terça-feira, 30 de abril de 2013

Ribeirãozinho III: explorando os condutos superiores


Não por acaso, a empolgação era grande. Há quase cinco meses havíamos descoberto uma promissora continuação da caverna Rireibãozinho III e desde então não pudermos retornar à caverna por conta das chuvas (veja postagens anteriores sobre Ribeirãozinho III). Desta vez, tudo ocorreu como planejado. O tempo estava ótimo e Sábado, dia 27 de Abril de 2013 ao meio-dia, estávamos na boca da caverna para o início da aventura.
Participaram da viagem 5 espeleólogos. Uma equipe formada por Roberto Brandi e Fábio Von Tein e eu (Daniel Menin), com a atribuição de explorar os condutos superiores. Uma segunda equipe foi formada por Iscoti, Claudete e Zé para atividades de coleta de bio, em outra caverna.

Entrando na gruta seguimos direto pela galeria do rio até a “prainha”, ponto onde deixamos a corda amarrada em um grande bloco, longe da água. Chequei antes dos companheiros e fui procurar na beira do rio meu blocante de pé (Pantin), que havia esquecido na última viagem. Quem sabe, por sorte ele não teria sido levado pela força da água nas enchentes de verão? Quando já estava prestes a desistir percebi algo refletindo a luz da lanterna metros abaixo, no fundo do rio. Ao me aproximar pude distinguir o Pantin preso nas pedras debaixo d'água. Estava surpreendentemente intacto apesar dos meses submerso!
A equipe era pequena e experiente e subir na corda transpondo os fracionamentos foi uma tarefa rápida. O Brandi e o Fábio subiram na frente e eu fui fechando o caminho, recolhendo a corda para descermos por outra alternativa mais fácil.

Minutos depois e estávamos todos reunidos no platô final da escalada. Ali encontrei minha bolsa com equipamentos de ancoragem, também deixada na viagem anterior. Agora não faltava mais nada e estávamos diante do momento mais aguardado da viagem: explorar as continuações da caverna e desvendar o mistério de encontrar uma conexão com a grande caverna Los 3 Amigos!

Antes de seguir pelo caminho mais óbvio, explorado parcialmente na viagem anterior, decidimos tentar outra alternativa: uma possibilidade entre blocos na lateral da parede do platô parecia nos levar a um salão ainda maior. Entramos em uma escalada fácil, mas apertada, tentando seguir um caminho mais próximo à encosta, com cuidado para não nos expormos ao vazio vertical do conduto do rio a dezenas de metros abaixo. Mais um pouco de aperto e chegamos a uma área ampla, onde pude ficar de pé e ver um vasto salão acima. Mais uma escalada entre blocos desmoronados e chegamos à grande sala.  Apesar do volume, as chances da caverna continuar por ali não eram das melhores. Devido a instabilidade do local não foi possível forçar passagem ou entrar nas fendas que poderiam nos levar a algum lugar. Rochas soltas e afiadas e teto com blocos cuidadosamente acomodados faziam do local um ambiente extremamente perigoso. Uma área com desmoronamentos recentes e constantes. Descendo uma fenda lateral, para acessar um salão menor e uma possível passagem desloquei uma grande pedra quase sendo carregado junto. Esgotadas as possibilidades claras de continuações, decidimos topografar o salão e retornar ao platô da escalada.

Enfim de retorno ao ponto inicial resolvemos seguir topografando pela continuação mais evidente da caverna. Após uma passagem estreita entre formações, por onde sopra um promissor vento, acessamos uma vasta sala. Talvez uma das áreas mais bonitas da caverna: um belíssimo altar, formado por uma sequência de travertinos e escorrimentos de calcita, ornamentado com duas colunas e uma série de cortinas. À direita, uma área com escorrimentos e estalagmites e estalactites sugeriria uma boa continuação da caverna em um conduto 30 graus inclinados para cima. À esquerda uma sucessão de cascatas de calcita brilhante formando um "chão de estrelas" sucedido por um vasto salão desmoronado. Agora sim a brincadeira estava ficando boa!

Decidimos mais uma vez deixar o melhor para depois e seguimos primeiro à esquerda, topografando o salão e em seu final uma instável subida de blocos. Após a subida, chegamos até uma área novamente apertada e instável. Esgotadas as possibilidades de continuação, resolvemos voltar e seguir pelo caminho mais promissor.

Retornamos ao altar e topografamos a subida à direita. Apesar do entusiasmo, a topografia não atendeu às expectativas e o conduto acabou entre blocos abatidos alguns metros acima. Agora havíamos encerrado todas as possibilidades claras de continuação. O vento, ora presente na passagem apertada, agora não era mais percebido  diminuindo ainda mais o entusiasmo. O cansaço também estava apertando e por volta das 19hs resolvemos dar por encerrada a topografia e estudar o melhor caminho para a voltarmos com segurança. Não seria desta vez que encontraríamos uma nova entrada para Los 3 Amigos.

Conforme planejado equipamos uma outra via de descida, agora recolhendo a corda na medida em que íamos descendo. Unimos a topografia do platô superior com o conduto do rio e iniciamos o penoso retorno à casa de pesquisa. A partir deste momento iniciou-se a sequência de alívios típica da região de Bulha D´água. Alívio por sair da caverna, alívio por cada subida vencida na trilha. Alívio por chegar na casa de pesquisa. Alívio por tomar banho, mesmo que gelado. Alívio por comer um baita macarrão cozinhado pela Claudete e, enfim alívio por entrar no saco de dormir e cair em um profundo e merecido sono de descanso. Encerra-se aqui mais um ciclo. Uma atividade de escalada subterrânea e exploração de novas galerias que levou quase um ano, 3 viagens e muito esforço. Que embora não tenha cumprido a expectativa de conectar a caverna Ribeirãozinho III com o Abismo Los 3 Amigos nos rendeu boas histórias, grandes aventuras e  muito divertimento. E assim os anos vão se passando e nós espeleólogos apaixonados pelo desafio e por aventura vamos somando experiência e construindo pouco a pouco um complexo e infinito quebra-cabeça subterrâneo.

Equipe feliz da vida antes da encrenca

Fábio praticando seu esporte predileto: caçamba-surf


Os últimos corajosos, partindo pra trilha
Fabio Von Tein na corda e Brandi no segundo patamar



Brandi à esquerda, no platô (final da escalada) e Fábio no meio do caminho


Artística
Passagem estreita e inclinada, mas que dá acesso as novas galerias


Área nova, cascatas de calcita brilhante ("chão-de-estrelas")



Área nova, subida à esquerda e calcitas à direita



Brandi equipando descida para recuperação de corda


Brandi iniciando descida


Brandi morrendo de medo!


Domingo de recuperação




quarta-feira, 3 de abril de 2013

Expedição Torrinha 2013

De volta à Bahia! E de volta à caverna de Torrinha!
Foram 3 dias intensos, de muita topografia e muitas horas subterrâneas. Teve direito a salas repletas de cristais. Teve direito a grandes salões desmoronados. Teve direito a centenas de metros de rastejamento. Teve direito a acampamento ao lado do belo paredão de calcário. Teve direito a topografia de madrugada. Teve direito a fartas refeições na casa do Eduardo. Teve direito a churrasco e macarrão típico suíço. Teve direito a formações de cabelo de anjo. Teve direito a grandes travertinos. Teve direito e céu super estrelado típico do sertão da Bahia. Teve direito a cerveja gelada mesmo em dia sem energia elétrica. Teve direito a show do Bulha Blues Brothers... enfim. Depois de mais de 10km de topografia, muito trabalho e muita diversão (sem separar um do outro) com certeza teremos direito a um belo mapa desta incrível caverna na Chapada Diamantina!