Não por acaso, a empolgação era
grande. Há quase cinco meses havíamos descoberto uma promissora
continuação da caverna Rireibãozinho III e desde então não pudermos retornar à
caverna por conta das chuvas (veja postagens anteriores sobre Ribeirãozinho
III). Desta vez, tudo ocorreu como planejado. O tempo estava ótimo e Sábado,
dia 27 de Abril de 2013 ao meio-dia, estávamos na boca da caverna para o início
da aventura.
Participaram da
viagem 5 espeleólogos. Uma equipe formada por Roberto Brandi e Fábio Von Tein e
eu (Daniel Menin), com a atribuição de explorar os condutos superiores. Uma
segunda equipe foi formada por Iscoti, Claudete e Zé para atividades de coleta
de bio, em outra caverna.
Entrando na gruta seguimos direto
pela galeria do rio até a “prainha”, ponto onde deixamos a corda amarrada em um
grande bloco, longe da água. Chequei antes dos companheiros e fui procurar na
beira do rio meu blocante de pé (Pantin), que havia esquecido na última viagem.
Quem sabe, por sorte ele não teria sido levado pela força da água nas enchentes
de verão? Quando já estava prestes a desistir percebi algo refletindo a luz da
lanterna metros abaixo, no fundo do rio. Ao
me aproximar pude distinguir o Pantin preso nas pedras debaixo d'água. Estava surpreendentemente intacto
apesar dos meses submerso!
A equipe era pequena e experiente
e subir na corda transpondo os fracionamentos foi uma tarefa rápida. O Brandi e
o Fábio subiram na frente e eu fui fechando o caminho, recolhendo a corda para
descermos por outra alternativa mais fácil.
Minutos depois e estávamos todos
reunidos no platô final da escalada. Ali encontrei minha bolsa com equipamentos
de ancoragem, também deixada na viagem anterior. Agora não faltava mais nada e
estávamos diante do momento mais aguardado da viagem: explorar as continuações
da caverna e desvendar o mistério de encontrar uma conexão com a grande caverna
Los 3 Amigos!
Antes de seguir pelo caminho mais
óbvio, explorado parcialmente na viagem anterior, decidimos tentar outra
alternativa: uma possibilidade entre blocos na lateral da parede do platô
parecia nos levar a um salão ainda maior. Entramos em uma escalada fácil,
mas apertada, tentando seguir um caminho mais próximo à encosta, com cuidado
para não nos expormos ao vazio vertical do conduto do rio a dezenas de metros
abaixo. Mais um pouco de aperto e chegamos a uma área ampla, onde pude ficar de
pé e ver um vasto salão acima. Mais uma escalada entre blocos desmoronados e
chegamos à grande sala. Apesar do volume, as chances da caverna continuar
por ali não eram das melhores. Devido a instabilidade do local não foi possível
forçar passagem ou entrar nas fendas que poderiam nos levar a algum lugar.
Rochas soltas e afiadas e teto com blocos cuidadosamente acomodados faziam do
local um ambiente extremamente perigoso. Uma área com desmoronamentos recentes
e constantes. Descendo uma fenda lateral, para acessar um salão menor e uma
possível passagem desloquei uma grande pedra quase sendo carregado junto.
Esgotadas as possibilidades claras de continuações, decidimos topografar o
salão e retornar ao platô da escalada.
Enfim de retorno ao
ponto inicial resolvemos seguir topografando pela continuação mais evidente da
caverna. Após uma passagem estreita entre formações, por onde sopra um
promissor vento, acessamos uma vasta sala. Talvez uma das áreas mais bonitas da
caverna: um belíssimo altar, formado por uma sequência de travertinos e
escorrimentos de calcita, ornamentado com duas colunas e uma série de cortinas.
À direita, uma área com escorrimentos e estalagmites e estalactites sugeriria
uma boa continuação da caverna em um conduto 30 graus inclinados para cima. À
esquerda uma sucessão de cascatas de calcita brilhante formando um "chão
de estrelas" sucedido por um vasto salão desmoronado. Agora sim a
brincadeira estava ficando boa!
Decidimos mais uma
vez deixar o melhor para depois e seguimos primeiro à esquerda, topografando o
salão e em seu final uma instável subida de blocos. Após a subida, chegamos até
uma área novamente apertada e instável. Esgotadas as possibilidades de
continuação, resolvemos voltar e seguir pelo caminho mais promissor.
Retornamos ao altar e
topografamos a subida à direita. Apesar do entusiasmo, a topografia não atendeu
às expectativas e o conduto acabou entre blocos abatidos alguns metros acima.
Agora havíamos encerrado todas as possibilidades claras de continuação. O
vento, ora presente na passagem apertada, agora não era
mais percebido diminuindo ainda mais o entusiasmo. O cansaço também
estava apertando e por volta das 19hs resolvemos dar por encerrada a
topografia e estudar o melhor caminho para a voltarmos com segurança. Não seria
desta vez que encontraríamos uma nova entrada para Los 3 Amigos.
Conforme planejado equipamos uma
outra via de descida, agora recolhendo a corda na medida em que íamos descendo.
Unimos a topografia do platô superior com o conduto do rio e iniciamos o penoso
retorno à casa de pesquisa. A partir deste momento iniciou-se a sequência de
alívios típica da região de Bulha D´água. Alívio por sair da caverna, alívio
por cada subida vencida na trilha. Alívio por chegar na casa de pesquisa.
Alívio por tomar banho, mesmo que gelado. Alívio por comer um baita macarrão
cozinhado pela Claudete e, enfim alívio por entrar no saco de dormir e cair em
um profundo e merecido sono de descanso. Encerra-se aqui mais um ciclo. Uma
atividade de escalada subterrânea e exploração de novas galerias que levou
quase um ano, 3 viagens e muito esforço. Que embora não tenha cumprido a
expectativa de conectar a caverna Ribeirãozinho III com o Abismo Los 3 Amigos
nos rendeu boas histórias, grandes aventuras e muito divertimento. E
assim os anos vão se passando e nós espeleólogos apaixonados pelo desafio e por
aventura vamos somando experiência e construindo pouco a pouco um complexo e
infinito quebra-cabeça subterrâneo.