"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Especialização em Patrimônio Espeleológico

Entre os dias 20 e 24 de outubro, aconteceu mais uma viagem de campo do Curso de Especialização em Patrimônio Espeleológico da Universidade de Passo Fundo (UPF), realizada em parceria com a Casa de Cultura de Marabá (PA).

Após meses de aulas teóricas on-line, esta etapa presencial permitiu que os alunos aplicassem, em ambiente real, diversas técnicas de topografia e espeleofotografia, além de participarem também de aulas práticas de biologia subterrânea e arqueologia.

As atividades de topografia ocorreram na Caverna Araguaia, localizada no simpático povoado de Santa Cruz, às margens do Rio Araguaia, na divisa entre os estados do Pará e Tocantins. Os alunos realizaram o mapeamento de um abrigo com galerias subterrâneas interconectadas, utilizando desde técnicas analógicas até métodos digitais de topografia.

As aulas de fotografia foram ministradas na Caverna das Andorinhas, situada na serra de mesmo nome, no município de São Geraldo do Araguaia. Nesse local, uma cavidade mais ampla e desafiadora, os alunos puderam aprimorar suas técnicas, experimentando diferentes soluções fotográficas e utilizando seus próprios equipamentos.

Conversas e caminhadas arqueológicas também foram realizadas na vila de Santa Cruz, um local repleto de sítios arqueológicos a céu aberto, testemunho de uma ampla ocupação humana na região.

Ambos os locais visitados são Unidades de Conservação administradas pelo IDEFLOR-Bio (Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade), órgão ambiental do estado do Pará.

O curso de especialização encontra-se atualmente em sua 3ª edição.
Saiba mais no site da UPF.

3a Turma durante oficina de espeleofotografia

Prática de técnicas diferentes de fotografia 

Treinamentos em diferentes técnicas

Técnicas para captação de ação e movimento

Treinamento de contexto e documentação de aspectos geológicos

Oficina de topografia, com diferentes equipamentos e técnicas

Croquis: todos os participantes tiveram a oportunidade de treinar diferentes responsabilidades na equipe topográfica.

Leitura entre bases


Demonstração de topografia digital

Inscrições rupestres em ilha no Rio Araguaia

Inscrições rupestres em ilha no Rio Araguaia























Você conhece as cavernas da Amazônia?

Por ser uma região de proporções continentais, é muito difícil definir um padrão para as cavernas amazônicas. Há cavernas de todos os tipos, tamanhos e litologias.

No entanto, algumas características se destacam, em termos espeleológicos, em relação ao restante do país. Uma delas, sem dúvida, é a ocorrência das cavernas ferríferas. Diferentes de outros tipos de cavidades, essas formações, embora geralmente menores do que as cavernas desenvolvidas em rochas carbonáticas ou siliciclásticas, são igualmente relevantes do ponto de vista científico, histórico e arqueológico.

Muitas delas certamente serviram de abrigo durante a ocupação humana na Amazônia. Além disso, abrigam bactérias singulares, colônias de morcegos e outros animais, o que as torna de importância máxima no cenário nacional.

Nos últimos anos, alguns estudos têm avaliado o potencial turístico e educativo dessas cavernas, e os resultados são promissores, apontando para a necessidade de planos de conservação e revelando um grande potencial regional para o uso sustentável.

Texto e fotografias: Daniel Menin


Entrada de uma das cavernas estudada.
O musgo contribui para a fragilidade e também beleza cênica da cavidade.

Galerias subterrâneas.

Entrada em meio à mata amazônica.

Morfologia característica de cavernas ferríferas.

Pesquisadores coletando dados de monitoramento ambiental.


Quer saber mais sobre cavernas amazônicas? Conheça o projeto Luzes na Escuridão, Volume 3 e o Atlas das Grandes Cavernas do Brasil (GBPE, 2019).