Há
10 anos estivemos na Caverna Paraíso, localizada no meio da mata Amazônica, no
estado do Pará. Além da exploração, o objetivo da viagem era continuar o
mapeamento iniciado em uma ocasião anterior e realizar coletas científicas para
estudo de paleoclima, estudos que mapeiam o clima da terra em diferentes
regiões através de registros deixados no crescimento de estalagmites. Quanto
mais rápido o crescimento da formação, mais húmido foi o período registrado.
Como a Amazônia não conta ainda com muitas cavernas de calcário conhecidas, as
amostras coletadas na Caverna Paraíso serviriam como uma das principais fontes
de informação da região. Os geólogos Francisco William da Cruz Junior (Chico Bill), do
Instituto de Geociências da USP e Augusto Auler, do Instituto do Carste
organizaram a expedição e o estudo das amostras.
Dez anos se passaram e os resultados estão agora se tornando públicos. Um artigo
recém publicado na mais importante revista científica do mundo, a Nature, está
dando grande visibilidade às pesquisas. Segundo a matéria, a Amazônia passou,
nos últimos 45mil anos, por grandes variações climáticas alternando épocas de
muita umidade com épocas de menos chuva. De acordo com os resultados, durante a
última glaciação – cerca de 21 mil anos atrás – o leste da Amazônia era bem
menos úmido do que hoje, com aproximadamente 58% da chuva dos tempos atuais.
Mais recentemente, cerca de 6 mil anos atrás, o estudo detectou um período de
grande umidade, com 42% mais chuva do que nos dias de hoje (Revista FAPESP, 2017).
A
Caverna Paraíso tem grande variação de fauna e também uma rica colação de
formações. Apesar de ser hoje a maior caverna em Calcário conhecida na
Amazônia, com cerca de 3km de desenvolvimento, é constantemente ameaçada por
estar localizada próximo à lavras em plena atividade. Durante as expedições na
região, cruzamos constantemente com caminhões de mineradoras locais operando a
todo vapor. Um movimento está sendo
organizado para se comprovar a importância da gruta e transformar a região em
parque. Se isto for realizado, não somente a Caverna Paraíso, mas outras que
possam existir nas proximidades terão uma chance de serem preservadas.
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