quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Gouffre du Brizon - França

Cidade: Montrond le Château;
Departamento: Doubs;

Saída eme stágio junto a EFS de aprendizagem em técnicas ligeiras.

Dia 13 de julho de 2005















Após os primeiros dias de avaliação em autonomia em técnicas verticais demos enfim início ao estágio de aperfeiçoamento propriamente dito. Na tradicional reunião noturna, durante o segundo dia, nos foi colocado uma lista de opções para serem escolhidas. De acordo com o interesse de cada pessoa foram formadas equipes para os próximos dias. Minha opção foi de aprender e aperfeiçoar as técnicas ligeiras de exploração em vertical.
Na manhã do dia 13 foi formada a equipe me técnicas ligeiras: Eu, Jackie e a instrutora Delphine. Nos foi passado um briefing do um abismo que iríamos vizitar durante a tarde e a instrutora nos ajudou a preparar o material. Tive o primeiro contato ativo com os dynemmas, AS, MR de abertura rápida e outros mateirais de pequeno porte e peso (escrevi sobre técnicas ligeiras em um outro artigo específico sobre o assunto, um dia posto aqui no Blog).
Chegando ao abismo a Jackie começou a equipagem. Logo na entrada mais um aviso sobre o perigo de enchentes e “crue”. A segurança exterior é feita em árvores próximas à entrada. Um lançe de aproximadamente 4m tem sua amarragem facilitada por um tronco de árvore e dá início à descida subterrânea. Chegamos a um pequeno salão de onde sai um conduto que acessa uma série de outros garrafões não muito largos, porém perfeitamente arredondados. Claramente essa série de garrafões funciona como a porta de entrada de uma vasta rede aquática subterrânea. Em épocas de chuva funcionam como verdadeiros “tubos” condutores. Talvez justamente por este motivo não encontramos concentração de formações como tities, mities e etc. Por outro lado, é um abismo perfeito para treinar e aperfeiçoar novas técnicas justamente deviso à sua morfologia.
Enquanto Jackie equipava eu descia junto a Delphine que fazia suas observações referente às amarragens e equipamentos. Após alguns lances trocamos de posição. Começei a equipar os outros lances enquanto Jackie e Delphine vinham atrás. Em um salão, enquanto equipava um próximo lance, deixei cair na escuridão abaixo um MR de abertura rápida (Speedy) com uma plaqueta. Ficamos todos escutando o barulho das peças se debatendo nas paredes enquanto descia caverna abaixo. “Já era” pensei comigo mesmo começando ainda a imaginar o valor do material a ser reposto.
Mais um lançe de uns 20m com um fracionamento a 10m do solo e chegamos ao fundo de um poço e fim das cordas. Enquanto comíamos e conversávamos encontramos, ao lado de onde Jackie estava sentada, o MR e a plaqueta perdida. Delphine a pegou, examinou e a colocou a parte em um saco de equipamentos de resgate que ela levava. Pensei mais uma vez no preço de um MR e de uma plaqueta. Após um almoço de macarrão gelado com abricot vert e de uma rápidíssima ciesta fui encarregado a subir até a última amarragem para bater um spit e duplicá-la “A primeira e a última amarragem devem sempre serem duplicadas!”.
Bati o spit, dupliquei a amarragem e subi até um salão intermediário onde esperei que as duas chegassem. A demora foi, logo em seguida, explicada pelo ativamento da rede hídrica subterrânea devido à grande quantidade de líquido que ingerimos (aliás, quando alguém que ler este texto me encontrar, me pergunte o que é uma Pissetta e explico melhor esta passagem do texto).
As duas me passaram e seguiram abismo acima enquanto fiquei por último e encarregado por toda desequipagem (trabalho pra macho!). Como não poderia ficar atrás também dei munha contribuição ao ativamento hidrico da rede.
Saindo do abismo, na grama ao lado do carro, Delphine pegou o material que deixei cair, deu uma olhada e o recolocou junto com o resto dos equipamentos. OK! Esse tipo de equipamento é muito resistente e se não apresentar fissuras visíveis não há grandes problemas. Economizei alguns Euros...


Material utilizado:
110m de corda de 8mm;
45m de corda de 9mm;
MRs de abertura rápida;
Chapeletas coudés e vrillés;
Cordonetes dynemma;
AS com cordonetes prontos;
Algumas fitas;
Alguns mosquetões.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Gouffre la Belle Louise - França


Cidade: Montrond le Château;
Departamento: Doubs;
Saída em estágio junto a EFS de aperfeiçoamento em técnicas ligeiras.
Dia 16 de julho de 2005

Segunda saída com objetivo de utilizar as técnicas leves (Thecnique Legeres) em equipagem vertical. Após termos aprendido em teorias e também termos posto em prática em um ambiente real agora o objetivo foi de equipar e desequipar um abismo inteiro utilizando apenas estas novas técnicas.
O Abismo de La Belle Louise é uma linda cavidade. A entrada é por uma fenda onde observamos várias possibilidades de descida por 2 principais lances separados por um platô. Póximo à entrada tinha uma placa informando sobre a possibilidade de “crue” (tromba d´água) em dias de chuva forte. Estávamos preparando os equipamentos quando um senhor chegou com um trator e disse ter visto na meteorologia a previsão de fortes chuvas durante a tarde. Resolvemos a partir desta informação não seguir até o fundo do abismo mas equipar somente os primeiros e principais lances até atingir um pequeno conduto de “teto baixo” onde em caso de “crue” poderíamos ficar presos. A equipe, como da primeira vez foi formada por mim, Jackie e a instrutora Delphine (sabe muito essa mulher!). Fizemos 2 equipagens descendo em paralelo até o fundo dos principais lances. Jackie equipou o lado principal enquanto eu fui procurar uma descida lateral pelo menor acesso. Com muitos blocos instáveis acabei não encontrando amarragens seguras ao longo do platô e acabei subindo para equipar uma via próximo à de Jackie porém pela lateral do abismo. Como eu havia preparado uma ficha de equipamentos a partir da topografia, desta vez o trabalho foi muito mais organizado e de bons resultados que na primeira saída de técnicas ligeiras. Utilizei bastante os cordeletes de alta resistência de dynemmas e os AS e atingimos nossos objetivos sem maiores problemas. Após vários lances chegamos a uma área onde 2 garrafões paralelos se encontram e pasamos por uma espécie de janela entre eles. Maravilhoso esse abismo!. Como estávamos preocupados com a possibilidade de chuvas então deixamos o almoço no carro, para voltarmos antes. Comemos uma pequena barra de cereais no fundo destes lances e iniciamos nossa subida. A instrutora Delphine desceu pela minha via fazendo algumas correções necessárias e subiu pela via da Jackie também corrigindo eventuais imperfeições. Saindo do abismo comemos na grama, próximo do carro, revimos nós e teorias de amarragens ligeiras e voltamos para o alojamento. E a chuva..... essa nem apareceu...

Gouffre de Vauvougier - França


Cidade: Montrond le Château;
Departamento: Doubs;
Saída durante estágio junto a EFS (Escola Francesa de Espeleologia).

Após um dia de avaliação técnica em uma falésia dedicamos o primeiro dia embaixo da terra para também sermos avaliados em equipagem e desequipagem porém agora em um ambiente real, sobre as condições reais de uma caverna.
O Gouffre de Vauvougier é um lindo abismo que dá acesso a uma labiríntica rede subterrânea. Estávamos em 2 equipes de 4 pessoas sendo 3 alunos e 1 instrutor que apenas acompanhava os alunos intervindo no trabalho de equipagem quando pertinente.
A primeira equipe, a qual eu fazia parte, tinha como objetivo acessar a rede subterrânea e nós a profundidade pelos lances a esquerda do Puits du Pendule (ver mapa). Nossa equipe estava formada por Julian, Jackie, eu e a instrutora Cécile. Julian começou a equipagem descendo pela lateral direita de um enorme e volumoso abismo de entrada. Uma equipagem considerávelmente técnica uma vez que foi necessário vários pêndulos para acessar os spits nas paredes do abismo. A vista da luz externa em raios de sol entrando no abismo era algo de espetacular. Descemos cerca de 45m com alguns fracionamentos e ao chegar lá embaixo percebemos que havíamos passado um conduto lateral que deveríamos ter seguido e direção ao Puits du Pendule, como fez a outra equipe. Então subimos, aproveitamos as amarragens da outra equipe e acessamos ou outros abismos em direção ao nosso objetivo. A partir desse ponto fui o responsável pela equipagem. Equipei cerca de 40 a 50m até uma sala de onde saía um dos últimos lances. Equipagem feita em spits batidos sobre um grande bloco e desci o lance até a metade, onde me deparei com o nó de fim de corda. Era o fim de nossa descida. Jackie quis também descer para observar o belo lance pela metade. Almoçamos todos nessa sala e começamos a subir para voltar. Jackie e Julian desequiparam a parte equipada por mim e eu fiquei encarregado de desequipar os primeiros lances equipados por Julian. Ainda não sei as exatas sensações que tive ao desequipar diversos fracionamentos em pêndulo. A cada última desparafuzada na plaqueta era como se fosse um gatilho me pendulando em um belo vôo para o centro de um largo garrafão de quase 50m de altura. “Ao escolher os lugares para bater spits e equipar, pense na hora da desequipagem” pensei comigo mesmo.
Por ser o primeiro dia de atividade subterrânea resolvi não levar a máquina fotográfica mas me arrependi amargamente pois o abismo é seco, com grandes garrafões e perfeito para fotografias. Fica então essa dica para uma outra vez, um dia, quem sabe...

Gouffre Gros Gadeau - França


Cidade: Pequena vila próximo de Besançon – Montrond le Château;
Departamento: Dobs – Ao Norte da região do Jura;

Saída de final de semana junto ao Speleoclub de Paris.

Mais uma vez paramos o carro bem próximo à entrada da gruta. Após alguns passos (isto mesmo, o carro estava a metros da caverna) na beira da estrada chegamos à uma dolina e à cavidade. Logo na entrada da caverna, como já é de costume na região, podemos observar um cartaz de advertência dizendo os riscos e perigos da mesma prevenindo assim entrada de turistas ou espeleólogos não preparados. Ao adentrar na caverna um bonito lance de cerca de 15m da acesso a uma sala de onde continua-se a descida por outro poço mais à direita. Apesar de parecer bastante ativa, a caverna de Gros Gadeau não era conhecida como uma caverna perigosa até que em Novembro de 1996 foi palco de uma dramática operação de resgate durante o alagamento de suas galerias em uma tromba d´agua, frequente em épocas de chuva. Nossa descida foi relativamente tranquila. Olivier foi na frente equipando a caverna enquanto que eu e o outros espeleólogo seguíamos atrás. Descíamos sucessivos poços em meio a cachoeiras de pouco volume mas o suficiente para nos deixar completamente molhados já no primeiro lance. Olivier tanto estava compenetrado com as amarragens que nem percebeu a presença de uma serpente, em um pequeno lago, entre seus 2 pés e logo abaixo de dois spits. Ao meio do barulho d´água das cachoeiras e com um francês bem meia boca tentei explicar para ele a presença da cobra e perguntar se ele a tinha visto. Sem dar muita bola ou por não ter entendido ele sorriu e continuou a equipagem, descendo logo em seguida.
Chegamos até o fundo dos maiores puits, a cerca de 85 metros de profundidade. Caminhamos um pouco por uma galeria, desescalamos alguns pequenos lances, descansamos alguns minutos e começamos a subida de volta a superfície. Como já estava virando costume, fui o último a subir e, portanto, o responsável pela desequipagem. A cada lance que subia eu pensava na serpente da descida. Eu não me lembrava mais em que poço ela estava. Será que a água a carregou abismo abaixo ou será que ela continua no mesmo lugar? Será que eles a viram ao subir? Será venenosa? A resposta de onde ela estava não demorou a tardar. Durante a subida ela me aguardava na beira do penúltimo lançe com a cabeça levantada como que olhasse quem vinha subindo pela corda. Para evitar uma trombada de cara com na cobra tive que fazer um certo malabarismo escalando pela parede da esquerda, em oposição e ainda me mantendo sob tração na corda para evitar algum choque em caso de queda. Passado o obstáculo descobri que a cobra estava era atrás de iluminação pois a mesma vinha sempre em minha direção. Não tinha muito espaço para fugir uma vez que estávamos em um pequeno platô que dividia 2 lances verticais e onde se encontrava um pequeno lago e um fracionamento a ser desequipado. Experiência memorável porém não muito agradável esta de desparafusar o spit e fugir da serpente apagando minha lanterna de quando em quando para que ela parasse de me seguir.
Chegando ao carro mais uma vez fui perguntar da serpente mas ninguém a viu. “Tranquilos demais esses caras...” pensei comigo mesmo. No Brasil estamos sempre preocupados com serpentes e olhamos o tempo todo principalmente sa saída das cavernas mas na França pouco se tem a temes visto que raríssimos são os casos de cobras venenosas.
Depois de um banquete de Arricot vert, queijos e é claro, vinho, seguimos estrada para Paris, como sempre, sem tomar banho.

Gouffre des Ordons - França


Cidade: Pequena vila próximo de Besançon – Montrond le Château
Departamento: Doubs
Saída de final de semana junto ao Speleoclub de Paris.
13 de Junho de 2005;

O acesso à gruta é por por um pequena fissura no calcáreo. A amarragem inicial pode ser feita nas árvores ao redor do gouffre e pelos spits plantados logo no incício da descida.
Cerca de 4 metros adentro, têm-se acesso a uma fenda onde instala-se um corrimão para assegurar até o melhor ponto para a descida final. Trata-se do maior lance vertical da caverna (cerca de 25m) que dá acesso a um enorme salão repleto de estalagmities, velas e cortinas. Gouffre des ordons é uma descoberta recente e perfeito para iniciantes. Seus lances de verticais não são grandes, a instalação é bastante simples e a recompensa bela beleza da caverna em formações é garantida. Foram colocadas fitas de proteção para traçar um caminho de uma extremidade do salão a outra de modo a proteger as formações. Destaque para duas grandes velas que se encontram no centro da parte mais ampla do salão, próximo á descida da corda.
Estive com o espeleo clube de paris e realizei lindíssimas fotos mas que em uma desagradável descoberta percebi que as tinha feito em baixa resolução. Resultado: mudei para alta mas não tive suficiente tempo para tirar as mesmas fotos que já havia feito.
Por coincidência durante o ultimo dia do estágio na EFS acabamos voltando a essa gruta e pude realizar novamente mais fotos e desta vez, em alta resolução. Embora não tenha tido paciência e nem tempo suficiente para repetir as boas fotos da primeira vizita acho que consegui mostrar um pouco da amplitude e beleza desta caverna.

Grotte Baudin - França


Cidade: Montrond le Château / Besançon;
Departamento: Doubs;

Saída de final de semana junto ao Speleoclub de Paris.
12 e 13 de Junho de 2005;

Estaciona-se o carro na beira da estrada, próximo a uma casa e segue-se por uma trilha a esquerda da casa por entre uma floresta. Em poucos minutos chega-se a um canyon da calcáreo que dá acesso a entrada da caverna. Pode-se dizer que a caverna é a continuidade subterrânea do canyon. Logo na entrada, alguns lances de vertical levam a um salão. Mais algumas descidas em corda e chegamos ao mais amplo conduto da caverna. Um modesto conduto de aproximadamente 4 metros de diâmetro e 15m de comprimento, teto inclinado e solo argiloso, de afundar a bota inteira na lama. É no fim desse conduto que saem 2 fendas. Uma fóssil à leste e outra, ativa à norte por onde se prossegue a caverna. A partir deste ponto começa uma “penante” atividade de “escalada horizontal”. Em uma mistura de quebra-corpo com fenda a caverna prossegue por um interminável conduto. Diversas possibilidades de caminhos se abrem. Pode-se escolher, de acordo com o gosto individual entre seguir um caminho por uma parte mais alta da fenda ou por uma parte mais baixa. As vezes andávamos 2 ou até 3 pessoas em mesma direção sendo que cada um em uma altura diferente da fenda. Ainda não conheci no Brasil algum conduto semelhante. Em alguns pontos essa fenda se alarga e encontramos alguns travertinos e pequenos lagos mas na grande maioria são caminhos altos e estreitos. Em um ponto mais distante um grande labirinto possibilita o acesso ao mesmo ponto por pequenos condutos diferentes e neste ponto fica muito fácil perder o censo de direção e se perder. Não se trata de blocos desmoronados ou terreno instável mas de condutos reais formados, a princípio, pela água. Na volta fiquei em último na equipe e junto com o Olivier tomamos um conduto abaixo ao caminho seguido pelos outros integrantes. Por alguma “passagem-mágica” não aparente na topografia acessamos uma área bastante avante ao resto do grupo e tivemos que ficar esperando que eles chegassem. Um pouco cansados e cerca de 6 horas mais tarde chegávamos ao primeiro lance da subida, para sairmos da caverna. Mais uma vez fiquei por último assumindo a responsabilidade iria repetir no resto das cavernas daquele final de semana: a desequipagem... Na saída da caverna o Olivier e o Florent me esperavam (graças a deus!) para me dar uma mão com a última desequipagem e com as mochilas pesadas.
Ao chegar no local onde o carro estava estacionado e ainda de cueca na beira da estrada ganhei uma super cerveja gelada.
Depois de virar metade da garrafa exclamei com felicidade “Acho que foi a melhor cerveja francesa que já bebi desde que cheguei”. De bate-pronto todos responderam: “Mas essa cerveja é belga !”.

Trabalho de desobstrução de abismo - França

Cidade: Pequena vila próximo de Dijon;

Departamento: Cote D´Or - BOURGOGNE;

Final de semana específico de desobstrução.
04 e 05 de Junho de 2005



Aqui escrevo um pouco sobre um trabalho de desobstrução de um abismo que participei na França. Próximo à cidade de Dijon (já ouviu falar da Mostarda de Dijon?) existe uma vasta rede subterrânea. Trata-se de um labirinto com certa de 30km de galerias mapeados porém com um obstáculo logo no início o que dificulta imensamente os trabalhos de exploração. Um sifão a cerca de 1 km da entrada separa a parte exterior dos outros 29km de galeria.
Pois há anos este grupo descobriu um abismo localizado bem encima da rede de galerias porém, estrategicamente posicionado após a passagem do sifão. Uma dádiva se o abismo não estivesse completamente entupido por sedimentos. Iniciou-se aí um trabalho de cavar e extrair a argila fazendo renascer todo um abismo escondido e completamente enterrado pela natureza.


Passamos o final de semana trabalhando na desobstrução. O abismo tem hoje, em seu total, cerca de 20m de profundidade e quase todo o percurso foi desobstruído a partir de uma falha encontrada no solo calcáreo. Observa-se ao longo do abismo o claro trabalho da água em épocas passadas. Encontram-se algumas formações em calcita como escorrimentos, estalactities e cortinas que até então, estavam cobertas por argila. Na entrada do abismo foram utilizados explosivos mas agora o trabalho consiste em cavar o solo argiloso do fundo e, através de uma corda, extrair a terra em baldes alternados. Para esse trabalho são necessários pelo menos 5 espeleólogos.



Uma primeira pessoa desce até o fundo do abismo e realiza o escavamento propriamente dito. Um segundo espeleólogo fica preso na metade do percurso, em um fracionamento, auxiliando a passagem dos baldes cheios de pedras e argila do escavamento. Uma terceira pessoa fica na boca do abismo trocando os baldes e os esvaziando fora da caverna. O restante dos participantes são aqueles que tracionam a corda que, através de uma polia, leva os resíduos escavados até o exterior do abismo. 



Pela primeira vez na França tive contato com um verdadeiro trabalho de exploração subterrânea. Uma atividade que não fosse meramente esportiva ou de treinamento em caverna.









Dormimos na beira da estrada, acampando em uma espécie de “barracão de pedra abandonado” bastante utilizado por espeleólogos ou viajantes sem grana para pagar uma hospedagem.

Gouffre de Montaigu e um outro que não lembro o nome... - França

Cidade: Crosey-le-Petit
Departamento: JURA
Saída junto ao Speleoclub Chilly Masarin
Final de semana específico de aperfeiçoamento e técnica.

22 e 23 de Abril de 2005

Estivemos neste final de semana no departamento do JURA onde há um grande maciço de calcáreo na divisa da França com a Suíssa. Tratou-se de uma viagem com poucas pessoas (5 espeleólogos) para a visita no abismo de Montaigu com seus -385m de profundidade.

Entramos no abismo Sábado por volta das 10hs da noite e saímos por volta das 17hs. O intuito foi de aperfeiçoamento e treinamento vertical em um abismo mais profundo. O abismo se encontra em uma das várias dolinas de uma didatica seqüência em linha reta no alto de uma colina calcárea. Descemos até -250m quando resolvemos voltar antes de entrar em uma rede labiríntica vertical que leva até o ponto mais profundo da cavidade. Após a entrada em meio a raiz de uma árvore encontra-se um lance de 35m seguido por uma vasta sala que dá acesso a lindos lances dos quais os 2 primeiros são bastante amplos (55m e 40m, diretos). Montaigu foi descoberto em 1913 e explorado por completo em 1932 por espeleólogos de Pays de Montbéliard. Vale a pena a visita.


No Domingo passamos por um outro abismo da região o qual não sei o nome. Descemos até – 65m onde encontramos uma rede de galerias apertadas em meio a muita lama. Encontramos 3 outros grupos de espeleólogos neste abismo. Pela primeira vez na França pude observar um verdadeiro congestionamento vertical de espeleólogos e cordas. Também valeu a visita apesar da falta de informação sobre o abismo.

Também tive a oportunidade de observar pela primeira vez na prática a equipagem através de cordonetes de dynema de 6 mm, técnica bastante utilizada pelo grupo em equipes pequenas como nesta ocasião. Outra prática que tive contato pela primeira vez é o descaso sobre a teoria de ângulo nas ancoragens duplas. Segundo eles, apos vários testes realizados por fabricantes de equipamento e pela escola francesa, esta teoria não se aplica na prática, considerando entre outros fatores, a elasticidade da corda. Meses depois eu viria a confirmar isto em um estágio na própria escola francesa de espeleologia.

Dormimos em um alojamento próprio para espeleólogos (Gita espeleológica), uma hospedagem perfeita dispondo de beliches, banheiros, cozinha e um bom espaço para armazenagem e limpeza de equipamentos. E tudo isso por preços irrisórios para o padrão França. Isso sim que é incentivo!

Reseau de la Sonnette - França


Nome: Reseau de la Sonnette / Reseau de Avenir – Grande Viaille;
Cidade: Savonnières en Perthois – Carrière du Village
Departamento: Perthois;

17 e 18 de Abril de 2005 – Speleoclub Chilly Masarin;

Aí vai mais um relatório de saída para uma caverna na França.
Desta vez, a saída foi junto ao Speleoclub Chilly Massarin, grupo dos arredores de Paris.

A Reseau (ou rede) de La Sonnette é um complexo de galerias escavadas artificialmente para extração de calcário, prática comum na França em outras épocas. Ao longo das galerias, abrem-se abismos naturais, encontrados ao acaso durante as escavações.
A entrada para a o complexo subterrâneo faz-se através de uma sinuosa estrada de terra. Após passar por alguns portões aparentemente abandonados, a estrada encerra sua fase a céu aberto e adentra na montanha em uma espécie de túnel. Eis as galerias escavadas.
Eu já havia estacionado o carro perto das entradas de cavernas o que nos exclui das trilhas e caminhadas de aproximação, mas desta vez havíamos superado todas as expectativas. Estávamos trilhas dentro delas!
Avançamos pelo labirinto subterrâneo alguns minutos até chegarmos a uma sala bastante ampla onde estacionamos os veículos e montamos acampamento. Daquele momento em diante não veríamos mais a luz do dia até o domingo, quando voltaríamos à Paris.
Desta sala parte-se em direção a 2 redes de galerias verticais. Abismos naturais em meio às galerias escavadas. O objetivo da saída era iniciação de novatos ao grupo e à espeleologia. Justamente por este motivo é que havia se escolhido este local onde era possível estar por um bom período continuamente abaixo da terra (2 dias) e com uma certa estrutura possibilitando o fácil acampamento. Com um pouco de caminhada, as galerias acessavam 2 abismos naturais. O Abismo de La Sonnette e o abismo de Grande Viaille.
O grupo era grande (cerca de 15 pessoas) e foi dividido em dois, cada um se dirigindo para um dos abismos.

O Abismo de la Sonnette, mais profundo (-65m) possui logo no início um bonito lance de 30m seguido por outros 3 lances pequenos até o fundo do abismo. O último deles, um belo garrafão com as paredes laterais arredondadas.

Na volta ao acampamento foi preparada uma quente sopa espeleológica (que na verdade não esquentou muito a temperatura) e boa parte da sala foi iluminada a velas. Durante o tempo todo a temperatura da rede subterrânea ficou em torno de 6 graus (muito frio para um mortal brasileiro!).

Obviamente sem tomar banho, fomos dormir. Eu não havia entendido perfeitamente todas as prévias recomendações de pernoite e estava munido apenas de um leve saco-de-dormir tropical e um isolante térmico de promoção.
A noitada nesta temperatura e sob estas condições foi obviamente memorável. Tentando fugir do frio, vesti todas as minhas roupas secas de uma só vez, entrei dentro do sleep e, ainda não satisfeito, tentei me espremer dentro de minha mochila cargueira, ainda seca. Devo ter ganho alguns importantes graus celcius com esta última medida desesperada porém, para minha infelicidade, quando comecei a cochilar (dormir é luxo demais nestas condições) os despertadores tocaram...
No Domingo, ainda doendo de frio depois do café da manhã, resolvi desistir de conhecer o menor abismo e saí para me esquentar e secar minhas roupas (e mochila) no sol. Sábia decisão!

Grand gargai de la Sainte-Victoire - França



St-Antonin - Montagne Ste-Victoire;
Cidade: Aix-en-Provence
Departamento: Alpes de haute Provence;

Visita de treinamento técnico vertical;
27 de Fevereiro de 2005 – Grupo CAF ( Clube Alpin Francaise – contact Richard);

Eis a primeira caverna que efetivamente visitei na França. Após participar de algumas reuniões no CAF (Clube Alpino Frances) mostrando fotos e algumas revistas do Brasil fui convidado a acompanhar uma turma em uma saída de treinamento. Cabe lembrar que fazia pouco tempo que eu estava no país e a comunicação com as pessoas em francês não estava lá grande coisa.
Consegui entender que a caverna ficava no Mont Sant Victoire e que deveríamos nos encontrar em uma avenida, perto da casa em que eu estava hospedado, às 5hs da manhã, em ponto.
O resto, não entendi muito bem mas não poderia deixar de ser detalhes insignificantes.

Na manhã combinada e no local exato encontrei o Richard e o Christofe e outros integrantes do CAF em um tradicional velho furgão branco de espeleólogo, digamos de passagem, carro adequadíssimo à atividade.
Uma meia hora de estrada e já estávamos a beira do maciço de Sant Victoire, uma imponente montanha de calcário completamente exposto com cerca de 800m de altura de sua base a seu cume. O cinza do calcário ainda estava rosado, com as primeiras luzes do dia. Estacionamos o carro há beira da montanha e enquanto descíamos nossas mochilas e corda um dos espeleólogos do grupo aponta para o cume da montanha e, com certo ar de gozação me diz algo assim: “a caverna fica lá encima, bem na pontinha da montanha. Preparado pra subir?”. Tentei sem sucesso me certificar com as outras pessoas do grupo que ele estava brincando mas pelo meu desespero todas confirmaram a informação.

Iniciamos a trilha de subida antes mesmo que eu pudesse me preparar psicologicamente. “Hoje será um dia daqueles!”, pensei comigo mesmo.
A subida, que por si já penante, foi obviamente agravada pelo peso dos equipamentos de vertical, cordas e tudo o mais. Até certo ponto caminhamos sobre o calcário, em trilhas bastante íngremes. Depois, iniciamos vias mais inclinadas e passando a “escalaminhar”.
A beleza era deslumbrante e contribuiu bastante para que o tempo passasse rápido. Na verdade, a subida nem foi tão pesada como eu imaginava (nada como um pessimismo nestas horas!). O clima frio, o céu absolutamente azul e a beleza do lugar compensavam o esforço. As montanhas vizinhas, outrora altas, agora não passavam de pequenos morrotes, lá embaixo.

Cerca de 3 horas depois de iniciarmos a subida já estávamos praticamente no cume. Paramos para comer em um pequeno platô há alguns metros da parte mais alta da montanha. Ao nosso lado as paredes já estavam totalmente verticais. Um pouco acima ficava uma passagem de rocha chamado Arco das Andorinhas e logo a frente do platô, uma boca vertical dava acesso ao interior da montanha. Era enfim o objetivo de nossa subida: o Abismo Garganta de Sant Victoire.
Almoçamos ali, entre uma deslumbrante vista. Segundo os franceses, podíamos sentir a brisa do mar de Marseille, há cerca de 50km a Sul. As vezes um forte vento dava rajadas nervosas. Era o Mistral, que pode atingir enormes velocidades derrubando escaladores desavisados. Após uma boa sessão de queijos e vinhos, perfeito para o lugar, nos equipamos e iniciamos a descida do abismo, agora pela parte interior da montanha.
Maravilha!

Trata-se de um abismo clássico, todo equipado e com diversas escolhas de ancoragem. Dois sucessivos poços acessam o fundo desmoronado de um grande salão. Um fracionamento negativo na metade do segundo lance exige um pouco de técnica do espeleólogo, porém, de forma geral o abismo pode ser considerado fácil.
Algumas galerias bastante ornamentadas nas partes mais profundas. Uma inscrição dos primeiros exploradores e os restos das escadas utilizadas nas primeiras explorações são encontradas no fundo do abismo. Ao chegar na inscrição notamos uma assombrosa coincidência: Estávamos exatamente à 67 anos do dia em que o abismo foi explorado.
No fundo do grande salão ainda podíamos ver os restos das escadas velhas de ferro utilizadas pelos exploradores. Na França não é raro encontrarmos dentro das cavernas restos de equipamentos antigos utilizados em outras épocas e abandonados devido ao peso e dificuldade de levá-los de volta à superfície.

No momento de subida me vi em uma situação um pouco inusitada: um dos espeleólogos, bastante cansado, não conseguiu transpor o fracionamento aéreo e se enroscou entre seus equipamentos e as cordas. Como eu era a pessoa abaixo mais próxima coube a mim prestar o devido socorro. Subi até ele, que estava suspenso na metade do maior lance, há cerca de 40m do fundo. Realizamos uma espécie de contra-peso para conseguir desenroscar o fulano e reconectá-lo à corda de subida. Ele não era tão leve mas confesso que a maior dificuldade não foi de levantá-lo e realizar a manobra mas sim de conseguir explicar em francês, o que eu estava fazendo.