Por Marcos Silverio:
Na última saída paramos a exploração no início de um lance vertical. Havíamos levado
pouca corda pois, além de ser domingo, a caverna não prometia muito. Mas começamos a nos animar com o potencial da caverninha.
Desta vez voltamos com mais corda e disposição. Até o ponto em que paramos desc- emos sem qualquer dificuldade dois pequenos lances após uma caminhada rápida. O único problema é a água do rio que passa por uma casa e onde animados porcos passam seu tempo. O cheiro não é dos mais agradáveis.
Arrumamos um bom lugar para a ancoragem, longe do chuveiro e a Karen se candidatou a descer. Primeiro achamos que ela estava ama- relando :), mas a corda já estava no fim e não entendíamos nada do que ela gritava lá de baixo. Qualquer coisa que precisava de mais corda, que não via o fundo etc. O Luis desceu em seguida e se juntou a ela num pequeno patamar. O César foi o próximo e logo depois eu.
Todos empoleirados no minúsculo patamar na fenda, vertical nos primeiros 10m e depois uma rampa escorregadia até o patamar a 12m do fundo. Com mais 15m de corda para o último lance até o fundo. O Luis e a Karen desceram e confirmaram o que temíamos. Continua! Uma fenda no contato prometia não terminar tão cedo.
Eu e o Cesar voltamos até o carro para buscar mais corda, trocamos as duas cordas na fenda pela maior, para deixar um lance direto e logo estávamos juntos no fundo.
Havia mais uns 60m de corda em 3 pedaços, uma delas semi rompida na descida, provavelmente devido a um atrito por conta da rampa. Cortei a corda e equipamos até o início do lance seguinte.
O César fez as ancoragens e desceu, uma rampa inclinada até a beirada de um grande garrafão. A imagem era linda, mais de 20m abaixo, um salão largo e muito alto. Já era 16h e resolvemos iniciar a topografia deste ponto já que o abismo continuava além desse salão e novamente estávamos sem corda.
A subida foi lenta e aborrecida, a longa corda na rampa nos fazia parecer um io-io e o frio começava a pegar. Mas logo encontra- mos o pessoal da outra equipe do lado de fora, com 2 sacos cheios de lixo tirado da caverna e animados após visitar um outro abismo próximo.
Quem sabe o que a caverna vai aprontar conosco na próxima...
Equipe: César, Karen, Leandro, Leda, Luis, Marcos e Regiane.
Por Daniel Menin – 1 mês depois…
A primeira coisa que fiz após ler o relato do Marcos e ver o croquis do abismo foi marcar minha ida à São Paulo. A ansiedade era grande e a oportunidade apareceu cerca de um mês depois quando eu, o Marcos e a Renata conseguimos conciliar nossas agendas e nos reunir para em um final de semana em Itaóca. Como o tempo era escasso, pretendíamos explorar o restante do abismo e sair da caverna com ao menos toda a parte vertical topografada. Tudo isso em um só dia de atividade subterrânea.
Chegamos em Apiaí no Sábado a noite e separamos o Domingo para nossa incursão na caverna. Viajamos com as mochilas de caverna já prontas e fizemos apenas uma revisão pela manhã, o que agilizou o processo. Cerca de 230m de corda, muitas fitas, batedor, proteções de corda, spits, mosquetões, chapeletas e alguns equipamentos de técnicas leves. Água, comida, primeiro socorros e outros materiais menores. Tudo isto dividido em 4 mochilas (imagine o peso que elas ficaram...).
O tempo estava ameno. Fresquinho, com uma garoa fina, mas nada que prejudicaria os trabalhos na caverna.
Entramos na gruta às 10hs da manhã. O Marcos foi na frente, encarregado pela equipagem. Fui logo atrás dando o apoio necessário e a Renata seguiu descendo por último. Queríamos fazer tudo relativamente rápido e voltar até umas 4hs da tarde para não ficar muito cansativa à estrada de volta para São Paulo.
Cerca de duas horas depois chegamos ao amplo salão onde a equipe anterior havia parado por falta de corda, à -81m de profundidade. A partir deste ponto eu e o Marcos alteramos as posições. Passei a descer primeiro, equipando a caverna ao mesmo tempo em que fazia o trabalho de ponta de trena na topografia. O Marcos fazia as anotações e o croquis e a Renata a leitura dos equipamentos. A trena a laser facilitou muito o trabalho de topografia vertical viabilizando a equipagem e mapeamento ao mesmo tempo, apesar da equipe reduzida.
Assim que cheguei no fundo deste salão, encontrei uma base deixada pelo Cesar na topografia anterior. Uma estaca fixada na argila sobre um bloco bem no centro da sala. Mais adiante, uma desescalada entre blocos acessava mais uma descida livre. Fiz a segurança em um grande bloco e me debrucei para iluminar lá embaixo. Mesmo a forte luz da lanterna não foi o suficiente para ver o fundo do abismo. Enxergava-se cerca de 20m abaixo e, entre às laterais de rocha e blocos, um vazio negro indicava a promissora continuidade da caverna. Um calmo e contínuo filete de água vinha de cima e acompanhava a parede em umas das laterais do salão, a água infiltrava-se entre os blocos e aparecia mais abaixo seguindo por outra lateral.
Batemos um spit para duplicar a ancoragem, fizemos um desvio para evitar contatos indesejados da corda com a rocha e seguimos descendo e topografando com tranquilidade. Apenas escutávamos o barulho calmo da água descendo nas ranhuras da rocha na lateral esquerda do conduto. Descíamos com os pés na parede inclinada. Uma espécie de "rampão"vertical.
Além da corda em que estávamos pendurados, eu ainda carregava na mochila mais duas cordas não muito longas e esperava que as mesmas fossem suficientes para chegarmos a algum conduto ou area horizontal da gruta. Sorte ou acaso, os próximos dois lances verticais compreenderam exatamente ao mesmo comprimento das cordas. Mesmo com alguns fracionamentos e desvios ao longo do caminho, no final destas duas descidas, não sobrou nem faltou sequer um metro de corda.
Ao descer o último lance vertical à vista me deparei com mais um amplo salão. Não tão grande como as salas anteriores, mas o suficiente para se caminhar confortavelmente de pé. Apesar do volume, agora as possibilidades de continuação já não eram tão claras. Enquanto a Renata e o Marcos topografavam esta última descida eu resolvi dar uma rápida olhada buscando por alguma continuação. Eu estava tentando passar por entre os blocos de um desmoronamento quando escutei o Marcos, ainda pendurado na corda alguns metros acima, perguntar se o nível de água estaria aumentando. Me virei até ele e sem muita analise apurada respondi: "Impressão sua!". Mais alguns segundos e o barulho da água evidentemente começou a aumentar. Saí do desmoronamento e fiquei em pé no meio do salão. Foi quando pude sentir uma corrente de ar mais forte, indício de que algo se movimentava dentro da caverna diferentemente de antes. Olhei para a lateral do salão e na parede junto à corda eu não via mais apenas o filete de água escorrendo como antes. No lugar havia muito mais água descendo a parede violentamente junto à muita espuma. Foi questão de segundos mesmo. A este ponto a topografia já havia sido interrompida e a Renata, assim como o Marcos, ambos completamente molhados, desciam direto para o salão. Nas laterais da sala haviam várias áreas secas e lugares para nos abrigar caso a água aumentasse ainda mais. Contando com essas áreas de escape decidimos seguir um pouco adiante com a topografia e terminar logo o trabalho. Monitorando a variação fluvial da caverna mapeamos todo salão e também o restante dos condutos. Chegamos até a forçar alguma passagem seca, conduto lateral com alguns moradores morcegos, mas sem nenhuma continuação evidente. Toda a água que descia na caverna se infiltrava entre os blocos de rocha em dois diferentes pontos apertados no fundo do abismo. Diante da situação, demos por encerradas as possibilidades de exploração e mapeamento assim como a busca por continuidades.
Almoçamos e esperamos mais um tempo para analisar novamente o comportamento da água. O nível parecia estável, bastante volumoso, mas havia parado de aumentar. Tínhamos duas opções: iniciar a subida enfrentando a água, o que tornaria a volta à superfície claramente mais penosa ou aguardar o nível baixar para então começar a subir. Cabe lembrar que não estávamos no verão, época de constantes e fortes chuvas. Portanto, fora da época das inundações frequentes não estávamos muito preparados para passar dias aguardando a caverna "secar" ou ficar horas à fio molhados. Nesta época do ano, claramente havíamos sido pegos de surpresa. Aguardamos mais um pouco. Não observamos nenhum sinal de diminuição do volume de água, mas também nenhum sinal de aumento, então optamos por enfrentar a aguaceira toda e iniciar a subida.
Logo nos primeiros metros de corda já estávamos encharcados. Qualquer esforço a se manter seco era em vão.
A Renata foi subindo na frente enquanto que eu e o Marco nos alternávamos na desequipagem da caverna. Em alguns pontos, tentar enxergar o caminho afrente ou acima era impossível então nos guiávamos pela própria corda, presos por nossos equipamentos. Os movimentos, mesmos nas áreas mais horizontais ou amplas, deveriam ser realizados com calma e lentamente para evitar choques com saliências pontudas e afiados lapiás ao longo do caminho. Entre nós, tentávamos manter algum contato auditivo ou visual para saber se o companheiro estava bem e seguindo seu caminho. A cada lance de corda que eu escutava o companheiro de cima gritar "Liiiiivre!” me vinha um alívio duplo: era a indicação de que a corda estava livre para minha subida e de que a situação lá encima estava sob controle. Quando seu grito tardava a vir ou quando era de alguma maneira desproporcional eu já sabia que a subida tinha sido mais difícil que o usual.
Alguns lances verticais acima e chegamos ao maior salão da caverna. Como eu era o último da equipe a subir, rapidamente desamarrei a corda da ancoragem, guardei os equipamentos na mochila e em um raro momento de descanso pude contemplar a Renata subindo pela corda por uma parede à minha frente. Apaguei minha luz para economizar energias e confesso que vê-la subir por uma lisa parede de cerca de 20m verticais à frente de uma imponente cachoeira era uma visão espetacular. Pensei em fazer algumas fotos, mas tentar alguma comunicação com a Renata com o infernal barulho da água ou parar a subida para fazer fotos seria algo totalmente fora de cogitação. Cena difícil de descrever e mais difícil ainda de fotografar.
Naquele momento eu lembrava de algumas histórias de enchentes em grutas verticais e algumas técnicas para nos proteger delas. Passando pela experiência na própria pele eu podia me certificar de uma coisa: a caverna que havíamos descido, ora seca e com boa visibilidade estava agora completamente desconfigurada. A condição de novos cursos d'água, de dificuldades na respiração devido à alta humidade e de falta de visibilidade nos expunha à um ambiente novo e bem mais desafiador. A situação se agravava bastante psicologicamente, sobre a incerteza de quanto tempo a vazão da água lá embaixo seria suficiente para evitar que a gruta ficasse completamente submersa.
Levantei com um determinado grito vindo da Renata informando que a corda estava livre para minha subida. Vi sua luz desaparecer em um conduto de onde saía muita água, há mais de 20m acima.
Graças à técnica "hors crue" onde equipamos uma descida com a corda fora de um possível novo curso em caso de enchente, esta maior subida não estava tão difícil pois mesmo sob a forte cachoeira a corda ainda se mantinha longe da água. Por outro lado, alguns outros lances, antes secos e simples, se tornaram difíceis subidas com água caindo fortemente no meio do caminho. Muitas vezes a água ocupava quase toda a área em torno da corda e não havia opções de sair debaixo dos violentos chuveiros gelados. Enquanto nos movimentávamos a temperatura era bastante suportável, mas a medida em que o tempo em que estávamos molhados se prolongava e que permanecíamos parados mesmo que por poucos segundos o frio tomava conta de nossos corpos. As mochilas, já carregadas de equipamentos, ficaram ainda mais pesadas encharcadas e muitas vezes cheias d’água. Na medida em que a atividade foi se prolongando, nossos organismos iam ficando mais cansados e a subida foi ficando mais penosa. Era como se existisse um cronômetro e estivéssemos correndo contra o tempo. Foi preciso bastante energia para subir os constantes garrafões diante destas condições.
Apesar de todas as dificuldades nos mantivemos o tempo todo tranquilos. A caverna, por suas formações já muito belas se tornara ainda mais contemplativa diante do poder da água varrendo seu caminho nas entranhas da terra e mergulhando nas profundezas. Esta beleza, somada à esportividade da situação e domínio da técnica nos dava certo conforto possibilitando controle da situação e calma apesar das mudanças no ambiente e dos momentos delicados.
Entre todo o percurso, sem dúvida umas das passagens mais difíceis foi a subida do rampão, pois a água vinha com bastante violência dificultando fixarmos nossos pés na parede e nos manter bem posicionados. O penúltimo lance da caverna, apesar de curto também foi penoso. Um fracionamento suspenso exigia muito esforço bem debaixo de uma forte cachoeira. Obstáculo muito difícil uma vez cansados e com frio. Subida que poderia ter sido bem mais fácil caso tivéssemos nos atentado a fazer uma equipagem evitando o caminho da água. Fica como aprendizado... mesmo para tempos fora da época das chuvas esta é uma boa prática a ser seguida.
Saímos da caverna às 19hs e a chuva havia parado. Segundo o morador local, logo após nossa entrada iniciou-se uma forte chuva que permaneceu incessante por quase todo o dia. Condição climática bastante atípica para esta época do ano. Logo ao chegar na pousada soubemos que nossos amigos já haviam ligado e demonstrado preocupação.
Fica este relato, como aprendizado de cautela e antecipação. Uma caverna, mesmo que aparentemente fácil ou simples pode se tornar um pesadelo em épocas de chuva e com uma equipe mais numerosa ou lenta. Pequenos problemas podem se tornar relevantes agravantes e causar graves acidentes por reação em cadeia.
Nos dias que se seguiram convivi com uma incômoda dor de cabeça, daquelas típicas de dias de ressaca. Fiz e refiz várias vezes o levantamento mental dos detalhes da atividade, buscando no fundo da memória cada minuto dentro da cavenra e anotando nossos erros e acertos. Após esta criteriosa análise acho que encontrei o principal causador desta dor de cabeça: desidratação!
Mapa: Leda Zogbi
Fotos do Mapa: Regiane Velozo, Luiz Rocha e Leda Zogbi.
"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"
Leonardo Da Vinci
terça-feira, 11 de novembro de 2008
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Ducano - Construção de equipamento para vencer lances verticais (1999)
Por: Dennys Corbo e Marcos Otavio Silverio
Escrito em junho de 1999.
Há anos pensávamos numa maneira de subir por aquele buraco no teto. Havia um grande escorrimento à margem do rio por onde podíamos subir e diminuir em mais de 2 metros os quase 6 metros totais a serem vencidos, mas a nova posição apenas servia para que percebessemos a continuação do conduto, localizado sobre o rio. Laçar alguma coisa ou escalar era impossível. Na ansiedade pensamos então em arrastar um tronco desde a parte externa da caverna para subir por ele. A idéia até que era boa mas evidentemente ela precisava ser melhorada.
Então nós e o Chico, que nos ajudou com idéias, solda e marreta, resolvemos fabricar um equipamento, com um cano mesmo, para subir. Ele precisava ser resistente e leve o bastante para podermos carregar e subir por ele. Depois de analisarmos as possibilidades em alguns depósitos de ferro-velho, compramos 2 canos galvanizados, do tipo utilizado em sustentação de placas de sinalização de ruas, com 3 metros cada e com roscas nas extremidades para uní-los.
Entretanto tínhamos de descobrir uma forma melhor para unir os canos pois uma batida na superfície de uma pedra danificaria a rosca irreversivelmente. Além disto a rosca fragiliza o tubo interno, que fica com parede menos espessa. A fragilidade fica quase que completamente corrigida quando se rosqueia a luva para emendar os tubos, mas os ˙últimos fios de rosca ficariam à mostra.
Foi então que decidimos utilizar um tubo com cerca de 40 cm, cujo diâmetro interno fosse ligeiramente maior que o diâmetro externo dos tubos a serem juntados. A junção seria feita com o auxílio de dois furos ortogonais (figura 1) e dois parafusos de aço 8,8 comuns na indústria automobilística. Este é o mesmo aço utilizado para a fixação de plaquetas em ancoragens.
Agora sim tínhamos a ”emenda perfeita”. Cortamos os tubos de 3 metros ao meio para que ficassem mais fáceis de serem carregados tanto na trilha (um por mochila) quanto nos condutos estreitos da parte interna da caverna. Furamos os tubos no arranjo desejado (um tubo dentro do outro) para garantirmos que os furos coincidissem e “voilá”. Tínhamos nas mãos 4 pedaços de 1,5 metros de cano que poderiam ser emendados fornecendo uma estrutura rígida com 6 metros de comprimento.
Para segurar cada pedaço do cano fizemos 2 furos próximos e passamos um pedaço de aço dobrado em "U", que foi soldado como alças conforme ilustra a figura 2. Estas alças seriam úteis para amarração na mochila e também dentro da caverna, evitando que a montagem escorregasse para os lados.
Para amarrar a corda ou escadinha na ponta do cano para a subida nós fizemos dois furos passando pelas duas paredes do cano e colocamos um pedaço de aço em forma de arco (fig 3). Apesar de estarem soldadas nós achamos melhor não confiar muito nestas alças. Assim nós passamos a corda por dentro da alça e por trás do cano (figura 4), assim a alça serviria mais para não deixar a corda correr e a solda seria menos tracionada.
No transporte do cano É interessante manter os parafusos nos furos do tubo mais largo e com as respectivas porcas, para não correr o risco de perdê-los, e levar sempre 2 chaves de boca.
Finalmente conseguimos atingir o tal buraco no teto (foto), aumentando o desenvolvimento da caverna em mais de 200 metros. Quanto à rigidez, nosso cano tem 6m e já entorta um pouco. Para grandes alturas seria necessária alguma modificação. Um agradecimento especial ao pessoal que apoiou a idéia e ajudou a carregar e a testar o equipamento. A propósito o salão se chama Ducano, em homenagem ao equipamento utilizado.
Escrito em junho de 1999.
Há anos pensávamos numa maneira de subir por aquele buraco no teto. Havia um grande escorrimento à margem do rio por onde podíamos subir e diminuir em mais de 2 metros os quase 6 metros totais a serem vencidos, mas a nova posição apenas servia para que percebessemos a continuação do conduto, localizado sobre o rio. Laçar alguma coisa ou escalar era impossível. Na ansiedade pensamos então em arrastar um tronco desde a parte externa da caverna para subir por ele. A idéia até que era boa mas evidentemente ela precisava ser melhorada.
Então nós e o Chico, que nos ajudou com idéias, solda e marreta, resolvemos fabricar um equipamento, com um cano mesmo, para subir. Ele precisava ser resistente e leve o bastante para podermos carregar e subir por ele. Depois de analisarmos as possibilidades em alguns depósitos de ferro-velho, compramos 2 canos galvanizados, do tipo utilizado em sustentação de placas de sinalização de ruas, com 3 metros cada e com roscas nas extremidades para uní-los.
Entretanto tínhamos de descobrir uma forma melhor para unir os canos pois uma batida na superfície de uma pedra danificaria a rosca irreversivelmente. Além disto a rosca fragiliza o tubo interno, que fica com parede menos espessa. A fragilidade fica quase que completamente corrigida quando se rosqueia a luva para emendar os tubos, mas os ˙últimos fios de rosca ficariam à mostra.
Foi então que decidimos utilizar um tubo com cerca de 40 cm, cujo diâmetro interno fosse ligeiramente maior que o diâmetro externo dos tubos a serem juntados. A junção seria feita com o auxílio de dois furos ortogonais (figura 1) e dois parafusos de aço 8,8 comuns na indústria automobilística. Este é o mesmo aço utilizado para a fixação de plaquetas em ancoragens.
Agora sim tínhamos a ”emenda perfeita”. Cortamos os tubos de 3 metros ao meio para que ficassem mais fáceis de serem carregados tanto na trilha (um por mochila) quanto nos condutos estreitos da parte interna da caverna. Furamos os tubos no arranjo desejado (um tubo dentro do outro) para garantirmos que os furos coincidissem e “voilá”. Tínhamos nas mãos 4 pedaços de 1,5 metros de cano que poderiam ser emendados fornecendo uma estrutura rígida com 6 metros de comprimento.
Para segurar cada pedaço do cano fizemos 2 furos próximos e passamos um pedaço de aço dobrado em "U", que foi soldado como alças conforme ilustra a figura 2. Estas alças seriam úteis para amarração na mochila e também dentro da caverna, evitando que a montagem escorregasse para os lados.
Para amarrar a corda ou escadinha na ponta do cano para a subida nós fizemos dois furos passando pelas duas paredes do cano e colocamos um pedaço de aço em forma de arco (fig 3). Apesar de estarem soldadas nós achamos melhor não confiar muito nestas alças. Assim nós passamos a corda por dentro da alça e por trás do cano (figura 4), assim a alça serviria mais para não deixar a corda correr e a solda seria menos tracionada.
No transporte do cano É interessante manter os parafusos nos furos do tubo mais largo e com as respectivas porcas, para não correr o risco de perdê-los, e levar sempre 2 chaves de boca.
Finalmente conseguimos atingir o tal buraco no teto (foto), aumentando o desenvolvimento da caverna em mais de 200 metros. Quanto à rigidez, nosso cano tem 6m e já entorta um pouco. Para grandes alturas seria necessária alguma modificação. Um agradecimento especial ao pessoal que apoiou a idéia e ajudou a carregar e a testar o equipamento. A propósito o salão se chama Ducano, em homenagem ao equipamento utilizado.
sábado, 8 de novembro de 2008
DESCOBERTA DO SIFÃO DO RALO - PROCAD II (Caverna do Diabo – 01.05.98)
Já eram mais de 20h quando nos separamos do grupo do Roberto / Beroaldo no Salão “Gigantes Caídos”. O Beroaldo ficou nos passando as informações necessárias para começarmos a topografia.
O objetivo inicial de topografar o Salão Philippe foi alterado devido ao avançado horário, precisaríamos de pelo menos 6h de topografia e contávamos com menos de 3h.
O Beroaldo nos deu as indicações de um salão superior, mas que também ficaria para uma próxima investida e do “Y” no nível do rio, que faríamos naquela noite.
Segundo ele uma das pernas do “Y” terminava num pequeno lago, pouco adiante. Decidimos começar a topo do final da galeria para o “Delta”.
Fomos caminhando até o final da galeria e nos arrastamos por um quebra-corpo, tendo o grande desmoronamento dos Gigantes Caídos a nossa direita. Chegamos a uma galeria pequena e com mais um lago. O lago continuava e tendia à esquerda saindo do eixo da galeria dos Gigantes Caídos.
A medida que avançávamos aumentavam as dimensões do lago. Passando por um teto baixo (40cm + ou -) chegamos ao maior salão de aproximadamente 20m de comprimento uns 7m de largura e 3 de altura (a partir da água) e uma profundidade maior que 2 metros (não fui até o fundo do salão pois nos parecia um sifão).
Não havia circulação de ar e a água nos pareceu parada também. Até uns 7 metros antes da parede final do salão há bastante areia no chão, mas a medida que vai se avançando ao final dele, o chão vai se inclinando de todos os lados para o centro (parecendo um ralo), o que nos causa a impressão de que ele quer nos puxar para si, e sem depósitos sedimentares (só pedra), ficando difícil de se manter em pé.
Tivemos a impressão de que o lago tem uma comunicação com outra galeria e que quando há uma inundação neste a água circula para o outro lado. Talvez valesse a pena uma exploração através de mergulho.
Percebemos a marca de inundações nas paredes, a água atinge facilmente o teto da galeria. Explorei uma pequena chaminé na entrada do lago mas não subi mais que 2 metros. O Chico deu uma olhada no lado do desmoronamento junto com o Renato, mas não avançou por entre os blocos. Ao todo a nova galeria deve acrescentar uns 50m à Caverna.
Começamos a topo do fundo do lago para o delta, como combinado anteriormente. Na 4ª visada demos uma olhada no relógio e já eram 22:30, estávamos em cima da hora para sairmos.
Por esse motivo abortamos a topografia, usamos o pouco tempo que tínhamos com a exploração da descoberta. Arrumamos nossas coisas e saímos correndo, já eram 23h. Havíamos combinado de voltar no dia seguinte, mas não conseguimos prosseguir com os trabalhos.
Equipe:
Francisco José Sarpa Lima - equipamentos
Renato Moreira Cavalcante – ponta de trena
Rosângela Rodrigues de Oliveira - anotações
Marcos Otavio Silverio - croquis
O objetivo inicial de topografar o Salão Philippe foi alterado devido ao avançado horário, precisaríamos de pelo menos 6h de topografia e contávamos com menos de 3h.
O Beroaldo nos deu as indicações de um salão superior, mas que também ficaria para uma próxima investida e do “Y” no nível do rio, que faríamos naquela noite.
Segundo ele uma das pernas do “Y” terminava num pequeno lago, pouco adiante. Decidimos começar a topo do final da galeria para o “Delta”.
Fomos caminhando até o final da galeria e nos arrastamos por um quebra-corpo, tendo o grande desmoronamento dos Gigantes Caídos a nossa direita. Chegamos a uma galeria pequena e com mais um lago. O lago continuava e tendia à esquerda saindo do eixo da galeria dos Gigantes Caídos.
A medida que avançávamos aumentavam as dimensões do lago. Passando por um teto baixo (40cm + ou -) chegamos ao maior salão de aproximadamente 20m de comprimento uns 7m de largura e 3 de altura (a partir da água) e uma profundidade maior que 2 metros (não fui até o fundo do salão pois nos parecia um sifão).
Não havia circulação de ar e a água nos pareceu parada também. Até uns 7 metros antes da parede final do salão há bastante areia no chão, mas a medida que vai se avançando ao final dele, o chão vai se inclinando de todos os lados para o centro (parecendo um ralo), o que nos causa a impressão de que ele quer nos puxar para si, e sem depósitos sedimentares (só pedra), ficando difícil de se manter em pé.
Tivemos a impressão de que o lago tem uma comunicação com outra galeria e que quando há uma inundação neste a água circula para o outro lado. Talvez valesse a pena uma exploração através de mergulho.
Percebemos a marca de inundações nas paredes, a água atinge facilmente o teto da galeria. Explorei uma pequena chaminé na entrada do lago mas não subi mais que 2 metros. O Chico deu uma olhada no lado do desmoronamento junto com o Renato, mas não avançou por entre os blocos. Ao todo a nova galeria deve acrescentar uns 50m à Caverna.
Começamos a topo do fundo do lago para o delta, como combinado anteriormente. Na 4ª visada demos uma olhada no relógio e já eram 22:30, estávamos em cima da hora para sairmos.
Por esse motivo abortamos a topografia, usamos o pouco tempo que tínhamos com a exploração da descoberta. Arrumamos nossas coisas e saímos correndo, já eram 23h. Havíamos combinado de voltar no dia seguinte, mas não conseguimos prosseguir com os trabalhos.
Equipe:
Francisco José Sarpa Lima - equipamentos
Renato Moreira Cavalcante – ponta de trena
Rosângela Rodrigues de Oliveira - anotações
Marcos Otavio Silverio - croquis
O SALÃO DEDITOS - PROCAD99 (01.05.99)
Estávamos voltando da topografia do salão das Pérolas Coloridas quando resolvemos dar uma olhada num escorrimento que o Beroaldo havia nos mostrado. Ele disse que ali poderia haver uma continuação.
O Roberto foi na frente, seguido pelo Dennys e por mim, subindo pelo escorregadio escorrimento. Ele subiu na lateral esquerda da galeria do rio próximo à parte turística. Uma pequena subida fácil num trecho inclinado e escorregadio, passando por um lance mais apertado e por baixo de um escorrimento. No fim da subida a uns 10m de altura há uma passagem estreita e alta que sai num patamar bem protegido, atrás de uma grande coluna. No sentido das Ostras podemos ver a galeria do rio, bem lá embaixo, do outro lado mais alguns escorrimentos e um indício de uma possível continuação.
Depois de uma rápida analisada resolvemos tentar. O pessoal da travessia encontrara conosco e o Roberto foi acompanhar a saída do pessoal junto com o Beroaldo. Eu sai em disparada atrás do Beroaldo que estava com a corda e se animou a voltar também. Lá em cima no patamar pudemos ver que havia um degrau bem acima de nós, subindo nas colunas atrás pudemos ver que havia uma continuação bem para o alto. Não perdemos tempo, ficamos revezando as tentativas de laçar umas estalagmites e uma laca lá em cima.
O Dennys finalmente conseguiu laçar, ajeitamos a corda e ancoramos uma ponta numa grande pedra, pela outra eu já subia animado com as possibilidades de uma descoberta. Eu resolvi dar uma olhada antes de equipar melhor a subida, o salão começa logo na lateral da galeria onde está o patamar, bem inclinado ele sobe muito e se apresenta bem ornamentado. Canudos pretos contrastam com outros brancos, e no chão vários repousam quebrados.
Logo no início da subida há uma outra passagem mais alta que aparentemente passa por cima da galeria do rio, mas que necessita de uma segurança maior para ser escalada. No outro lado lá em cima outra galeria de difícil acesso, pensamos em laçar uma mite mas seria muito difícil conseguirmos lançar uma corda há mais de 10m de altura. A esquerda existe uma páleo galeria bem horizontal que, quase na altura da parte turística, segue em direção a galeria do rio, encontrando-a numa cota bem elevada.
Voltando a subida eu coloquei outra corda amarrada a uma pedra para que o Dennys e o Beroaldo pudessem subir. Estimamos em mais de 150m o desenvolvimento desta galeria, e ainda falta explorar as duas subidas para as galerias mais altas. Ele apresenta vários espeleotemas se destacando os canudos pretos e os muito brancos. O chão é todo forrado deles. Há também algumas pequenas flores de calcita e escorrimentos.
É uma grande descoberta, não só pelas dimensões mas também por estar a apenas 15min da entrada turística. Em homenagem aos canudos pretos demos o nome de Deditos ao salão, deixamos lá uma corda para prosseguir com as explorações e com a topografia. Saímos cansados e já bem tarde, mas com sorrisos enormes nos rostos, valeu.
No Procad 2000 nós topografamos o salão Deditos e exploramos uma das paredes laterais, após uma escalada de 15m cheguei a um patamar e de lá eu consegui ver um grande salão se desenvolvendo sobre a galeria do rio no sentido da parte turística. Como estava sozinho lá em cima e depois de topografar o Deditos eu não arrisquei o último lance até o salão, o cansaço falou mais alto, ficou para a próxima.
O Roberto foi na frente, seguido pelo Dennys e por mim, subindo pelo escorregadio escorrimento. Ele subiu na lateral esquerda da galeria do rio próximo à parte turística. Uma pequena subida fácil num trecho inclinado e escorregadio, passando por um lance mais apertado e por baixo de um escorrimento. No fim da subida a uns 10m de altura há uma passagem estreita e alta que sai num patamar bem protegido, atrás de uma grande coluna. No sentido das Ostras podemos ver a galeria do rio, bem lá embaixo, do outro lado mais alguns escorrimentos e um indício de uma possível continuação.
Depois de uma rápida analisada resolvemos tentar. O pessoal da travessia encontrara conosco e o Roberto foi acompanhar a saída do pessoal junto com o Beroaldo. Eu sai em disparada atrás do Beroaldo que estava com a corda e se animou a voltar também. Lá em cima no patamar pudemos ver que havia um degrau bem acima de nós, subindo nas colunas atrás pudemos ver que havia uma continuação bem para o alto. Não perdemos tempo, ficamos revezando as tentativas de laçar umas estalagmites e uma laca lá em cima.
O Dennys finalmente conseguiu laçar, ajeitamos a corda e ancoramos uma ponta numa grande pedra, pela outra eu já subia animado com as possibilidades de uma descoberta. Eu resolvi dar uma olhada antes de equipar melhor a subida, o salão começa logo na lateral da galeria onde está o patamar, bem inclinado ele sobe muito e se apresenta bem ornamentado. Canudos pretos contrastam com outros brancos, e no chão vários repousam quebrados.
Logo no início da subida há uma outra passagem mais alta que aparentemente passa por cima da galeria do rio, mas que necessita de uma segurança maior para ser escalada. No outro lado lá em cima outra galeria de difícil acesso, pensamos em laçar uma mite mas seria muito difícil conseguirmos lançar uma corda há mais de 10m de altura. A esquerda existe uma páleo galeria bem horizontal que, quase na altura da parte turística, segue em direção a galeria do rio, encontrando-a numa cota bem elevada.
Voltando a subida eu coloquei outra corda amarrada a uma pedra para que o Dennys e o Beroaldo pudessem subir. Estimamos em mais de 150m o desenvolvimento desta galeria, e ainda falta explorar as duas subidas para as galerias mais altas. Ele apresenta vários espeleotemas se destacando os canudos pretos e os muito brancos. O chão é todo forrado deles. Há também algumas pequenas flores de calcita e escorrimentos.
É uma grande descoberta, não só pelas dimensões mas também por estar a apenas 15min da entrada turística. Em homenagem aos canudos pretos demos o nome de Deditos ao salão, deixamos lá uma corda para prosseguir com as explorações e com a topografia. Saímos cansados e já bem tarde, mas com sorrisos enormes nos rostos, valeu.
No Procad 2000 nós topografamos o salão Deditos e exploramos uma das paredes laterais, após uma escalada de 15m cheguei a um patamar e de lá eu consegui ver um grande salão se desenvolvendo sobre a galeria do rio no sentido da parte turística. Como estava sozinho lá em cima e depois de topografar o Deditos eu não arrisquei o último lance até o salão, o cansaço falou mais alto, ficou para a próxima.
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