"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci
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sábado, 21 de novembro de 2020

De volta à Paripiranga e Uauá

 Uma nova expedição à Paripiranga e Serra do Uauá foi realizada em Novembro de 2020. Os objetivos eram principalmente dar continuidade à coleta de dados de campo para pesquisas paleoclimáticas e topografar uma caverna encontrada na última viagem. Também foram mapeadas as cavernas do Cazuza e o Abismo do Meio do Morro do Parafuso, em Paripiranga. Ambas já conhecidas e parcialmente estudadas, mas ainda sem mapas.

Devido aos cuidados decorrentes da pandemia, um grupo reduzido de espeleólogos participou das atividades e a equipe buscou estar isolada, principalmente no município de Uauá. Um relatório de pesquisa e geoconservação referente às cavernas da região foi gerado e disponibilizado para a prefeitura, uma vez que as cavernas estão dentro de uma unidade de conservação, o Parque Municipal da Serra do Jerônimo.

As cavernas até o momento mapeadas pelo projeto são: Grutas do Jerônimo I e II (Uauá), Absimo do Meio do Morro do Parafuso e Caverna do Cazuza. 

O projeto é coordenado pelo Instituto de Geociências da USP e conta com o apoio de espeleólogos do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas (GBPE) e do Grupo Mundo Subterrâneo de Espeleologia (GMSE).

Vista de dentro da caverna Jerônimo II

A caverna do Jerônimo II está localizada no meio de um paredão rochoso no contato entre Ferro Bandado (BIF) e rocha Carbonática o que atribui à gruta um alto interesse geológico e científico. 



Marcas de extração de salitre, usada para produção de pólvora na caverna Jerônimo II, demonstram o valor histórico regional da caverna.


Espeleotemas corroídos provavelmente por biocorrosão.


Cúpolas e amplas salas com acúmulo de guano são características da caverna.






Análises químicas realizadas dentro da Caverna do Bom Pastor (Paripiranga)





quinta-feira, 4 de junho de 2020

Matéria da TV de Uauá sobre as pesquisas realizadas na Gruta do Jerônimo

A TV local da cidade de Uauá veiculou recentemente uma matéria produzida durante expedição realizada no Parque Municipal da Serra do Jerônimo, em Uauá, Bahia. Na matéria, espeleólogos falam sobre o projeto e a importância da caverna para a ciência e a conservação.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Caverna do Jerônimo, Uauá, Bahia


(Texto e fotos: Daniel Menin)


Localizada no topo da serra junto a um mirante, a Caverna do Jerônimo faz parte do Parque Municipal da da Serra do Jerônimo, na cidade de Uauá, norte do estado da Bahia.
Entre os dias 07 e 15 de Dezembro de 2019 de uma expedição organizada pelo Laboratório de Estudos do Carste do Instituto de Geociências da USP (IGc), com apoio do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas (GBPE) e do Grupo Mundo Subterrâneo de Espeleologia (GMSE), esteve no local realizando pesquisas e a topografia da caverna.
Cadastrada pelo Grupo Bambuí há mais de duas décadas e mesmo sendo destino turístico conhecido na região, a caverna até hoje permaneceu sem um mapa produzido.
Com grandes salas e muitos espeleotemas, a gruta que, atualmente tem visitação controlada por um portão, já foi palco de extração de salitre e apresenta muitos sinais de depredação. Mesmo assim, ainda dispõe de relevante beleza cênica, além dos valores científico, histórico e cultural.

O mapa recém produzido foi fornecido às instituições locais, à biblioteca da SBE e estará disponível para estudos e pesquisas de interesse público.



A caverna tem como característica grandes salada e relevante valor estético.



Muitos espeleotemas apresentam morfologia rara, com sinais de intemperismo.
Restos mumificados de um quadrúpede

Em muitas partes da caverna observa-se sinais de depredação com estalagmites e colunas quebradas

Local de antiga extração de salitre, provavelmente um dos motivos das depredações encontradas.

Sala com grande acúmulo de guano (fezes de morcego).
  
Grande coluna com muito desgaste de intemperismo.








terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Expedição científica percorre nordeste do estado da Bahia em busca de registros do clima do passado

Entre os dias 07 e 15 de Dezembro de 2019 uma expedição com cientistas especialistas em geologia, climatologia e espeleologia percorreu mais de 1000km de empoeiradas estradas de terra no árido sertão do nordeste, no Estado da Bahia.
A expedição foi liderada pelo Professor Dr Francisco W da Cruz Junios (Chico Bill), do Instituto de Geociências da USP (IGC) e teve colaboração de espeleólogos da UFB (universidade Federal da Bahia) do GMSE (Grupo Mundo Subterrrâneo de Espeleologia) e do GBPE (Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas).
A viagem percorreu cavernas nos municípios de Paripiranga, Uauá e Campo Formoso e o objetivo era encontrar espeleotemas que pudessem fornecer registos climáticos de parte dos últimos 20 mil anos na região (final do Pleistocêno e Holoceno), um período relativamente recente em se tratando de idades geológicas.
O campo compreendeu a uma pequena etapa de um projeto que vem mapeando o clima da Terra nos últimos 200 mil anos e que já teve conteúdos publicados em revistas científicas de grande repercussão, como a britânica Nature. Espeleotemas podem representar registos climáticos de boa parte do Pleistocêno, já foram coletadas estalagmites com 600 mil anos de registros sobre o regime e  a origem das chuvas na região onde elas se encontravam.
Entender o clima do passado ajuda os cientistas a criar modelos que permitem explicar melhor as mudanças climáticas do presente bem como prevê-as no futuro.
Além das pesquisas climáticas as equipes também realizaram levantamentos topográficos e fotográficos de algumas cavernas da região.

(Texto e fotos, Daniel Menin)

Por muito tempo a caverna de Bom Pastor foi usada em eventos religiosos recebendo visita maciça de fiéis. Recentemente espeleólogos locais têm feito trabalhos de isolamento de espeleotemas para determinar área de caminhamento e proteger de depredações.

Teto de conglomerado repleto de fósseis na Gruta do Bom Pastor

Escada de acesso construída na Gruta do Bom Pastor.

Rappel no fundo de uma dolina dá acesso ao Abismo do Cazuza.


Dezenas de baratas encontradas em uma região específica do Abismo do Cazuza.

Vista do alto da Serra do Jerônimo, onde encontra-se a Caverna do Jerônimo. 

Cadáver em decomposição de uma cabra, provavelmente perdida na caverna (Caverna Jerônimo - Uauá)

Grandes salas e formações caracterizam a caverna do Jerônimo, em Uauá. Mesmo a caverna tendo sido amplamente depredada, ainda resta grande beleza cênica e de potencial científico e pedagógico.

Trabalhos de topografia na Caverna Jerônimo - Uauá


Ossada de um quadrúpede, provavelmente um bode perdido dentro da caverna.

Grande coluna com alto grau de intemperismo, encontrada na Caverna do Jerônimo.

Grandes salas na Caverna Jerônimo - Uauá



A caverna de Jerônimo também era amplamente visitada em cultos religiosos e extração de salitre. Por todos seus salões, encontram-se estalagmites e colunas depredadas. 

A extração de salitre era realizada em escavações como esta visível na fotografia. Com o piso rompido pelas escavações, acumulam-se estalagmites quebradas próximo às áreas de extração.

A caverna de Jerônimo também era amplamente visitada em cultos religiosos e extração de salitre. por todos seus salões encontram-se estalagmites e colunas depredadas. 

Algumas das formações já depredadas foram utilizadas como amostras

Grande espeleotema retirado de sua posição original durante escavações de extração de salitre. Na parte de baixo, à direita, é possível observar buraco deixado para as escavações.

Alguns condutos na Toca da Boa Vista apresentam marcas de água em diferentes níveis fornecendo dados sobre épocas chuvosas na região.


Toca da Boa Vista, Bahia



Equipe de trabalho
Outras fotografias da expedição podem ser encontradas NESTE LINK.