quarta-feira, 25 de junho de 2014

Caverna do Agenor: retorno cheio de histórias e lembranças

Retornar a Caverna do Agenor depois de oito anos da descoberta foi uma grande emoção. Uma máquina do tempo que nos fez reviver as sensações vividas nos trabalhos de exploração e topografia.

Esta viagem tinha como objetivos a documentação fotográfica de áreas visitadas somente na ocasião da topografia, quando não foi possível se dedicar as fotos. Tínhamos também a intenção de voltar em regiões remotas da caverna, exploradas uma só vez e sem muito empenho. A distância, as dificuldades técnicas e a vontade de fazer tudo com calma nos levou a organizar um bivuaque, entrando na caverna Sábado de manhã e saindo no Domingo a tarde.

A atividade contou com a participação de 4 espeleólogos, dos quais 3 fizeram parte da história de exploração da gruta. Foi emocionante chegar nos lugares mais distantes e encontrar a caverna exatamente como estava em nossa memória. Cada passagem, cada escalada, cada rappel. Tudo repleto de lembranças e história.

Em uma região central, deixamos o mapa e uma carta a espeleólogos do futuro.

A Caverna do Agenor foi descoberta durante o projeto Paçoca e Arredores, que mapeou grutas importantes da região do Lajeado (PETAR), sobre o aquífero cárstico do Córrego Fundo. Uma equipe chegou na entrada da gruta quando procurava um acesso alternativo para a caverna Paçoca. Logo na primeira exploração, os espeleólogos se surpreenderam com o tamanho e diversidade da caverna. O nome é uma homenagem ao Sr Agenor, dono e morador da terra onde a gruta se encontra. A caverna teve seu mapa produzido entre 2006 e 2008. Com cerca de 4km de linha de trena e uma morfologia de condutos e salas fósseis em diferentes níveis, é uma  importante caverna da região. Todo o material produzidos durante as atividades de exploração encontra-se em documento entregue aos órgãos competentes. Os relatos e fotos das atividades, estão publicados aqui neste mesmo site.



(Fotos: Daniel Menin, Marcos Silverio e Carlos Grohmann)








 

 













sexta-feira, 20 de junho de 2014

Caverna Paçoca tem seu mapa atualizado

O mapa da Caverna Paçoca, localizada no PETAR (Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira), em SP, passou recentemente por atualizações. Foram inclusas novas fotografias, ajustes de detalhamento no arquivo e aumento da representatividade da caverna.


A Caverna Paçoca tem uma importância histórica devido às atividades de exploração e mapeamento de espeleólogos ilustres (como Michel Le Bret, Pierre Martin, Guy Collet e Joaquin Justino) na Década de 60. Em 1993 passou por mais um mapeamento realizado pelo GEGEO (Grupo de Espeleologia da Geologia). Entre os anos de 2005 e 2010 teve um novo mapeamento, contendo um maior detalhamento e incluindo galerias desconhecidas dos trabalhos anteriores. Em 2010 uma equipe do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas realizou uma escalada subterrânea no extremo noroeste da caverna, sobre a ressurgência de um dos rios, mas não encontrou continuações. A caverna é também importante devido a seus 2 rios, fazendo parte de uma recarga relevante para o aquífero cárstico do Córrego Fundo.


A Caverna Paçoca tem um desnível total de -108m, dos quais 45m compreende a um grande abismo, localizado no conduto principal da caverna. Para transpor é necessário cerca de 75m de corda, equipamentos adequados e experiência em técnicas verticais. Equipes da década de 60 e também 90 tiveram problemas quase se acidentando na caverna (histórias descritas no livro "Brasil Subterrâneo", de Michel Le Bret e também no próprio documento do Projeto Paçoca e arredores - GBPE).

Para a topografia da área mais a Leste das caverna foi necessário a transposição de um sifão, seco apenas alguns dias do ano, nas épocas menos húmidas.

É possível encontrar neste site os relatórios de cada viagem, com fotos e evolução da topografia.

O mapa em alta resolução, bem como todo o histórico das atividades encontra-se no documento "Projeto Paçoca e Arredores - Sistema Córrego Fundo", entregue aos órgãos competentes e disponível para consulta pública mediante solicitação.



(fotos Alexandre Camargo - Iscoti)



(fotos Daniel Menin)







domingo, 15 de junho de 2014

O resgate mais caro da história da espeleologia alemã

Johann Westhauser, experiente espeleólgo e um dos descubridores do
sistema subterrrâneo onde aconteceu o acidente

Por José Humberto M. de Paula

A operação de resgate é realizada em condições extremas - temperaturas de 3°C, lagos a serem transpostos, locais alagados, passagens estreitas e sinuosas, abismos de até 300m...

O espeleólogo, um físico de um instituto de tecnologia alemão, é muito experiente em caving. Não é um aventureiro de fim de semana, também comum mesmo na Europa. O espeleólogo foi um dos descobridores do sistema subterrâneo e participou do mapeamento. É a maior caverna alemã, na divisa com a Suíça e Itália, com aproximadamente 19km de desenvolvimento. O acidente ocorreu quando o espeleólogo alemão estava a 1000m abaixo da superfície e a 3km de distância da entrada da caverna. Uma rocha caiu e atingiu a cabeça do caver. Embora usando capacete, a cabeça do espeleólogo foi atingida. Se estivesse em um hospital a vítima estaria em uma sala de tratamento intensivo. A vítima está sendo transportada para cada uma das estações (pontos quente). Como a temperatura é muito baixa na caverna a vítima está protegida por um saco de dormir. Existe a possibilidade de uma intervenção médica de emergência, ainda dentro da caverna, caso a pressão craniana da vítima se eleve. Por enquanto, ainda é estável o estado da vítima, parece. Foi montado um sistema de comunicação por rádio com fio, mas que não chega até o local do acidente. Mas a vítima já está sendo deslocada. Junto com a vítima seguem 02 Equipes de Evacuação com 14 resgatistas, incluindo alguns médicos - pelo menos  um suíço, um esloveno e um italiano. 
Mais de 200 resgatistas - alemães, italianos e suíços - participam do resgate. Um helicóptero faz mais de 10 viagens por dia... Transporte de resgatistas e suprimentos. O Posto de Comando foi montado na boca da caverna, com duas grandes tendas. No momento a mídia começou uma discussão sobre quem vai pagar, ou arcar, com os custos do resgate. Segundo a matéria já chega em milhares e milhares de Euros. Já tem gente comentando se o Seguro Pessoal da vítima vai cobrir. É de lascar, não!?!...

Para nós aqui do Brasil, fica a lição de que é preciso prevenir, prevenir e depois ainda prevenir. Um resgate na Lapa do Bezerra, São Vicente I com as suas 15 cachoeiras e vazão de 5m3/s, ou mesmo, Angélica e São Mateus (todas em São Domingos-GO) seria impensável, com a estrutura e número reduzido de resgatistas preparados, que nós temos por aqui.

A fins de registro e aprendizado, segue abaixo acompanhamento dia-a-dia das operações de resgate:

ATUALIZAÇÃO 16/06/2014 (segunda-feira) às 10h:
(Fonte: Site do Espeleo Socorro Alemão, coordenador do resgate, junto com equipes internacionais)

Houve uma longa parada de quase 22h, entre o sábado e o domingo, para descanso da vítima e dos integrantes das equipes de evacuação, no Ponto Quente n°4 (estações de apoio previamente equipadas; são em número de 5 estes pontos dentro da caverna). Este ponto, ainda se encontra, a uma profundidade de aproximadamente —900m, abaixo da superfície. No domingo à noite (ontem) foi realizado o içamento da maca com a vítima até o Ponto Quente n°3. O desnível desse deslocamento foi 200m. Portanto, a vítima se encontra a uma profundidade de aproximadamente —700m, na Base n°3 (Ponto Quente 3). Nessa base deverá permanecer por mais 10—12h.

Uma equipe de evacuação de espeleólogos Austríacos já está equipando, com cordas, o trecho seguinte até a Base n°2. Este trecho deverá ser o mais difícil. O içamento vertical livre é de 300m, com diversas transposições. As cordas tiveram que ser trocadas em função do desgaste das mesmas. A causa desse desgaste é o uso intenso em constantes descidas e subidas, uma vez que, em média, 50 resgatistas se revezam dentro da caverna. Já foram utilizados mais de 2.000m de cordas. O içamento neste trecho de 300m de negativo, deverá acontecer durante o dia e a noite dessa segunda-feira.

ATUALIZAÇÃO de 17/06/2014, terça-feira:
(Fonte: Espeleo Socorro Italiano e amigos do La Salle 3D SpeleoPhoto).

A vítima agora está no Ponto Quente n°2 (Base n° 2) a uma profundidade de aproximadamente —490m. O deslocamento ocorreu normalmente durante o fim da tarde de ontem e a noite/madrugada de hoje, terça-feira. A maca venceu um trecho vertical de 70m, com passagens muito estreitas, onde uma pessoa magra tem dificuldade para passar . Houve uma parada de 02 horas para atendimentos médico de rotina da vítima. A maca chegou a essa Base n°2 às 02h da manhã de hoje, terça-feira. Deverá permanecer neste ponto por algumas horas para que a vítima possa descansar e sejam feitos atendimentos médicos.
A evacuação segue feita pelas equipes de resgate internacionais da Itália, Áustria, Alemanha e Suíça. 

Uma equipe com 20 regatistas Croatas está na entrada da caverna para qualquer emergência. O trecho entre a Base n°2 ( onde neste momento se encontra a MACA) e a seguinte, a Base n° 1, está tecnicamente equipada: ancoragem prontas, cordas instaladas. Será um trecho muito difícil. O deslocamento deverá durar inúmeras horas. Vítima em estado ainda grave, mas estável.




ATUALIZAÇÃO de 17/06/2014, Quarta-feira 
(Fonte: Espeleo Socorro Italiano e amigos do La Salle 3D SpeleoPhoto).


Após ultrapassar a fenda vertical de 250m e a cachoeira, a maca alcançou um poço de aproximadamente 40m, denominado Nirvana, cuja base se encontra em um nível —430m, em relação à superfície.

Os 20 resgatistas Croatas se juntaram aos trabalhos junto à maca, para substituir a equipe Italiana... O complexo e estreito labirinto vertical de 250 m e a cachoeira impediam o caminho para a chegada das novas equipes de resgate. Após a passagem foi possível restabelecer a comunicação com o Posto de Comando, na Boca da Caverna, antes dificultado pela própria cachoeira. Nas próximas horas, haverá uma pausa, durante a qual o médico e as enfermeiras, que acompanham a vítima, vão descansar e avaliar as condições de saúde do ferido.

Há um total de 109 regatistas do Espeleo Socorro Italiano-CNSAS, organizados em vários turnos, atuando nas operação de resgate. O que está permitindo que técnicos italianos atuem como voluntários, inclusive fora da Itália, é um Decreto Presidencial (N°194/2001). Esse Decreto garante a todos os voluntários a preservação de seus empregos , não comparecendo ao trabalho, caso esteja atuando em operações de resgate como essa. Além disso, o voluntário tem garantido o reembolso das despesas de viagem durante a a intervenção. Mesmo após a ativação do CNSAS , o Departamento de Protecção Civil da Presidência do Conselho de Ministros, continuou a desempenhar um vínculo efetivo entre o trabalho dos serviços de emergência e instituições envolvidas na Itália e na Baviera.No Brasil não temos nenhuma regulamentação nesse sentido, o que dificultaria, ou tornaria impossível, uma operação de Espeleo Resgate dessa natureza e magnitude. Além disso, temos muito poucos socorristas preparados para esse tipo de resgate, no Brasil.

Nas próximas horas a vítima deverá chegar no Ponto Quente n°1 (Base 1), o último planejado antes de se chegar à Boca da Caverna. Desta última Base até a Entrada da caverna ainda restam um desnível de 400m, com vertical difícil de aproximadamente 200m.

Este trecho de vertical, transporte da maca e apoio médico será feito com um sistema do pêndulo e contrapeso. Vias paralelas redundantes permitirão que equipes de resgate possam apoiar a recuperação.

Não é certo que este trecho de vertical difícil (sinuoso, estreito em alguns pontos) possa ser superado durante o dia dessa quarta-feira . Dependerá da resistência das equipes de evacuação envolvidas. Mesmo depois desse obstáculo, a caverna tem outras passagens estreitas e ainda na vertical.

Ainda não se pode dizer exatamente quando a vítima chegar à superfície. Supõe-se que o caver pode sair à noite ou durante o dia na quinta-feira (amanhã).

No Posto de Comando, na Boca da Caverna, tudo já está preparado. Um Posto Médico Móvel, montado logo perto da entrada da caverna, aguarda a vítima para as verificações e exames médicos iniciais. Um helicóptero habilitado para vôo noturno vai levá-lo logo depois em uma clínica médica especializada.

Do ponto de vista médico, o perfil clínico do Caver acidentado — Sr° Westhauser — é estável. Mas, segundo os especialistas médicos da Baviera Aid, esta é uma situação nova, mesmo na Europa. É a primeira vez que um paciente com um ferimento tão grave na cabeça permanece, sem tratamento específico, por tanto tempo.

Previsões da meteorologia prevê tempo estável para as próximas horas, na região onde se encontra a caverna.

O video abaixo, publicado pelo jornal The Telegraph mostra técnicas de progressão com maca durante os trabalhos de resgate.




ATUALIZAÇÃO de 18/06/2014, Quinta-feira 
(Fonte: Espeleo Socorro Italiano e amigos do La Salle 3D SpeleoPhoto).


RESGATADO!

Resumo da oiperação:

Após 12 dias, equivalente a 275 horas de operações contínuas de resgate, a vítima - o espeleólogo alemão Johann Westhauser - foi resgatada. O acidente ocorreu nas primeiras horas do domingo, mais precisamente à 1:30h do dia 08/06/2014, no horário da Alemanha (20:30h no horário de Brasília-Brasil, portanto ainda no sábado). A vítima - Johann Westhauser - um experiente espeleólogo alemão de 52 anos, foi um dos descobridores desse Sistema Subterrâneo, em 1995, na Alemanha, tendo participado de inúmeras expedições de exploração e mapeamento da caverna a partir de 2002. No momento do acidente o caver participava de estudos referentes ao sistema de drenagem interna da caverna. O acidente ocorreu após uma quase saraivada de rochas atingir e ferir, gravemente, a sua cabeça. O sinistro aconteceu a uma profundidade de -980m na caverna Riesending-Schachthöhle - a cavidade subterrânea mais profunda da Alemanha e com 19,3km de desenvolvimento. Está localizada nas montanhas da Alta Baviera na fronteira com a Áustria. Um de seus companheiros foi capaz de sair da caverna e dar o alarme, enquanto outro espeleólogo permaneceu assistindo a vítima. O espeleólogo em busca de socorro gastou cerca de 13 horas para percorrer os quase 3500m até a saída da caverna. Teve que transpor inúmeros poços profundos (um deles uma grande fenda com mais de 250m de vertical e com uma cachoeira a meia altura), túneis, passagens estreitas e sinuosas e trechos alagados, que separavam o local do acidente à saída da imensa caverna. Isso tudo em temperaturas muito baixas de até 3ºC, em todos os trechos do trajeto interno na caverna.

A operação de resgate teve a participação de uma equipe internacional do Espeleo Socorro Italiano-CNSAS, juntamente com os Serviços de Resgate em Cavernas da Áustria, Alemanha, Suiça e Croácia. De toda a operação de resgate participaram mais de 300 socorristas (109 somente do CNSAS), organizados em vários turnos. Os socorristas trabalharam, cada um, por várias dezenas de horas sem interrupção, deslocando a maca com a vítima em todo o trajeto planejado para a evacuação no profundo, complexo e perigoso sistema subterrâneo da Alta Baviera Alemã.

Uma contribuição decisiva para a sobrevivência da vítima foi dada por todos os técnicos e médicos envolvidos em cuidar do acidentado. Todos os socorristas são especialistas em resgate em ambiente hostil e em áreas remotas. Os membros da equipe da Comissão Médica do CNSAS-Italiano e um médico Austríaco foram os primeiros a chegar no local do acidente e a medicar a vítima, já no dia 11/06.

A vítima - o espeleólogo alemão Johann Westhauser - foi finalmente resgatada. Mas, a equipe internacional continuará a operação, sem interrupção, enquanto o último socorrista ainda estiver dentro da caverna Riesending-Schachthöhle. A operação somente se encerrará, oficialmente, quando o último resgatista for transportado de helocóptero ao Posto de Comando Central.

Referência: http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/germany/10900044/Most-expensive-rescue-in-German-history-as-man-begins-second-week-trapped-3000-feet-underground-in-cave.html