27 de Agosto de 2018.
Escrevo
este relato ainda me recuperando da última incursão ao Abismo Los 3 Amigos.
O objetivo desta viagem era trabalhar no extremo Oeste da caverna, região mais próxima às cavernas João Dias e Ribeirãozinho II. Existiam pendências nas duas direções do conduto de rio encontrado na viagem anterior (montante e jusante). Uma delas voltava em direção a um grande salão fóssil, a sala do chuveirão. A outra consistia em uma escalada no sentido principal do desenvolvimento da caverna, em direção à Ribeirãozinho II. Entre estes dois extremos, alguns condutos superiores de fácil acesso haviam sido deixados para trás na viagem anterior e queríamos desta vez explorar.
Havíamos ainda como incumbência trocar as cordas entre as cotas -40 e -80m da entrada, pois estavam duras e enlameadas. Outra corda a ser trocada era a de descida entre o grande salão do voo livre e o conduto de rio, instalada em 2006 na ocasião da primeira descida.
Por conta destas trocas e de mais equipamentos de topografia, estávamos um pouco mais carregados do que de costume.
Prevíamos que a atividade seria longa. Por isto combinamos com o Zé de nos buscar de trator na trilha as 7h da manhã do domingo.
Sexta-feira dormimos em sua casa, depois de uma noite de muita chuva e fortes trovoadas. A logística de saída no Sábado de manhã foi rápida. Como a estrada de Buenos estava em boas condições, boa parte dela foi feita de trator e as 10h45 já estávamos descendo os primeiros lances de corda.
As trocas de corda na descida ocorreram sem problemas. A maior dificuldade foi abrir os mosquetões que com o tempo dentro da gruta apresentavam rosca muito dura. A boa desenvoltura de todos no vertical ajudou e logo estávamos fazendo um primeiro lanche na base do salão do voo livre. A corda do rio foi trocada sem problemas e um fracionamento instalado onde antes havia apenas um desvio.
As 14h da tarde nos encontrávamos todos reunidos no extremo Oeste da caverna, já separando as equipes de topografia. Uma parte, composta por Thomas (Vagalume), Ives e Adelino, seguiram à jusante do rio por um conduto amplo em direção à sala do chuveirão. A outra, composta por mim (Daniel), Rejeito, Bia e Diego seguimos em direção à montante onde, na viagem anterior, havíamos interrompido a topografia.
Após uma pequena escalada, acessamos um conduto fóssil contornando por cima o desmoronamento de onde o rio ressurgia. Nossa felicidade não durou muito tempo e logo acessamos uma área muito instável, com blocos e lama.
Após uma descida de corda entre blocos nos vimos de novo no desmoronamento. Com passagens estreitas entre blocos tanto na água quanto por cima, forçamos por cerca de duas horas alguma passagem. Uma leve corrente de ar, insetos e sedimentos (galhos) indicava que poderíamos estar perto de alguma saída, mas tivemos que desistir após muitas tentativas frustradas.
No retorno fizemos a topografia por um caminho superior conectando esta nova parte com o conduto fóssil do chuveiro. Resolvemos descansar em uma sala bastante confortável, próximo da descida para o rio e logo que paramos escutamos as vozes da outra voltando de sua topografia.
Após o almoço, a primeira equipe decidiu iniciar o longo caminho de volta enquanto nós faríamos algumas fotos do grande salão ali ao lado e verificaríamos alguma outra pendência no caminho de volta. E foi na sala do chuveiro que decidimos concluir uma escalada realizada em 2006 por mim e pelo Brandi no final da topografia daquela ocasião. Se tratava de uma íngreme subida próximo à parede direita da sala, se desenvolvendo bem em direção à caverna João Dias. Lembro na ocasião de termos subido e verificado uma continuidade, mas como estávamos cansados acabamos deixando a exploração para outra ocasião.
Desta vez tínhamos mais tempo e energia para continuar e eu havia separado esta pendência caso o conduto de rio não evoluísse. Enquanto a Bia descansava no meio da sala, eu, Rejeito e Diego rumamos por uma inclinada subida seguindo o rastro de 2006. Apesar da inclinação e impressionante desnível até a parte mais baixa da sala, o piso não estava escorregadio e conseguimos rapidamente vencer as partes mais difíceis. Chegamos a condutos horizontais e extremamente ornamentados. Uma ampla sala com mites grandes e várias possibilidades de continuação. Deixamos algumas partes difíceis ou perigosas e seguimos pelos caminhos mais evidentes. Acessamos uma região muito frágil e belíssima. Canudos de 3 a 4m e helictites ornamentavam uma ampla área. Foi o auge do dia em termos de descobertas e explorações. Mapeamos por cerca de duas horas acessando no final mais uma grande sala de onde pudemos nos comunicar com a Bia mais de 50m abaixo, por um terraço. Foi um alívio uma vez que não havíamos levado mochila e nossas baterias principais estavam acabando.Uma vez terminada a topografia tomamos o caminho de volta ao salão do voo livre.
No retorno, verifiquei ainda pelo menos um ponto de acesso à grandes galerias fósseis pelo caminho. Escaladas que exigirão o auxílio de equipagem móvel ou artificial e uma logística exclusiva para esta exploração...
A volta foi lenta e cansativa e por volta das 2h da manhã nos juntamos à primeira equipe na "sala de jantar". Estava muito frio e mesmo com mantas térmicas, isolantes e velas para a criação de "pontos quentes", tivemos dificuldade de dormir ou descansar como prevíamos.
As 5h da manhã desistimos de dormir e iniciamos a difícil tarefa de nos recompor para a saída da caverna. Os últimos 40m verticais foram em meio a uma espécie de lamentação coletiva de cansaço e frio. Mesmo fora da caverna estava difícil de esperar. Enquanto o dia começava a clarear um vento soprava forte de dentro da caverna e uma névoa da manhã permeava as árvores na trilha.
Encontramos o Zè na última subida da trilha, um pouco antes de cruzar o Rio Pilões.
Depois de um banho quente, lá pelas 9h da manhã, desmaiei dentro do saco de dormir para alguns momentos de descanso antes de pegar a estrada de volta a SP.
Foram 20 horas de atividade dentro da caverna e cerca de 400m mapeados de novas galerias. Em breve deveremos ter o mapa contemplando estas partes e datas programadas para continuar a desvendar este gigante quebra-cabeça.
O objetivo desta viagem era trabalhar no extremo Oeste da caverna, região mais próxima às cavernas João Dias e Ribeirãozinho II. Existiam pendências nas duas direções do conduto de rio encontrado na viagem anterior (montante e jusante). Uma delas voltava em direção a um grande salão fóssil, a sala do chuveirão. A outra consistia em uma escalada no sentido principal do desenvolvimento da caverna, em direção à Ribeirãozinho II. Entre estes dois extremos, alguns condutos superiores de fácil acesso haviam sido deixados para trás na viagem anterior e queríamos desta vez explorar.
Havíamos ainda como incumbência trocar as cordas entre as cotas -40 e -80m da entrada, pois estavam duras e enlameadas. Outra corda a ser trocada era a de descida entre o grande salão do voo livre e o conduto de rio, instalada em 2006 na ocasião da primeira descida.
Por conta destas trocas e de mais equipamentos de topografia, estávamos um pouco mais carregados do que de costume.
Prevíamos que a atividade seria longa. Por isto combinamos com o Zé de nos buscar de trator na trilha as 7h da manhã do domingo.
Sexta-feira dormimos em sua casa, depois de uma noite de muita chuva e fortes trovoadas. A logística de saída no Sábado de manhã foi rápida. Como a estrada de Buenos estava em boas condições, boa parte dela foi feita de trator e as 10h45 já estávamos descendo os primeiros lances de corda.
As trocas de corda na descida ocorreram sem problemas. A maior dificuldade foi abrir os mosquetões que com o tempo dentro da gruta apresentavam rosca muito dura. A boa desenvoltura de todos no vertical ajudou e logo estávamos fazendo um primeiro lanche na base do salão do voo livre. A corda do rio foi trocada sem problemas e um fracionamento instalado onde antes havia apenas um desvio.
As 14h da tarde nos encontrávamos todos reunidos no extremo Oeste da caverna, já separando as equipes de topografia. Uma parte, composta por Thomas (Vagalume), Ives e Adelino, seguiram à jusante do rio por um conduto amplo em direção à sala do chuveirão. A outra, composta por mim (Daniel), Rejeito, Bia e Diego seguimos em direção à montante onde, na viagem anterior, havíamos interrompido a topografia.
Após uma pequena escalada, acessamos um conduto fóssil contornando por cima o desmoronamento de onde o rio ressurgia. Nossa felicidade não durou muito tempo e logo acessamos uma área muito instável, com blocos e lama.
Após uma descida de corda entre blocos nos vimos de novo no desmoronamento. Com passagens estreitas entre blocos tanto na água quanto por cima, forçamos por cerca de duas horas alguma passagem. Uma leve corrente de ar, insetos e sedimentos (galhos) indicava que poderíamos estar perto de alguma saída, mas tivemos que desistir após muitas tentativas frustradas.
No retorno fizemos a topografia por um caminho superior conectando esta nova parte com o conduto fóssil do chuveiro. Resolvemos descansar em uma sala bastante confortável, próximo da descida para o rio e logo que paramos escutamos as vozes da outra voltando de sua topografia.
Após o almoço, a primeira equipe decidiu iniciar o longo caminho de volta enquanto nós faríamos algumas fotos do grande salão ali ao lado e verificaríamos alguma outra pendência no caminho de volta. E foi na sala do chuveiro que decidimos concluir uma escalada realizada em 2006 por mim e pelo Brandi no final da topografia daquela ocasião. Se tratava de uma íngreme subida próximo à parede direita da sala, se desenvolvendo bem em direção à caverna João Dias. Lembro na ocasião de termos subido e verificado uma continuidade, mas como estávamos cansados acabamos deixando a exploração para outra ocasião.
Desta vez tínhamos mais tempo e energia para continuar e eu havia separado esta pendência caso o conduto de rio não evoluísse. Enquanto a Bia descansava no meio da sala, eu, Rejeito e Diego rumamos por uma inclinada subida seguindo o rastro de 2006. Apesar da inclinação e impressionante desnível até a parte mais baixa da sala, o piso não estava escorregadio e conseguimos rapidamente vencer as partes mais difíceis. Chegamos a condutos horizontais e extremamente ornamentados. Uma ampla sala com mites grandes e várias possibilidades de continuação. Deixamos algumas partes difíceis ou perigosas e seguimos pelos caminhos mais evidentes. Acessamos uma região muito frágil e belíssima. Canudos de 3 a 4m e helictites ornamentavam uma ampla área. Foi o auge do dia em termos de descobertas e explorações. Mapeamos por cerca de duas horas acessando no final mais uma grande sala de onde pudemos nos comunicar com a Bia mais de 50m abaixo, por um terraço. Foi um alívio uma vez que não havíamos levado mochila e nossas baterias principais estavam acabando.Uma vez terminada a topografia tomamos o caminho de volta ao salão do voo livre.
No retorno, verifiquei ainda pelo menos um ponto de acesso à grandes galerias fósseis pelo caminho. Escaladas que exigirão o auxílio de equipagem móvel ou artificial e uma logística exclusiva para esta exploração...
A volta foi lenta e cansativa e por volta das 2h da manhã nos juntamos à primeira equipe na "sala de jantar". Estava muito frio e mesmo com mantas térmicas, isolantes e velas para a criação de "pontos quentes", tivemos dificuldade de dormir ou descansar como prevíamos.
As 5h da manhã desistimos de dormir e iniciamos a difícil tarefa de nos recompor para a saída da caverna. Os últimos 40m verticais foram em meio a uma espécie de lamentação coletiva de cansaço e frio. Mesmo fora da caverna estava difícil de esperar. Enquanto o dia começava a clarear um vento soprava forte de dentro da caverna e uma névoa da manhã permeava as árvores na trilha.
Encontramos o Zè na última subida da trilha, um pouco antes de cruzar o Rio Pilões.
Depois de um banho quente, lá pelas 9h da manhã, desmaiei dentro do saco de dormir para alguns momentos de descanso antes de pegar a estrada de volta a SP.
Foram 20 horas de atividade dentro da caverna e cerca de 400m mapeados de novas galerias. Em breve deveremos ter o mapa contemplando estas partes e datas programadas para continuar a desvendar este gigante quebra-cabeça.
Equipe limpinha Sábado de manhã - Agosto 2018 Faltou o Ives que nos encontrou na trilha |
Reencontro das duas equipes após primeiro turno de topografias |
Reencontro das duas equipes após primeiro turno de topografias |
Salão do encontro, último grande salão no extremo Oeste da caverna. |
Chegada da equipe no trator, Domingo de manhã. Sujos, com frio, exaustos e felizes. (Adelino levantou só pra foto) |
À direita da imagem as linhas de trena da topografia desta viagem. Detalhe para o salão superior e condutos próximo à superfície. A topografia indica cerca de 30m apenas. |