terça-feira, 27 de julho de 2010
EspeleoInfo - Informativo do CECAV - Ano2 - Nº 2 - 2010
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Materia sobre a Caverna do Trapiá
Ficou um pouquinho exagerada em alguns aspectos, mas valeu pela publicação.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Enfim, a conclusão da topografia na Caverna do Trapiá, RN
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
E as surpresas continuam no RN... continuam... continuam..
Os preparativos ocorreram milimetricamente como planejávamos. Ou quase. A Leda chegou cedo em Fortaleza na Sexta-feira, e cedo também tomamos nosso rumo à Mossoró. Apesar da péssima condição da estrada chegamos cedo em em nosso destino (antes das 22hs) e resolvemos seguir direto para Felipe Guerra onde dormiríamos na pousada de sempre. Dormiríamos...
Acontece que a pousada estava lotada por conta de festividades locais. Paradoxalmente por sorte, havíamos errado o caminho e por conta disso realizado uma grande volta por uma estrada mais longa, mas passando em frente a uma pousada bacana. A pousada ficava cerca de 20km de Felipe Guerra, no sentido contrário do caminho correto... Voltamos e nos instalamos nesta segunda opção.
Dia seguinte encontramos com nossos companheiros do CECAV e seguirmos direto para a caverna. Mais uma vez, bem intensionados, tentamos encontrar pontos para spits e mais uma vez resolvemos descer com ancoragens naturais. Os cuidados para posicionar o nó da descida mais alto que das outras vezes e uma barriga na corda na ancoragem ajudaram a entrada e saida do abismo serem menos penosos.
A descida foi rápida. É verdade que todos estavam mais treinados do que das outras vezes. Uma vez no conduto principal, nos desequipamos e seguimos entusiasmados para as continuações. Em menos de 1 hora chegamos no ponto final da topo anterior. Tinhamos a nossa frente realmente um belo file em se tratando de caverna. Visadas de 20, 30, 35m. Nenhuma pegada. Melhor que isso somente se a temperatura da caverna fosse mais amena. Acontece que o calor interno é fortíssimo (em média 32graus) além de muito humido e sem nenhum sinal de circulação de ar. Tinhamos que nos mover com calma e beber muita água para repor o que perdíamos.
Em poucos minutos já estávamos enxarcados e exaustos. As gotas de suor misturadas com terra pingavam na folha de croquis gerando uma irritante lama em cima do desenho.
E assim topografamos o dia todo cerca de 450m de belos condutos. Algumas tiradas retas, algumas leves curvas e áreas bem ornamentadas. Destaque para alguns setores repletos de ossos bem calcificados e alguns bem grandes, possivelmente de megafauna.

Mas não foi neste dia que chegaríamos no final da caverna. Resolvemos parar a alguns metros de uma curva. Caminhei até a curva apenas para confirmar a continuidade da caverna naquele mesmo padrão e deixamos para prosseguir a topo no dia seguinte. Nos acompanhou à essa empretada o Walter, companheiro de Vôo livre e muiti-atleta, com boas noções de vertical e iniciando-se na espeleologia.
No dia seguinte nossa equipe estava mais reduzida. O próprio Walter, com a empolgação de sua primeira caverna, acabou sobrecarregando seus joelhos em passagens apertadas no dia anterior o que os fez amanhecer inchados... melhor não arriscar.
Como haviamos deixado a caverna equipada, nossa descida no Domingo foi ainda mais rápida. Em pouco tempo estávamos nos limites do dia anterior e dando prosseguimento à topografia. A caverna continuava sem nenhuma dificuldade ou obstáculo. Mais visadas enormes intercalando partes ornamentadas e verdadeiros condutos de metrô.

Após cerca de 300m a caverna começa a mudar sua morfologia. Os condutos ficam mais volumosos, com grandes blocos no solo e teto bem mais alto. Em um determinado ponto encontramos uma piscina, ou melhor, uma pequena poça d’agua, o suficiente para molharmos nossas mãos e levar um pouco de água ao rosto e à cabeça. Um grande alivio diante daquele calor insuportável. E continua…
Topografamos até um ponto onde seria preciso escalar grandes blocos para prosseguir. Resolvemos fixar uma base e pararmos a topo neste ponto. Além dos blocos, não se via uma continuação óbvia, parecia estarmos próximos ao fim. Resolvi atravessar o desmoronamento e averiguar se a gruta terminaria ali ou se haveria novamente alguma continuação. Após os blocos a caverna fazia mais uma curva à esqueda. Ao chegar na curva iluminei o conduto com a força máxima da lanterna e o que vi à frente foi novamente o vazio inexplorado. Amplos condutos ainda nos aguardam à frente. Neste segundo dia havíamos topografado 490m somando quase 1000m em todo final de semana. Praticamente dobramos o tamanho da caverna o que estava muito além de nossas expectativas.
Georeferenciando o mapa em imagem de satélite observamos que não estamos muito longe do rio Apodi.

O que nos aguarda da próxima vez? Uma saída próxima ao rio Apodi? Acho improvavel visto o calor e a falta de circulação de ar... Uma passagem subersa (sifão) uindo a caverna ao rio poderia ser uma boa especulação. Para saber ao certo teremos que aguardar e nos preparar para a próxima investida.
A única certeza que temos hoje é de que inicia-se aqui uma nova fase de trabalhos nesta caverna: o vertical de sua entrada, o calor intenso em seu interior, o tempo de deslocamento até o ponto de trabalho entre outros importantes fatores representam riscos a mais e exigem toda uma logística de equipemantos e planejamento da expedição. Além desse planejamento, os espeleologos envolvidos deverão ter uma preparação física e principalmete psicológica para encarar a encrenca. Nada mais natural quando se trata da mais pura espeleologia!
Até as próximas!
quarta-feira, 18 de março de 2009
Passagem submersa, abelhas, falta de oxigênio...
Estávamos muito entusiasmados com as descobertas da última viagem e com a suposta ampla continuidade ainda inexplorada. Já fui me preparando psicologicamente durante toda a semana. Arrumei minha mochila com equipamentos, alimentos e iluminação extra pensando em uma incursão mais longa dentro da caverna.
No Sábado acordamos cedo e rumamos diretamente para entrada da caverna. Tudo indicava que seria uma grande exploração. Devido à umas abelhas na entrada do abismo decidimos usar os mesmos pontos de ancoragem como das outras vezes ao invés de batermos spits em outro ponto conforme planejado. A entrada da caverna é daquelas bem chatinhas. Literalmente um buraco no chão, passagem estreita sem nenhum apoio aos pés. O ponto de fixação da corda baixo faz com que o espeleólogo fique em posições difíceis ao entrar na cavidade. Se entrar já é chato muito mais irritante é sair. Pendurado a uma altura de cerca de 20m o espeleólogo tem que se espremer enquanto eleva-se na corda e projeta seu corpo para fora da caverna.
Tivemos que descer em silêncio pois o barulho das abelhas indicava forte atividade bem pertinho da entrada. A surpresa maior foi quando nos penduramos na corda, já na parte de dentro da caverna e demos de cara com elas construindo uma colméia, logo nos primeiros metros da descida. Neste momento, suspenso a 20m do fundo e após ter passado a sofrível entrada o caminho para baixo, apesar de mais longo, é claramente o mais rápido e seguro em caso de qualquer urgência…
Descemos rapidamente seguimos direto para o sifão da caverna. A esperança era de que ele, apesar das chuvas de alguns dias anteriores, estivesse seco o suficiente para possibilitar nossa passagem. Doce ilusão, o sifão estava cheio e a passagem submersa.
Forçamos um pouco, entrei na água algumas vezes. Mergulhei apalpando o fundo e o teto e…. nada!. Mergulhei de novo e fui sifão adentro agora de ré e… nada. Nem sinal de encontrar o outro lado. A água, já bastante turva não facilitava o trabalho. Era apenas uma pequena passagem, com teto baixo e dentro da água, mas arriscado demais para forcar uma passagem novamente mergulhando. Tentamos baixar o nível de água com as mochilas estanques, mas sem nenhum sucesso perceptível. Após cerca de 40 minutos “secando” a passagem observamos que nosso esforço era em vão. Resolvemos desistir e voltar no dia seguinte.
Deixamos o abismo equipado para o dia seguinte, mas desta vez não foi o sifão que impediu nossa entrada, mas sim as abelhas que estavam bem mais ativas. Fiquei alguns minutos próximo ao ponto de descida, na entrada da caverna para ver como elas reagiam na nossa presença e elas começaram a ficar mais agitadas, como se avisassem que desta vez seriam menos tolerantes… resolvemos não arriscar.
Ainda no Domingo tentamos iniciar o mapa de outra caverna na mesma região. A gruta da Raínha é conhecida pela sua beleza, mas também pelo sufocante calor em seu interior. Nosso plano era tentar descer um abismo no final da caverna e topografar do abismo para a entrada.
Mais uma vez nosso trabalho foi bloqueado e desta vez o oxigênio foi a barreira encontrada. Além de extremamente quente, quanto mais se avança caverna adentro mais difícil fica a respiração. Próximo ao abismo fica bastante perigoso arriscar uma descida em corda sem algum equipamento para auxiliar a respiração. Independente dos esforços físicos, estávamos sem ar, disputando oxigênio como se acabássemos de correr 100m rasos!
Mais uma vez resolvemos não arriscar. Passagem submersa, abelhas, falta de oxigênio... muitos eventos para um só final de semana. Melhor dividir estas barreiras em várias outras viagens futuras.

Este trabalho só está sendo possível devido à parceria entre o CECAV/RN e espeleólogos de diversos grupos do Brasil unidos através da lista Meandros.
Até as próximas!
sexta-feira, 6 de março de 2009
Descobertas e surpresas no RN
Fotos Daniel Menin e Leda Zogbi
Para chegar na caverna, só mesmo com trilha no GPS, porque a estradinha tem diversas bifurcações, e seria difícil se localizar. O carro fica a uns 30 m do buraco, então nos equipamos no carro mesmo e rumamos para a entrada do abismo, que fica numa dolina, mato por todo lado. Não é um lagedo aberto como boa parte das cavernas que fomos anteriormente no RN.
O Daniel resolveu usar uma árvore que tinha perto da entrada do abismo para ancorar, e mais um pedaço da rocha bem na boca. Desceu primeiro. Aos poucos fomos descendo todos menos o Iatagan e o Darcy que iam ficar prospectando outras cavernas na região e cuidando da corda também (eles estavam com medo de alguém levar a corda, ia ser mesmo dureza...). O abismo tem 18 m de altura e é bem ornamentado: você desce no meio dos escorrimentos, bem bonito.

Esse abismo de entrada chega bem no meio do conduto principal da caverna, que segue para os dois lados. Resolvemos fazer duas equipes, cada uma avançando para um lado diferente da caverna. Deixamos água e comida na entrada, pois havíamos a impressão de que o nosso lado da caverna seria curto, o plano era mapear esta parte e voltar para ajudar a outra equipe no conduto "principal" da caverna.

Fomos evoluindo em um conduto único, com uns 4/5m de largura, e chão de areia. Um bom trecho era teto baixo, tipo com 1/1,20m de altura. O conduto ia meandrando em curvas suaves, e havia diversas cúpulas com escorrimentos no teto, um alívio, porque dava para ficar em pé por alguns instantes antes de continuar a topo. Atingimos depois de uns 150m um salão, onde encontramos uma enorme caranguejeira e alguns escorrimentos bem bonitos (sala da caranguejeira).

Como a hora já estava adiantada e não tinhamos bebido e nem comido nada, amarramos uma base fixa na entrada do escorrimento e voltamos até o abismo de entrada. Foi gozado, porque a outra equipe estava chegando exatamente na mesma hora. E o mais incrível: achamos amarrado em uma corda uma geladeirinha de isopor com duas cocas litro!!!! Parecia miragem, mas eram os colegas Iatagan e Darcy que tinham feito essa boa ação para nós... A equipe do Daniel contou que tinha mapeado um salão muito ornamentado, e depois havia uma bifurcação. Pegaram à direita e foram até um ponto muito apertado, onde após algumas dezenas de metros rastejando, o conduto parecia ter pouco oxigênio. Deixaram parte do mapa em aberto e voltaram.
Da bifurcação ficou faltando verificar o lado esquerdo.

Já eram umas 3h30, e ficamos na dúvida entre voltar para continuar a topo ou sair. A maioria acabou resolvendo sair e deixar a continuação para o dia seguinte. O apelo da cerveja estava "alto", vocês não imaginam o calor dentro da caverna... Voltamos para a pousada, e depois do banho ainda tive forças de lançar os dados no Compass para ver como estava ficando a caverna... Já tinhamos somado 638m de trena!
Dia seguinte, café da manhã na pousada e lá fomos nós para o buraco. Já estava todo mundo mais "safo" depois da experiência do dia anterior. Montamos de novo duas equipes: a primeira iriam checar o buraco que deixamos em cima do escorrimento, e a segunda (a minha) iria continuar o mapa do ramo esquerdo da bifurcação.
Chegamos logo no salão que eles haviam mapeado no dia anterior, e fui dar uma olhada. Tem realmente algumas flores de gipsita. Segundo os amigos do RN, isso é raríssimo por aqui. No dia anterior a equipe do Daniel havia encontrado também um dente, possivelmente de onça. Para chegar na dita cuja da bifurcação, é preciso passar por um sifãozinho, um teto baixo que enche de água.

No total, a topo chegou em 1225m de linha de trena.
A época das chuvas está começando, e a caverna deve ficar logo com boa parte inundada. Antes disto, uma nova expedição está sendo organizada onde uma equipe de topografia continuará o trabalho neste conduto que, até agora, não apresenta nenhum sinal de estar próximo ao fim…
Na saída, paramos de novo no boteco (lógico), que ninguém é de ferro. Depois de um último brinde, fomos tomar um banho rápido na pousada e tomamos o rumo de Mossoró…
Valeu mesmo pessoal!
Não sei se poderei estar presente já nesta próxima empreitada mas espero poder ir de novo mapear com a galera do RN!!.
