"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Cavernas do Lageado (PETAR) na revista O Carste!

Acabou de ser publicado a revista O Carste, Volume 23 N1. 
Revista do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleologicas.

Esta edição para mim é mais do que especial. Isso porque apresenta o resultado de cerca de cinco anos de um projeto que, junto com bons amigos, toquei na região do Lageado, no PETAR, em SP. Além dos relatos das viagens e histórico detalhado das descobetas, o artigo mostra fotos e publica os mapas gerados durante o projeto. Foram muitas viagens, muito suor na mata e dedicação debaixo da terra. Aventuras que geraram conhecimento, história, kilomentros de topografia, novas cavernas e boas decobertas.

Fica aqui este registro para quem já é assinante da revista e também inspiração para aqueles que ainda não conhecem este trabalho.

Um abraço e boa leitura,
Daniel Menin

Nota: para assinar a revista O Carste escreva para: azuias@yahoo.com.br

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Concurso fotográfico Cavernas do Brasil



A seleção das fotos premiadas do concurso fotográfico Cavernas do Brasil, organizado pela Cooperação Técnica entre a Sociedade Brasileira de Espeleologia, a Votorantim Cimentos e a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, aconteceu no dia 18 de novembro na sede da SBE, em Campinas.

Dentre as 249 imagens enviadas por 48 fotográfos, 15 foram escolhidas segundo critérios técnicos e artísticos. A foto ganhadora será capa de um livro sobre o Homem e a paisagem cárstica, a ser lançado no início de 2012. As demais fotos farão parte de um calendário e uma delas da nova carteirinha de associado da SBE.

O concurso deve ocorrer anualmente e pretende firmar-se como a principal premiação aos fotógrafos do carste brasileiro, tornando-se não apenas um incentivo mas um reconhecimento à importância do seu trabalho.

Os premiados são:

Premiados
José Humberto M. de PaulaLapa de São Vicente, São Domingos/GO
Ramon César FerreiraGruta do Baú, Pedro Leopoldo/MG
Alexandre LoboTravertinos - Gruta do Chico Pernambuco, Descoberto/BA
Menções honrosas
Sérgio Dotta JuniorGruta Torrinha, Iraquara/BA
Marcelo Canet KrauseAbismo Anhumas, Bonito MS
Carlos Leonardo Bracalente GiuncoSalão Taquepa, Caverna Santana, Iporanga/SP
Ricardo de Souza MartinelliGruta do Areado III, Apiaí/SP
Alexandre DottaCaverna Lapa Doce, Iraquara/BA
Ricardo Cavalcanti SiqueiraGruta Pratinha, Iraquara/BA
10ºAlexandre DottaGruta Azul, Chapada Diamantina/BA
11ºAlexandre LoboToca da Barriguda, Campo Formoso/BA
12ºFlávio Tadeu Pires da SilvaCaverna São Bernardo, São Domingos/GO
13ºJosé Humberto M. de PaulaLapa da Angélica, São Domingos/GO
14ºJosé Humberto M. de PaulaLapa da Angélica, São Domingos/GO
15ºRicardo SiqueiraGruta de Temimina, Apiaí/SP



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Expedição para a Serra do Ramalho 2011

Noticia veiculada no Conexão Subterrânea N91 e reproduzida aqui com algumas fotos adicionais.


Entre os dias 03 e 11 de setembro aconteceu, na cidade de Descoberto, Bahia, mais uma expedição espeleoló- gica na Serra do Ramalho. A expedição foi organizada pelo Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas e, além de espeleólogos brasileiros, contou também com a participação de espeleólogos franceses do Groupe Spéleo Bagnols Marcoule (GSBM).
Há mais de 20 anos a Serra do Ramalho vem sendo pal- co de expedições do Bambuí e, ao longo desses anos, rendeu descobertas de cavernas significativas no ce- nário espeleológico nacional. A Caverna do Boqueirão, com seus mais de 13 quilômetros de galerias, os salões ornamentados da Gruna do Anjo ou as galerias gigantes do Enfurnado são apenas alguns destaques dessa região de difícil acesso e grandes belezas.
Neste ano a expedição concentrou seus esforços em cavidades encontradas em uma viagem de prospecção prévia realizada no início do ano. As recentes descober- tas dependeram mais da desenvoltura vertical das equi- pes do que do mapeamento de vastas galerias horizon- tais. Foram exploradas e mapeadas as impressionantes Gruna e Abismo da Figueira, a segunda com um lance vertical de 80 metros livres em corda.
Outra realização relevante da expedição foi a explora- ção da Caverna do Chico Pernambuco, uma belíssima cavidade com profundos abismos e volumes internos. As equipes brasileiras e francesas mapearam cerca de 150 metros verticais intercalados por galerias e salões em diferentes níveis até atingirem um rio subterrâneo, galeria com mais de 60 metros de altura e pertencente ao mesmo sistema hídrico da Figueira, porém sem co- nexão direta encontrada.
Quem se interessar pelos relatos e mapas das atividades do Bambuí na Serra do Ramalho pode entrar em con- tato com o grupo e adquirir as edições especiais sobre os trabalhos na região da revista O Carste (volumes 13 e 14).
Para 2012 está previsto mais um volume especial bilín- gue de O Carste sobre a Serra do Ramalho. Para maiores informações contatar: azuias@yahoo.com.br.


Fotos de Alexandre Camargo (Iscoti)





quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Testes fotográficos

A onda do momento em filmagem de atividades outdoor e esportes em geral é a câmera GoPro. Pequena, com caixa estanque bem resistente e capacidade de produzir imagens em alta definição. Atenção, eu disse atividades OutDoor.
No início de Setembro estivemos na Serra do Ramalho, Bahia em mais uma expedição espeleológica. Ainda sem máquina fotográfica, deixei o registro de imagens da expedição com os fotógrafos presentes e resolvi levar somente a GoPro para testá-la em cavernas. O resultado não foi desastroso porque (1) eu não esperava uma performance de fotos e filmagens como as que conseguimos com nossas tradicionais máquinas mais robustas e (2) porque eu testei antes a GoPro com pouca luz e já sabia de sua dificuldade de captar imagens no escuro.
Acontece que a GoPro não compensa a pouca luminosidade ou diferenças de luz e, em ambientes escuros, deixa muito a desejar. OK! Sem problemas! O proposito da camera não é mesmo filmar ou fotografar nestes ambientes, mas sim a céu aberto.
Por outro lado, a máquina tem uma função interessante e que se bem utilizada pode gerar resultados bacanas. Trata-se de uma função tipo "time-lapse", onde pode-se deixar a câmera programada para bater fotos automaticamente a cada X segundos. Desta forma, podemos “passear” por um conduto ou salão com a camera fixada em um ponto de captura e depois, digitalmente, unir as fotos capturadas aleatoriamente em uma só imagem com iluminação espalhada pelo ambiente. Entendeu? O resultado são estas imagens de caverna aqui embaixo.
Claro que a sala fotografada ajudou muito. Simplesmente um dos lugares mais impressionantes que já estive debaixo da terra. Uma escadaria de grandes travertinos brancos cheios de água límpida azulada. Uma emoção encontrar esta sala, há cerca de 80m de profundidade em um belo abismo da região. Infelizmente estas foram as únicas fotos tiradas por mim deste lugar. Com certeza, em breve teremos belíssimas publicações desta expedição com fotos nossos amigos especialistas em fotografia subterrânea. Por hora, deixo estas e algumas outras fotos que tirei com esta câmera filmadora Go Pro.
Abs!

Fotografias tiradas coma GoPro em função de "time-lapse":





Outras fotos batidas com a GoPro a céu aberto:

 





segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Conexão Subterrânea n.90

Acabou de ser publicado o Conexão Subterrânea N.90 - Informativo digital da Redespeleo Brasil.

A fotografia da capa mostra uma das grandes cavernas em fase de exploração e mapeamento pelo Grupo Bambuí na Serra do Ramalho, BA. Maiores informações sobre estes trabalhos você encontrará através do conteúdo deste informativo. Se você ainda não estiver no mailling de envio do Conexão, você pode baixar o arquivo através do website da Rede.
Outro destaque nesta edição é a notícia sobre o lançamento do Fórum de discussões da Redespeleo. Uma importante ferramenta pra a difusão dos assuntos relacionados à espeleologia e para a interação de conhecimentos. O fórum é um espaço aberto à qualquer pessoa e destinado à abranger os mais variados assuntos relacionados ao tema. Para participar, basta se cadastrar e você poderá opinar nos assuntos em pauta, criar novos assuntos, incluir tópicos, postar dúvidas e contribuir para o crescimento desta ciência.
Acesse o Fórum e Participe!
http://www.redespeleo.org/

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Curso Internacional Impactos Ambientais e Manejo no Carste


O Instituto do Carste irá promover daqui a um mês um Curso Internacional sobre Impactos Ambientais e Manejo em Cavernas e Sistemas Cársticos. O curso será em Belo Horizonte, entre os dias 31 de agosto e 4 de setembro, consistindo de uma carga horária de cerca de 50 horas/aula. Serão 3 dias de aulas téoricas e dois dias de aulas práticas no carste de Lagoa Santa.
 
O curso será em inglês, proferido pelo Dr. George Veni, atual diretor do "National Cave and Karst Research Institute", instituição de referência sobre estudos em cavernas nos Estados Unidos.
 
Maiores informações em www.institutodocarste.org.br

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Bulhas D'água, Maio 2011

Semana passada estivemos mais uma vez em Bulhas D'Água, no PETAR, SP.
A atividade não foi muito diferente de todas as outras últimas, com exceção do frio, que veio forte e fez o vento das grutas parecer uma brisa de forno quente!
Durante a viagem desenvolvemos uma nova modalidade de carregar mochilas no Jipe, sofremos um pouquinho nas trilhas (só um pouquinho), descemos novos abismos e (frase frequente em Bulhas), descobrimos novas cavernas...

fotos: Daniel Menin e Marcos Silverio
Observação para o dano na corda causado pela queda de uma rocha. 
Esse é um cuidado que sempre se deve tomar em abismos.
Ainda bem que era uma corda velha, já estava na hora de se aposentar!


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Andes peruanos

Pelos desertos parece o Iraque, mas não é.
Pelas montanhas parece a Europa, mas não é.
Pelas selvas, parece a Mata Atlântica em pleno PETAR, mas não é.
Pelo sofrimento das trilhas parece Bulhas D'água!!!!
Mas também não é Bulhas...

É sim o Peru, em uma expedição espeleológica na Cordilheira dos Andes.

Caverna fria, com vários desníveis, entrada vertical, húmida, cheia de bichos, lama e guano. Daquelas chatinhas mesmo de explorar.
Mas os condutos e salões fósseis continuavam e ainda tinha um caudaloso rio subterrâneo para encontrar...

Foi uma viagem corrida, com muito tempo de estrada e não tanto tempo de caverna.
Fico devendo mais fotos, quem sabe, das próximas expedições que virão.


 

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Conexão Subterrânea N.87

Acabou de ser publicado o Conexão Subterrânea N.87.
O Informativo Digital da Redespeleo Brasil.
Não estranhe a foto da capa com uma ressurgência de caverna de água verde, é isto mesmo, trata-se do 1o Curso Internacional de Traçadores em Sistemas Carsticos. Neste Conexão você tem uma matéria de como foi este curso.
Para baixar o arquivo entre no site da Redespeleo ou cadastre seu e-mail no mailling do Conexão.

Boa leitura!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Novas cavernas são encontradas em Bulhas D'água









Marcos Silverio
fotos Daniel Menin e Alexandre Camargo (Iscoti)

Após seis anos de atividades constantes a região de Bulhas D'água continua nos brindando com muitas descobertas, diversão e certa dose de sofrimento. Mas como a memória espeleológica trata de registrar somente o que nos interessa, pelo menos a cada mês retornamos entusiasmados para muita caminhada, lama, bichos e, quem sabe, um encontro com a onça que teima em nos seguir nas trilhas.

Nos dias 18 e 19 de fevereiro último uma equipe do Grupo Bambuí formada por Bedu, Carolina Anson, César Augusto, Daniel Menin, Fabio von Tein Iscoti e Marcos Silverio, os escaladores Rodrigo e Beto de São Calor e o Prof. Sérgio Bueno da USP e sua filha estiveram na região de Bulhas d'Água para mais uma investida de prospecção e mapeamento na área.

O objetivo no primeiro dia era verificar uma provável continuação no trecho final da Gruta do Lago Subterrâneo, realizar o mapeamento desta caverna e coletar exemplares de Aegla avistados no lago. Parte da equipe ficou responsável pelo mapeamento da caverna, outra pela escalada na parede junto ao lago enquanto a última acompanhou o Prof. Bueno na coleta das Aeglas.

A caverna localiza-se no fundo de uma dolina e apresenta uma entrada apertada com desnível de aproximadamente 5m entre blocos. O pequeno curso d'água do início logo encontra um afluente, surgido de um conduto baixo, e segue por um trecho encachoeirado e muito estreito até o lago subterrâneo. Acima deste conduto há uma galeria que acessa o lago através de uma fenda com cerca de 10m de desnível, nosso caminho. Este lago, com trechos profundos e cerca 30m de comprimento, preenche toda a largura da galeria de 4m. Neste local há possibilidades de continuação através da escalada das paredes laterais. O escalador Rodrigo (Amarelo) subiu uma das paredes mas sem encontrar continuação, restando ainda uma pequena possibilidade mais à frente na galeria do lago.

No retorno a subida pela fenda, após um dia de atividade, foi um desafio para os menos familiarizados com cordas e blocantes. E, como estamos em Bulhas, tudo ainda podia ficar mais divertido. Na saída trovões chacoalhavam as paredes da caverna e a pequena entrada começava a jorrar água e lama enquanto nos espremíamos para fora na chuva. A trilha parecia mais íngreme e escorregadia e a corda foi útil para, literalmente, puxar o pessoal para cima. 

De noite, debaixo de uma garoa fina, fomos de trator até a casa de pesquisa de Bulhas para nos preparar para as atividades do dia seguinte. O objetivo era mapear uma gruta e verificar a continuação de um abismo encontrados durante a expedição de janeiro e escalar um paredão próximo ao Rio Pilões. Novamente nos dividimos em equipes, agora sem o Prof. Bueno e sua filha, que retornaram para São Paulo. Parte da turma foi escalar o paredão e o restante foi mapear a gruta. 

A primeira investida neste paredão foi realizada em janeiro de 2006 mas interrompida por ameaça de maribondos e falta de equipamento. Em janeiro de 2011 uma equipe tentou novamente a subida mas não conseguiu atingir a suposta entrada avistada. Desta vez os escaladores Neto e Rodrigo munidos de furadeira, costuras etc, alcançaram a entrada, que se tratava apenas de uma reentrância na rocha. Merece destaque o preparo e motivação dos dois para escalar as paredes podres e enlameadas e para encarar o terrível macarrão preparado por nós. Se a memória colaborar esperamos contar com eles em outras atividades…

A equipe de topografia deveria mapear uma caverna próxima à Gruta Capinzal. Porém um pequeno vale ao lado da trilha chamou nossa atenção e   nos obrigou a um desvio. Logo encontramos um pequeno abismo, sem continuação e mais à frente um ralo que recebe grande quantidade de água nas chuvas. Um pouco de procura nos afloramentos próximos e logo encontramos um espaço entre blocos que denunciava um grande abismo. O Daniel, que já vinha equipado do outro abismo, logo se espremeu pela passagem e chegou ao final da corda, sem atingir o fundo, a cerca de 25m de profundidade. Devido à sua localização e morfologia o abismo tem grande potencial para descoberta de fósseis.

Como já estávamos com o tempo curto para cumprir nosso objetivo resolvemos seguir por este vale até o abismo descoberto em janeiro e checar seu potencial. Na verdade trata-se de um lance vertical de 5m que atinge uma rede de condutos estreitos e baixos com possibilidade de ligação com outras cavernas próximas. Seguimos depois até a gruta que deveríamos topografar para checar a possibilidade de continuação após um lago azul encontrado em janeiro.

Na água gelada, sem macacão e botas, verifiquei que há uma possibilidade de continuação em uma das laterais mas nesta época está totalmente sifonada. Esta caverna é interessante pois há possibilidade de atingir a galeria de uma outra caverna próxima, que hoje encontra-se bloqueada por um desmoronamento. Uma ligação entre elas após o desmoronamento levaria a gruta a mais de 1km de desenvolvimento.

Como não exploramos sem mapear sempre deixamos dúvidas e possibilidades para as próximas saídas. Então quem sabe o que ainda descobriremos por lá, com certeza a curiosidade é nosso maior motivador.



terça-feira, 15 de março de 2011

Roraima - Março de 2011

E lá fomos nós, de novo, aos Tepuys da Venezuela.
Devido ao mal tempo, acabamos deixando as cavernas para segundo plano. Queríamos ao menos fotografar e prospectar algo, mas decidimos fazer o trivial nos restringindo à superfície. De qualquer maneira, a viagem aos Tepuys sempre vale muito a pena. O sofrimento é garantido, mas também muito recompensado pelas espectaculares paisagens do local.
Desta vez a arrumação das mochilas foi quase perfeita e acho que cheguei à uma lista ótima na relação material x peso.

Compartilho abaixo para as próximas idas. Cabe lembrar que a lista não inclui material de espeleo e é ideal para uma viagem de 7 dias:

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Relembrando sobre o Abismo Los Tês Amigos

Semana passada eu estava preparando o próximo numero da revista O Carste, do grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas. Entre outras matérias, este exemplar publica uma bela história do Alexandre Camargo (Iscoti) sobre a descoberta e os trabalhos de exploração do Abismo Los TRÊS amigos, no PETAR, em São Paulo.

Lembrei então de um relato que escrevi em meados de 2006, logo apos uma expedição nesta caverna. Resolvi então, compartilhar este relato aqui no Blog TerraSub para quem estiver interessado em ler um pouco sobre a aventura. Além de difundir a atividade, coloca mais pimenta e interesse nas publicações dos próximos números da revista. Como fui eu quem escrevi o texto original, tomei a liberdade de realizar uma revisão recente corrigindo pequenos erros e atualizando alguns dados.



De Daniel Menin – Setembro de 2006

“Escrevo abaixo, ainda me recuperando fisicamente da empreitada, um relato do que foi a expedição e do que encontramos debaixo da terra.

O Abismo Los Três Amigos (Brandi/Iscoti/Allan) foi encontrado há cerca de um ano (em 2006) e seu fundo foi atingido, com muito suor, na última expedição, em Maio. Trata-se um imenso salão, parcialmente topografado naquela ocasião e de um conduto ativo de rio à cerca de 200m de profundidade.

Os objetivos da investida deste final de semana era terminar a topografia deste grande salão e seguir com a topografia pelo conduto ativo do rio. Na ultima viagem foi verificado que este conduto ativo continuava nos dois sentidos, mas nada foi explorado.

Participaram da expedição um grupo de 11 espeleologos sendo 2
 do GPME (Eu e o Allan), 8 do Bambuí e 1 do EGRIC.

A atividade foi razoavelmente longa. Entramos na caverna à uma hora da tarde do Sábado e saímos lá pelas 7hs do Domingo. A caverna, até a base do grande salão, é toda vertical. Logo na entrada já utiliza-se corda pois trata-se de uma fenda aberta no solo da mata densa de Bulhas. Um primeiro lance nos leva até um salão de médio porte. O abismo segue através de uma sucessão de lances verticais de diversas profundidades e dificuldades. Alguns lances são em negativo e o espeleólogo fica somente na corda, outros são em paredes levemente positivas e pode-se auxiliar a descida com os pés. Em quase todos os lances temos bastante lama o que pode tornar a descida mais rápida do que o esperado e exige certo cuidado suplementar. Existem fracionamentos de todos os tipos e níveis possíveis. Em positivo, em negativo, em fenda estreita, etc.

A cerca de -80m acessa-se um platô à beira de um enorme vazio. Trata-se do grande salão. Ali temos o maior lance livre de corda da caverna. Uma tenebrosa descida de 45m totalmente negativa em uma das laterais de um imponente salão. Nossas lanternas, por mais potentes que sejam tinham dificuldade de iluminar as paredes a dezenas de metros adiante. O Ezio desceu primeiro e, pendulando um pouco, parou sobre um grande bloco de cerca de 10m da base do fim da corda. Desci em segundo, saí da corda, caminhei até uma parte mais plana na lateral mais próxima da corda e fiquei admirando a descida das outras pessoas. De cima do bloco o Ezio fazia a medição das laterais do salão com uma trena a laser levada por ele: “140m! gritou em uma das medidas”.
Estávamos em 3 equipes de topografia: 2 seguiriam para topografar os 2 sentidos do rio e uma ficaria topografando o grande salão.
O solo do salão é, na sua grande maioria, formado por grandes blocos abatidos. O rio, a dezenas de metros abaixo, é acessado com corda em mais lances verticais entre estes blocos. O Ezio ficou com uma equipe de 4 pessoas topografando o salão enquanto que as outras 2 equipes de 3 pessoas desceram para o rio. Em alguns pontos, do conduto do rio até o teto do salão foi medido uma distância de 100m verticais! Uma altura incrível para o interior de uma caverna ainda desconhecida no PETAR.
O Brandi e mais 2 pessoas seguiram topografando a jusante do rio. Eu, o Allan e o Rogério seguimos topografando a montante.
Já adianto que nenhuma das 2 equipes conseguiu terminar seu trabalho ou mesmo chegar à qualquer indício de final da caverna.

O rio segue serpenteando em um conduto ora de grandes galerias com o teto a cerca de 20m acima, ora em pequenos desmoronamentos facilmente vencidos. Topografamos centenas de metros de rio observando alguns pontos de escalada e algumas janelas que acessavam condutos superiores de grandes proporções.

Em um dado momento, estávamos em um dos desmoronamentos do conduto ativo da montante quando a equipe do Brandi apareceu para nos chamar a ajudá-los na topografia do outro lado da gruta. Entusiasmado, o Brandi contava que havia encontrado a equipe do Ezio, em gigantes galerias desmoronadas. Certamente precisariam de ajuda.
Como estávamos com nossa topo quase transpondo este desmoronamento resolvemos antes unir as equipes e seguir um pouco mais pela galeria do rio para depois, enfim, encontrarmos o Ezio nas galerias do outro lado da gruta.
Mais alguns metros de rio e resolvemos seguir por uma subida lateral para tentar acessar um conduto fóssil cerca de vinte metros acima. Nos deparamos com outro desmoronamento e mais acima monstruosas continuações. Galerias desmoronadas com cerca de 30m, 40, 50m de diâmetro e de altura! Um conduto que seguia para os dois lados nestas mesmas proporções! Resolvemos seguir topografando até atingirmos uma bifurcação, igualmente volumosa. Estávamos já bastante cansados e sem muita comida e carbureto, deixados na base do grande salão do abismo. Resolvemos parar a topografia e iniciar o processo da volta.

O combinado era que todas as equipes deveriam se encontrar na base do salão e às 2h da manhã iniciar a subida de corda para sair da caverna. A idéia era  estamos todos fora da caverna lá pelas 7h pois teríamos um trator nos esperando perto da trilha às 8hs e ninguém tinha a intenção de perder essa carona!
Deixamos, portanto, a bifurcação em aberto e voltamos para o salão. Encontramos a equipe do Ezio nos dizendo que também não conseguiram terminar a topo no lado deles. De ambos os sentidos de desenvolvimento da caverna temos a ampla gelaria do rio continuando e os gigantes condutos desmoronados acima.

Voltamos o tempo todo discutindo como seria a melhor logística de expedição para conseguir topografar toda a caverna. Seria bivacar algumas noites lá dentro? Seriam investidas mais ágeis com pequenos grupos divididos em horas diferentes? Quando seria a próxima viagem?

Uma coisa é certa: estávamos à frente de uma das maiores descobertas da espeleologia brasileira através de técnicas verticais. E nem ainda sabíamos as reais proporções desta descoberta... Estamos falando de galerias e salões gigantes, de volumes comparados à gruta Casa de Pedra e de longas galerias ativas como Areias ou Santana. Certamente uma caverna com muitos  kms de desenvolvimento.

A subida foi bastante penosa. O alívio de subir o maior lance do grande salão é logo abafado por mais 80m de uma série de subidas bem chatas. O excesso de lama nos equipamentos faz com que os blocantes não trabalhem direito simplesmente deslizando corda abaixo em alguns momentos. O cansaço, o frio, a espera da corda livre e a quantidade de fracionamentos acentuam a dificuldade de subida fazendo com que saíssemos da caverna completamente exaustos.
Saí por último e logo ao pisar fora da caverna fui agradavelmente surpreendido por uma caneca de café quentinho. Era um presente do Zé, morador local que sempre nos acompanha com entusiasmo e empenho mata adentro, além de nos ajudar bastante com seu trator. Ufa! Maravilha!

Parabéns a todos, mas principalmente ao Brandi ao Allan e ao Iscoti (Los três Amigos) que há tempos vêem insistindo e se  dedicando ao trabalho naquela área”.

O próximo número da revista O Carste (Volume 22 N.3) vem com uma matéria especial do Alexandre Camargo (Iscoti) sobre a descoberta e as explorações do Abismo Los 3 Amigos. Este relato aqui foi só para dar mais água na boca...
Se você ainda não assina O Carste entre em contato com o Brandi ou com o Fred Lott e peça sua assinatura (azuias@yahoo.com.br / fredlott@gmailcom).

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Mapas de cavernas disponíveis na internet

Alguns dias após ter lançado seu site na internet, o grupo Meandros Espeleo Clube realizou mais uma inovação publicando na rede cerca de 40 mapas produzidos nestes dois anos de existência. São mapas de várias regiões do Brasil e que agora estão disponíveis a qualquer pessoa interessada. Os mapas foram disponibilizados em baixa definição e sua utilização deverá ser autorizada pelo grupo, mas é possível visualizar as cavernas e ter uma boa idéia da representatividade de cada uma delas. 
A medida mostra a posição colaborativa visando uma espeleologia aberta, transparente, onde todos os interessados podem ter acesso ao trabalho realizado. Ao divulgar abertamente seus mapas o grupo Meandros acredita que desta forma irá contribuir para a proteção das cavernas.
A Redespeleo Brasil conta com um acervo de cerca de 1.500 mapas de cavernas brasileiras. O acervo passou por um árduo trabalho de digitalização de mapas antigos, e posteriormente esse arquivo foi enriquecido com o envio de centenas de mapas digitais produzidos por grupos de todo o Brasil. A mapoteca digital pode ser consultada pelo site da Redespeleo Brasil, em www.redespeleo.org.br/mapoteca.asp, e havendo interesse por qualquer mapa, o responsável pela administração da mapoteca encaminha o contato do grupo proprietário do mapa, para que possa ser feita a consulta diretamente para o autor.
Uma importante contribuição de todos os espeleologos para o conhecimento do patrimônio subterrâneo e para o desenvolvimento das ciências relacionadas. 




Para visitar o site do meandros: