Menin
Fotos: Augusto Auler, Daniel Menin, Leda Zogbi
Mapas: Leda Zogbi

Alta concentração de Guano (fezes de morcego), superpopulação de insetos (baratas, aranhas, amblipígeos entre outros bixos das profundezas), poluição (lixo e esgoto), ossos, animais em decomposição, fungos e gases fedorentos ou tudo isso junto disputando espaço em uma área confinada...  Estes lugares existem, estão embaixo da terra e, se você é um espeleólogo fuçador, com certeza vai se deparar com uma caverna desse tipo mais cedo ou mais tarde.
Algumas cavernas apresentam áreas simplesmente inimagináveis para pessoas comuns. Transpor estas áreas, explorá-las e estudá-las acaba se transformando em uma tarefa extremamente árdua. Isto pois condutos estreitos, abatimento de blocos, escalada ou qualquer outro obstáculo que exiga nosso contato com a superfície ou permanência contínua em seu interior torna-se bem mais difícil que de costume.



Geralmente estas cavernas acabam ficando marginalizadas, muitas vezes faltam mapas e registros e esta desconsideração acaba facilitando à supressão definitiva ou degradação completa das grutas.
Mas nem tudo nestas cavernas é tão infernal como pareçe. Em alguns casos, a riquesa biológica pode gerar ótimos trabalhos científicos, um verdadeiro prato cheio para os biólogos. Em outros, podemos ter relevantes descobertas naturais sobre comportamento animal ou de nossos antepassados. É possível encontrarmos cemiterios de animais ou de pessoas de outras épocas alocados dentro de cavernas. Existem casos ainda onde temos a oportunidade de recuperar grutas em fase de degradação por lixo ou poluição. Por estes e tantos outros motivos, documentar esse tipo de caverna, levantando sua existência e alarmando os interessados pelo tema torna-se extremamente importante.
O objetivo deste texto é, não somente descrever algumas das grutas mais “nojentas” em que estivemos, mas principalmente levantar este ponto, alarmando, difundindo e principalmente colocando em pauta de discussão esse “lado B” da espeleologia. Em alguns casos, trata-se de denuncias sobre cavernas em plena fase de destruição. Em outros, apenas por carater de divulgação.


Toca do Inferno – Maranhão (Fatores orgânicos)


http://www.youtube.com/watch?v=Gwk_4616f1g




Localizada no interior do Maranhão, a Toca do inferno possui um amplo salão na entrada e alguns condutos mais estreitos até se fechar completamente sem possibilidades de continuação. Não se trata de calcário, mas sim uma gruta em quartzito. No seu interior, centenas de milhares de baratas cobrem o chão, disputando espaço sobre uma camada de fezes de morcegos, repleta de materia orgânica. Quando chegamos à caverna, logo fomos surpreendidos por um cavalo em seu interior. Uma enorme população de morcegos habita o interior da gruta o que também proporciona belos espetáculos de revoada. A caverna é um prato cheio para biólogos e está longe de intervenções humana. Para acessá-la deve-se buscar um guia local e caminhar por algumas horas um uma área bastante selvagem. Vale muito a visita e mais ainda a pesquisa. Na imagem abaixo o nosso guia, um mateiro local que havíamos conhecido minutos antes em um bar, faz pose de foto para mostrar sua coragem frente às baratas e "perigos da gruta".




Furna do Pau-Ferro, Paripiranga, BA (Fatores orgânicos)
Eis um verdadeiro inferno subterrâneo. Imagine um chão repleto de ossos recentes de animais de todos os tamanhos. Imagine fezes de morcego por todos os lados, imagine enormes populações de insetos. Acrescente a isso uma elevadíssima temperatura e um forte odor de materia orgânica em decomposição. Essa é a Furna Pau-Ferro que se encontra no município de Paripiranga no estado da Bahia, em pleo sertão escaldante. Vale muito a visita pela riqueza da experiência, mas prepare seu estômago. Por algum motivo, dezenas de ossadas acumulam-se dentro da caverna. Provavelmente por animais que entram e não conseguem mais sair, por algum ritual de cemitério, ou mesmo por terem sido levados por predadores. Sua entrada é pequena, o espaço confinado e a temperatura nem merece comentários. Mais uma pérola a ser preservada e estudada por biólogos.






Poço sopro de Ubajara, Ceará. (Fatores orgânicos)
Estávamos em busca de um buraco, descrito de passagem em um livro antigo de historias da região. Segundo o relato, em certa época fazendeiros estavam cavando um poço para encontrar água quando encontraram um vão-livre subterrâneo. Desistiram do poço, mas deixaram o buraco aberto, de onde soprava um vento que viria da gruta de Ubajara, gruta grande em calcário a mais de 30km de distância. Procuramos pela fazenda e encontramos um senhor, agricultor local, que conhecia esse poço e nos levou até o local. Sim, o poço não muito fundo dava acesso a pequena sala de teto-baixo. Na verdade uma canga no próprio filito, sem nenhum calcareo exposto. De uma das laterais da salinha saía um conduto, de teto mais baixo ainda que parecia acessar outra sala, de onde vinha um barulho ensurdecedor de morcegos.  Teríamos explorado melhor alguma suposta continuação se esta não fosse completamente entupida de baratas e um odor simplemente insuportável. Não havia espaço para mais de uma pessoa na sala então nos alternávamos um a um.  Estávamos em 5 pessoas e todos desceram para testar a resistência e se certificar que deixaríamos para o futuro qualquer tentativa de exploração. Para descer usamos uma escadinha de aço e é claro que na vez da Leda, retiramos a escadinha a deixando por alguns segundos pagando penitência junto às baratas e morcegos e implorando pela escada.




Absimo Toca dos Porcos, Itaoca, Petar, SP (Poluição)
Descrevemos os trabalhos de mapeamento deste abismo neste mesmo Blog (Abismo TDP). Este é um típico caso onde moradores locais, por desconhecimento, poluem a caverna nas suas próprias atividades de dia-a-dia. Um pequeno córrego passa próximo à casa e entra para a caverna. Neste corrego são dispensados diversos materiais inutilizados da casa. Agrava-se a isso a criação de porcos bem próximo à entrada da gruta além do acumulo de lixo. Toda chuva carrega o lixo e a sugeira dos porcos para dentro da caverna. A gruta é gande e belíssima, mas o cheiro e a água poluída causam bastante desconforto em algumas partes da caverna. Durante os trabalhos de mapeamento  retiramos vários sacos de lixo da caverna e orientamos os moradores locais, mas um trabalho mais profundo de conscientização faz-se necessário e em carater de urgência.

Caverna A, Paripiranga, Bahia (Poluição)
Uma fenda em calcário que até apresentaria possibilidades de continuação se não estivesse completamente obstruída por lixo. Um verdadeiro depósito da população e (segundo moradores) da própria prefeitura. Tentamos entrar e explorar a caverna, mas foi impossível transpor os obstáculos. Na ocasião, fizemos uma denúncia aos órgaos competentes, mas não obtivemos mais respostas. Faz-se hoje necessário um acompanhamento de como evoluiu nossa denúncia assim como um trabalho de remoção do lixo e conscientização da população.



Caverna B, Paripiranga, Bahia (Poluição)
Uma estreita entrada nos leva até um pequeno lago subterrâneo. Mais um inferno, com animais mortos, muito lixo e uma água completamente poluída. Vários moradores acompanharam nosso trabalho confirmando que, com frequencia, jogam ali “tudo o que não presta mais”. Tentamos conscientizar a população da importância das águas subterrâneas para a saúde de todos. Que o lixo jogado alí poluiria também os poços de onde a população retira a água para beber. Paripiranga trata-se de uma região cárstica com muitas dolinas e pequenas entradas misturadas à ocupação humana em áreas semi-urbanas. É de extrema importância um trabalho imediato para proteger e preservar essas cavernas a curto, médio e longo prazo.


Toca da Raínha, Felipe Guerra, RN (Falta de oxigênio)

Com uma pequena entrada a Toca da Raínha seria uma caverna bastante parecida com as outras cavidades localizadas nos lagedos da região, não fosse seu calor insuportável e falta de oxigênio. Por estes 2 motivos é que seu trabalho de mapeamento e exploração continuam pendentes. Da última vez em que estivemos na caverna, o plano era averiguar a possível continuação em um abismo no fundo da mesma. Fui até a beira da descida, fiz uma segurança extra e desescalei parte da descida, mas tive que voltar pois não conseguia mais respirar. Estavamos em 3 pessoas (eu, Renata e Jocy) e todos resolveram abortar a missão e sair da caverna o mais rápido possível. Parecia estarmos disputando oxigênio com respirações cada vez mais ofegantes e difíceis.



Toca da Boa Vista (destaque biológico)

A Toca da Boa Vista, apenas pelo seu tamanho e morfologia já dispensa qualquer argumento de importância. Sua temperatura interior, no início muito quente, torna-se perfeitamente tolerável com o costume. O que me chamou a atenção foi que durante os trabalhos em um setor específico da caverna nos deparamos com condutos repletos de escorpiões. Estávamos a centenas de metros das entradas conhecidas, nosso objetivo era averiguar continuações e mapeas áreas em aberto no mapa em uma região ao norte da gruta. Ao chegarmos nessas áreas, descemos um desmoronamento e já entre os blocos encontramos muitos escorpiões amarelos. Na medida em que descíamos a quantidade de escorpiões aumentava. No fundo do desmoronamento acessava-se condutos de teto-baixo ainda mais cheios de escorpiões. Diante da instabilidade do local e da quantidade de escorpiões, resolvemos desistir do mapeamento, voltando sem terminar a empreitada.


Caverna do Urubu, Vale do Apodi, Felipe Guerra, RN (aspecto orgânico)

Um largo conduto nos leva até uma grande sala onde está abrigada uma gigantesca população de morcegos. Vale a visita e a experiência de sentir revoada dos milhares de morcegos passando entre as pessoas. No interior do salão, todo um bioma está organizado utilizando os morcegos como fonte de alimentação. Cuidado com os carrapatos de morcego!



Caverna Paraíso, Pará (aspecto biológico)

A Caverna Paraíso desde sua entrada já demonstra todo seu potencial biológico. Muitos insetos cavernícolas e em grandes populações habitam seu interior. Algumas áreas, em especial um setor após um quebra-corpo no extremo norte são repletos de morcegos e concentração de guano, além de abrigar enormes amblipígeos.


As cavernas acima foram listadas e descritas sem muito esforço de lembrança. Com certeza foram as experiências deste tipo que mais me marcaram nas jornadas dos últimos anos. Com um pouco mais de esforço e pesquisa certamente podemos levantar muitos outros exemplos. Um levantamento mais detalhado seguido de pesquisas científicas mais profundas poderia ser útil a toda comunidade espeleologica.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Bahia Express - relato.2, mais duas belas cavernas

Texto Daniel Menin
Fotos: Daniel Menin e Leda Zogbi
Mapa: Leda Zogbi

Na mesma viagem express à Bahia já descrita aqui no site, mapeamos mais 2 cavernas relevantes além da descrita no relatório anterior. Ambas estas cavernas consideravelmente importantes e bastante diferentes entre si.
Como tínhamos 4 dias de viagem e terminamos os trabalhos na primeira caverna já no segundo dia, ainda nos sobravam 2 dias inteiros para averiguar outras áreas ali próximo e, se possível, já irmos tomando o rumo de Salvador. Sendo assim, no terceiro dia fomos acompanhados de nosso guia até uma fazenda não muito distante onde tínhamos pistas da existência de cavernas.
Pergunta daqui, entra em estradas de terra ali, pergunta novamente, mais alguns kms de terra e não foi difícil encontrar a fazenda. Logo próximo à entrada, moradores locais trabalhavam em uma roça. Com um pouco de conversa conseguimos que alguns deles nos levassem até uma suposta entrada de gruta, na encosta de um morro não muito longe. O problema foi que para acessar a entrada da caverna, tínhamos que atravessar uma densa floresta de cizal. Para quem não conhece, o cizal compreende a arbustos de compridas folhas com afiadíssimos espinhos na ponta de cada folha. Isso sim foi bem mais difícil do que esperávamos.


As folhas saem de um núcleo da planta, próximo ao chão e se prolongam até a altura da cintura. Os espinhos apontam para todos os lados fechando qualquer possibilidade de caminhamento. Com facão e foice na mão fizemos várias tentativas de trilhas sem muito conseguir avançar. Em cada tentativa acumulávamos doloridos furos nos braços e pernas. Simplesmente desesperador ver o morrote tão perto (uns 50m adiante) e com acesso tão complicado.

Estávamos quase desistindo quando um dos moradores que nos acompanhava nos informou ter encontrado um caminho mais próximo em uma lateral da floresta de cizal. Seguimos por este caminho até conseguirmos chegar a poucos metros do morro. Bastou mais alguns minutos abrindo a trilha em meio aos espinhos e conseguimos chegar a uma grande entrada de caverna. Uma íngreme descida acessa um enorme salão, morro adentro. Descemos em silêncio, para não irritar uma imensa colméia no teto da caverna, próximo à entrada. O barulho das abelhas era assustador. Dentro da gruta, nenhuma pegada nos dava a sugestão de pouca visitação até o momento.

No fundo do salão uma enorme montanha de travertino, em forma de bolo de noiva, estava cortada ao meio pelo afundamento da metade da formação. Um corte transversal expondo centenas de camadas em uma excelente representação didatica da geologia e idade do espeleotema.


Um estreito caminho entre blocos, por baixo da formação sugeriria continuação, porém encontra-se totalmente fechada sedimentos.


Trata-se esta caverna um belo exemplo de gruta de fácil acesso, mas com pouquíssima intervenção humana. Faz-se extremamente necessário aplicar medidas de proteção em seu interior e entorno para evitar depredação e poluição da caverna por desconhecimento e desinformação por parte da população, em especial, fiéis religiosos.


No mesmo dia, ainda fomos a uma outra caverna alí próximo. Segundo os moradores, tratava-se de um buracão no chão, onde até então ninguém havia descido por medo e insegurança.

Logo ao chegar fiz uma rápida ancoragem natural em umas grandes raízes infiltradas na rocha e fui sozinho até o fundo da gruta.


Caminhei por alguns metros até acessar um salão maior de onde saiam 2 condutos paralelos. Caminhei mais um pouco, o suficiente para avaliar a necessidade do mapeamento e estimar o tempo de uma topografia.

Nem foi preciso andar por toda a caverna. Voltei com a notícia de que a mesma prometia um belo mapa e resolvemos iniciar os trabalhos naquele mesmo dia. Puxamos um pouco as atividades ficando até mais tarde dentro da caverna, mas valeu muito a pena. Saimos com o mapa pronto e belas fotografias.

Em um dos condutos encontramos estranhos objetos depositados acumuladamente no solo. Espécies de escamas, brancas, grandes, compactas. Não conseguimos identificar de que animal se tratava, ou se tinha realmente alguma origem biológica.

Na dúvida, cansados e com pouco tempo, deixamos exatamente da maneira em que encontramos e seguimos rumo para fora da caverna.

No momento da saída, ao desescalar a ancoragem de fora da gruta fui surpreendido, a poucos centímetros de meu rosto uma enorme aranha caranguejeira. A maior que eu já havia encontrado. Um verdadeiro presente após 3 dias de muito mapeamento. Pedimos licensa e desculpas pela invasão e ela respondeu com certo ar de desconfiança, mas não fugiu. Então todos saíram da caverna a deixando em paz para prosseguir sua jornada, ou melhor, noitada!


E as surpresas continuam no RN... continuam... continuam..

Texto: Daniel Menin
Fotos: Daniel Menin, Leda Zogbi Walter Cortez

A expectativa para esta viagem era enorme. O amplo conduto deixado em aberto em uma das viagens anteriores e o insucesso da última investida faziam deste final de semana especial. A época de chuvas havia passado e o nível da água no sifão já estava baixo, o que foi confirmado pelo próprio CECAV em uma averiguação prévia. As abelhas que nos atrapalharam nas outras viagens também já não eram um problema pois haviam sido retiradas por moradores locais. Sem estas barreiras, certamente desvendaríamos a tão esperada continuação da caverna.

Os preparativos ocorreram milimetricamente como planejávamos. Ou quase. A Leda chegou cedo em Fortaleza na Sexta-feira, e cedo também tomamos nosso rumo à Mossoró. Apesar da péssima condição da estrada chegamos cedo em em nosso destino (antes das 22hs) e resolvemos seguir direto para Felipe Guerra onde dormiríamos na pousada de sempre. Dormiríamos...

Acontece que a pousada estava lotada por conta de festividades locais. Paradoxalmente por sorte, havíamos errado o caminho e por conta disso realizado uma grande volta por uma estrada mais longa, mas passando em frente a uma pousada bacana. A pousada ficava cerca de 20km de Felipe Guerra, no sentido contrário do caminho correto... Voltamos e nos instalamos nesta segunda opção.

Dia seguinte encontramos com nossos companheiros do CECAV e seguirmos direto para a caverna. Mais uma vez, bem intensionados, tentamos encontrar pontos para spits e mais uma vez resolvemos descer com ancoragens naturais. Os cuidados para posicionar o nó da descida mais alto que das outras vezes e uma barriga na corda na ancoragem ajudaram a entrada e saida do abismo serem menos penosos.

A descida foi rápida. É verdade que todos estavam mais treinados do que das outras vezes. Uma vez no conduto principal, nos desequipamos e seguimos entusiasmados para as continuações. Em menos de 1 hora chegamos no ponto final da topo anterior. Tinhamos a nossa frente realmente um belo file em se tratando de caverna. Visadas de 20, 30, 35m. Nenhuma pegada. Melhor que isso somente se a temperatura da caverna fosse mais amena. Acontece que o calor interno é fortíssimo (em média 32graus) além de muito humido e sem nenhum sinal de circulação de ar. Tinhamos que nos mover com calma e beber muita água para repor o que perdíamos.


Em poucos minutos já estávamos enxarcados e exaustos. As gotas de suor misturadas com terra pingavam na folha de croquis gerando uma irritante lama em cima do desenho.

E assim topografamos o dia todo cerca de 450m de belos condutos. Algumas tiradas retas, algumas leves curvas e áreas bem ornamentadas. Destaque para alguns setores repletos de ossos bem calcificados e alguns bem grandes, possivelmente de megafauna.


Mas não foi neste dia que chegaríamos no final da caverna. Resolvemos parar a alguns metros de uma curva. Caminhei até a curva apenas para confirmar a continuidade da caverna naquele mesmo padrão e deixamos para prosseguir a topo no dia seguinte. Nos acompanhou à essa empretada o Walter, companheiro de Vôo livre e muiti-atleta, com boas noções de vertical e iniciando-se na espeleologia.

No dia seguinte nossa equipe estava mais reduzida. O próprio Walter, com a empolgação de sua primeira caverna, acabou sobrecarregando seus joelhos em passagens apertadas no dia anterior o que os fez amanhecer inchados... melhor não arriscar.

Como haviamos deixado a caverna equipada, nossa descida no Domingo foi ainda mais rápida. Em pouco tempo estávamos nos limites do dia anterior e dando prosseguimento à topografia. A caverna continuava sem nenhuma dificuldade ou obstáculo. Mais visadas enormes intercalando partes ornamentadas e verdadeiros condutos de metrô.


Após cerca de 300m a caverna começa a mudar sua morfologia. Os condutos ficam mais volumosos, com grandes blocos no solo e teto bem mais alto. Em um determinado ponto encontramos uma piscina, ou melhor, uma pequena poça d’agua, o suficiente para molharmos nossas mãos e levar um pouco de água ao rosto e à cabeça. Um grande alivio diante daquele calor insuportável. E continua…


Topografamos até um ponto onde seria preciso escalar grandes blocos para prosseguir. Resolvemos fixar uma base e pararmos a topo neste ponto. Além dos blocos, não se via uma continuação óbvia, parecia estarmos próximos ao fim. Resolvi atravessar o desmoronamento e averiguar se a gruta terminaria ali ou se haveria novamente alguma continuação. Após os blocos a caverna fazia mais uma curva à esqueda. Ao chegar na curva iluminei o conduto com a força máxima da lanterna e o que vi à frente foi novamente o vazio inexplorado. Amplos condutos ainda nos aguardam à frente. Neste segundo dia havíamos topografado 490m somando quase 1000m em todo final de semana. Praticamente dobramos o tamanho da caverna o que estava muito além de nossas expectativas.

Georeferenciando o mapa em imagem de satélite observamos que não estamos muito longe do rio Apodi.

O que nos aguarda da próxima vez? Uma saída próxima ao rio Apodi? Acho improvavel visto o calor e a falta de circulação de ar... Uma passagem subersa (sifão) uindo a caverna ao rio poderia ser uma boa especulação. Para saber ao certo teremos que aguardar e nos preparar para a próxima investida.

A única certeza que temos hoje é de que inicia-se aqui uma nova fase de trabalhos nesta caverna: o vertical de sua entrada, o calor intenso em seu interior, o tempo de deslocamento até o ponto de trabalho entre outros importantes fatores representam riscos a mais e exigem toda uma logística de equipemantos e planejamento da expedição. Além desse planejamento, os espeleologos envolvidos deverão ter uma preparação física e principalmete psicológica para encarar a encrenca. Nada mais natural quando se trata da mais pura espeleologia!

Até as próximas!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Bahia Express - relato.1

Abril de 2009
Texto Daniel Menin / Fotos: Daniel Menin e Leda Zogbi / Mapa: Leda Zogbi

Tinhamos apenas 4 dias de viagem. Uma passagem de ida e volta à Salvador e 1 carro alugado. Nosso objetivo principal era sair de Salvador e ir até esta pequena cidade mapear a caverna visitada pela Leda há alguns meses anteriores. Não foi difícil nos convencer da viagem, bastou a Leda enviar a fotografia de um abismo no final de um conduto acompanhado de alguns comentários: “não pude ver direito mas parece que continua bastante... segundo os moradores locais ninguém ainda desceu...” pronto. Logo depois deste e-mail já estávamos marcando a data da viagem.
Tratava-se de um feriado na Quinta-feria, com ponte na Sexta. Chegamos em Salvador Quarta de noite. Nossa agenda estava corrida e com horários bem apertados, mas tivemos agilidade e na quinta mesmo já conseguimos ir até a caverna. Como muitas outras cavernas no Brasil, a gruta tem um apelo regional à religiosidade e sofre bastante as consequências da desinformação somada à fé humana. Uma bela entrada dá acesso a um grande salão onde foi construido um altar que estava repleto de oferendas. Velas, pedaços de roupa, retratos, dezenas de crucifixos, pernas postiças e muitos outros apetrechos se misturam à garrafas pet, latas, sacos plasticos e muito lixo. Difícil de separar o que ainda tem valor religioso do que foi efetivamente deixado como lixo dentro da pobre gruta.




Quanto mais adentramos à caverna menores são as consequências da visitação humana. Ainda bem! Mais adiante e após uma passagem lateral encontramos uma terceira sala, esta paralela à segunda e morfologicamente bastante similar. Teríamos que atravessá-la por um caminho lateral, margeando a sala pela parede a meia altura até chegar em um outro conduto que nos levaria até o abismo fotografado pela Leda na viagem anterior.
Estávamos acompanhados de um guia local e do prefeito da cidade. Além de nos acolher, o prefeito fez questão de nos acompanhar pessoalmente até o fundo da caverna para desvendar os misterios da gruta e daquele abismo.
Mas não seria neste dia que desceríamos o abismo. A ideia era somente avaliar a descida e voltar com a quantidade certa de equipamentos no dia seguinte. Aproveitamos então para iniciar a topografia voltando do abismo para a entrada da caverna.
No dia seguinte resolvemos iniciar a atividade descendo o menor abismo (próximo à entrada) antes de seguir para o abismo final. Corda ancorada naturalmente em uma grante estalagmitie e desci na frente sem problemas nenhum.

Havia bastante lixo na parte mais profunda da descida. É bem verdade que a caverna havia sido toda limpa para nossa chegada. Esta preparação foi feita pelo nosso guia assim que soube de nossa visita. Apesar dele ter feito um excelente trabalho no salão principal da gruta seria impossível de limpar também o lixo caido abismo abaixo. Vale lembrar também que quando estava limpando a caverna nosso guia foi surpreendido por alguns homens com foices e facões que, de forma não muito amigável, o convidaram a parar o trabalho e sair da caverna. Eles consideravam o ato de retirar o lixo da caverna um desrespeito aos fiéis.
Uma vez lá embaixo fui dar uma olhada na continuação da caverna enquanto o restante da equipa aguardava lá encima. Caminhei um pouco e tive a impressão de chegar na parte inferior do maior abismo, aquele no fundo da gruta que desceríamos depois. Seria ótimo pois evitaríamos este trabalho posteriormente. A Leda tbém desceu e juntos topografamos a parte inferior colocando uma base fixa bem visível para tentar uma ligação com o setor superior sem a necessidade de descer o maior abismo. E assim foi feito!
Foram 1 dia e meio trabalho na caverna para terminarmois a topografia e verificar todas as possibilidades de novas continuações. Um belo trabalho com direito também a belas fotografias e recomendações de preservação da caverna para o prefeito. Não é possível segurar de uma só vez toda a população religiosa, mas é sim possível minimizar os impactos desta visitação em massa adotando algumas simples ações como a colocação de latões de lixo no salão religioso e algumas placas de retenção do caminhamento interno na caverna.

Fora da caverna, alguns metros acima existe uma outra entrada que da acesso a uma caverninha vizinha. Também topografamos a gruta buscando possíveis conexões, mas confirmamos que se trata de uma cavidade independente encerrando nossas atividades nesta gruta em 2 dias de atividade.

Este foi mais um trabalho na Bahia. Faltando ainda 2 dias para o final do feriado aproveitamos um dia inteiro para topografamos mais 2 grutas na região. Ambas muito diferentes uma da outra, a primeira delas um enorme salão escondido no meio de uma plantação de cizal e uma segunda a qual acessamos através de um pequeno abismo, mas estas são histórias para outras postagens.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Passagem submersa, abelhas, falta de oxigênio...

Texto Daniel Menin - Mapa Leda Zogbi

No final de semana de 07 e 08/03 realizamos como combinado mais uma viagem ao RN para continuar os trabalhos de mapeamento em parceria com o CECAV.

Estávamos muito entusiasmados com as descobertas da última viagem e com a suposta ampla continuidade ainda inexplorada. Já fui me preparando psicologicamente durante toda a semana. Arrumei minha mochila com equipamentos, alimentos e iluminação extra pensando em uma incursão mais longa dentro da caverna.

No Sábado acordamos cedo e rumamos diretamente para entrada da caverna. Tudo indicava que seria uma grande exploração. Devido à umas abelhas na entrada do abismo decidimos usar os mesmos pontos de ancoragem como das outras vezes ao invés de batermos spits em outro ponto conforme planejado. A entrada da caverna é daquelas bem chatinhas. Literalmente um buraco no chão, passagem estreita sem nenhum apoio aos pés. O ponto de fixação da corda baixo faz com que o espeleólogo fique em posições difíceis ao entrar na cavidade. Se entrar já é chato muito mais irritante é sair. Pendurado a uma altura de cerca de 20m o espeleólogo tem que se espremer enquanto eleva-se na corda e projeta seu corpo para fora da caverna.

Tivemos que descer em silêncio pois o barulho das abelhas indicava forte atividade bem pertinho da entrada. A surpresa maior foi quando nos penduramos na corda, já na parte de dentro da caverna e demos de cara com elas construindo uma colméia, logo nos primeiros metros da descida. Neste momento, suspenso a 20m do fundo e após ter passado a sofrível entrada o caminho para baixo, apesar de mais longo, é claramente o mais rápido e seguro em caso de qualquer urgência…

Descemos rapidamente seguimos direto para o sifão da caverna. A esperança era de que ele, apesar das chuvas de alguns dias anteriores, estivesse seco o suficiente para possibilitar nossa passagem. Doce ilusão, o sifão estava cheio e a passagem submersa.

Forçamos um pouco, entrei na água algumas vezes. Mergulhei apalpando o fundo e o teto e…. nada!. Mergulhei de novo e fui sifão adentro agora de ré e… nada. Nem sinal de encontrar o outro lado. A água, já bastante turva não facilitava o trabalho. Era apenas uma pequena passagem, com teto baixo e dentro da água, mas arriscado demais para forcar uma passagem novamente mergulhando. Tentamos baixar o nível de água com as mochilas estanques, mas sem nenhum sucesso perceptível. Após cerca de 40 minutos “secando” a passagem observamos que nosso esforço era em vão. Resolvemos desistir e voltar no dia seguinte.

Deixamos o abismo equipado para o dia seguinte, mas desta vez não foi o sifão que impediu nossa entrada, mas sim as abelhas que estavam bem mais ativas. Fiquei alguns minutos próximo ao ponto de descida, na entrada da caverna para ver como elas reagiam na nossa presença e elas começaram a ficar mais agitadas, como se avisassem que desta vez seriam menos tolerantes… resolvemos não arriscar.

Ainda no Domingo tentamos iniciar o mapa de outra caverna na mesma região. A gruta da Raínha é conhecida pela sua beleza, mas também pelo sufocante calor em seu interior. Nosso plano era tentar descer um abismo no final da caverna e topografar do abismo para a entrada.

Mais uma vez nosso trabalho foi bloqueado e desta vez o oxigênio foi a barreira encontrada. Além de extremamente quente, quanto mais se avança caverna adentro mais difícil fica a respiração. Próximo ao abismo fica bastante perigoso arriscar uma descida em corda sem algum equipamento para auxiliar a respiração. Independente dos esforços físicos, estávamos sem ar, disputando oxigênio como se acabássemos de correr 100m rasos!

Mais uma vez resolvemos não arriscar. Passagem submersa, abelhas, falta de oxigênio... muitos eventos para um só final de semana. Melhor dividir estas barreiras em várias outras viagens futuras.

Este trabalho só está sendo possível devido à parceria entre o CECAV/RN e espeleólogos de diversos grupos do Brasil unidos através da lista Meandros.

Até as próximas!