"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci
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terça-feira, 27 de julho de 2010

EspeleoInfo - Informativo do CECAV - Ano2 - Nº 2 - 2010



Recentemente foi publicado o segundo número do EspeleoInfo, Boletin Eletrônico do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas - Cecav/ICMBio.

Neste segundo número são apresentadas algumas atividades em desenvolvimento no CECAV como também outras que estão sendo implementadas. Entre estas atividades está a conclusão dos trabalhos de mapeamento da Caverna do Trapiá, realizada em parceria com o grupo Meandros e cuja as fases do projeto estão descritas em detalhes ao longo deste blog. 

Quem tiver interesse em receber o Espeleoinfo completo pode entrar em contato conosco ou diretamente com o CECAV (http://www4.icmbio.gov.br/cecav/index.php?id_menu=252).



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Materia sobre a Caverna do Trapiá

Saiu uma matéria na Ciência Hoje sobre a Caverna do Trapiá, que mapeamos lá no RN.
Ficou um pouquinho exagerada em alguns aspectos, mas valeu pela publicação.


http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2010/01/gigante-subterranea

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Enfim, a conclusão da topografia na Caverna do Trapiá, RN

Texto: Daniel Menin
Fotos: Daniel Menin, Leda Zogbi
Mapa: Leda Zogbi

Neste final de semana passado, estivemos mais uma vez no RN para, junto com a equipe do Cecav-RN, para continuar os trabalhos de exploração e topografia da caverna do Trapiá. A ultima viagem havia sido inesquecível: topografamos mais de 900 m de galerias e acabamos interrompendo os trabalhos apenas pela falta de tempo e cansaço. Tudo isto em amplos condutos sem nenhum sinal de afunilamento ou término da caverna.

Nossas expectativas eram grandes para esta próxima viagem, mas tinhamos um certo receio se a caverna realmente se estenderia por muito mais do que já havíamos conhecido, pois ao plotar a topografia numa imagem de satélite, observamos que o termino da topografia da caverna estava há cerca de 500 m de distância em linha reta do Rio Apodi, somente. Outro indício de que não encontraríamos uma outra saída da caverna era a falta de circulação do ar interno. Por estes motivos, eu já estava me preparando para não encontrar grandes continuações.

Como nas outras viagens, decidimos ir de Fortaleza para Mossoró na Sexta-feira à noite, de jipe. O combinado era pegar a Leda e o Walter no aeroporto às 18h30 e de lá seguir direto para Mossoró. Iniciamos a viagem lá pelas 19h30, e logo após percorrer alguns km de estrada fomos surpreendidos com um desconfortável barulho embaixo do carro. Começamos uma busca a algum mecânico de plantão. Pára em um posto de gasolina, pergunta em outro, entra na cidade mais próxima, faz retorno, vai pra outra cidade, pára em outro posto, discute com palpiteiros, mais um posto de gasolina e acabamos resolvendo retornar à Fortaleza. Durante esse percurso de volta à capital, achamos melhor desconsiderar a viagem de Jipe e alugar um carro para resolver de vez a encrenca. Após todo um “tour” pelo anel viário de Fortaleza, voltamos ao aeroporto e alugamos um econômico Palio 1000, o que acabou sendo muito melhor devido à economia e conforto da viagem. Era esta alternativa ou correr um sério risco de ficarmos na estrada, em um caminho deserto, com estradas em péssimo estado de conservação e relativamente perigosas (trecho Fortaleza-Mossoró).

Chagamos tarde em Mossoró, mas inteiros o suficiente para continuar até Felipe Guerra. Chegamos na pousada lá pelas 2hs da manhã. Outro custo foi conseguir acordar a D. Zila, dona da pousada, que tem um sono pesadíssimo, para descobrirmos onde era os nossos quartos...

Não dormimos muito. Logo de manhã (5hs) uma galera insistia em gritar pela pousada acordando todos os hóspedes que ainda tentavam dormir. Levantamos às 8hs e como das outras vezes, chegamos na caverna lá pelas 10hs da manhã. Rapidamente ancoramos a corda, e nem tão rapidamente seguimos para o ponto final da última topografia. O calor era extremo, a dificuldade de se locomover e a sensação de pouco oxigênio, apesar de serem barreiras já conhecidas, eram sempre bastante incômodas. Segui na frente, junto com o Diego e o Wilson, e pudemos fazer algumas fotografias enquanto aguardávamos o resto da equipe. Logo após a passagem do “Paraíso do Chico”, começa uma série de longos condutos. Avenidas com belas formações, sóis, discos voadores, conduto estelar, observatório...


Também paramos para fotografar o conduto “mudamorfo”, onde a caverna muda seu aspecto físico, ficando com teto muito mais alto e blocos desmoronados no conduto. Apesar de estarmos no inicio da atividade o calor já incomodava e a paciência para as fotos era pequena.

Cerca de 2hs após entrarmos na gruta, estávamos no ponto final da topografia da viagem anterior. Dali em diante, cada metro seria novo no mapa. Todos chegamos bastante cansados e ofegantes, mas após alguns minutos de descanso, fomos nos recuperando.


Resolvemos parar para comer e descansar antes de iniciar qualquer atividade de topografia. Diante do calor extremo e das dificuldades de respiração mesmo após vários minutos de repouso, parte da equipe achou melhor não continuar adiante, mas tomar o caminho de volta. Claramente não se tratava de falta de condicionamento físico, mas sim de uma combinação entre adaptabilidade ao ambiente subterrâneo, alta temperatura e baixa circulação de ar. Cansaço físico misturado a fatores psicológicos, que podem gerar respostas fisiológica inesperadas... Antes de entrarmos, o Walter propôs uma analise interessante para uma próxima investida: medir as respostas fisiológicas dos integrantes da equipe (batimentos cardíacos, temperatura, pressão) para mapear, mesmo que de forma superficial, as respostas do corpo humano diante desta condição extrema de calor. Nesta oportunidade as medidas não se fizeram necessárias para confirmar, na prática, que a situação na caverna é realmente extrema...
Existe potencial de outras cavernas grandes na região, porém, com restrições, devido às características das lentes de calcário, aparentemente rasas e horizontais e em formas de lajedos. O CECAV-RN, apesar de suas limitações de estrutura, vem realizando um ótimo trabalho de prospecção e identificação das cavernas na região, catalogando, mapeando e estabelecendo as áreas de proteção no entorno das grutas.
A parte mais difícil da topografia, nos metros que se seguiam, era a transposição de grandes blocos abatidos e cobertos de lama, que tinhamos que escalar ou passar em fendas estreitas entre blocos. Nada muito técnico, mas qualquer acidente por menor que fosse poderia representar um problema sério.


Uma vez ultrapassadas essas barreiras, a caverna voltou a apresentar a sua morfologia predominante. Grande conduto serpenteando, com caminho de rio seco, teto alto e solo de areia. 
Mais algumas curvas e chegamos novamente a um ponto de subida na lama. Achamos uma escalada mais fácil pela lateral e acessamos um patamar a alguns metros do solo, porém tínhamos que descer do outro lado. Desta vez a descida era mais complicada: apenas uma estreita passagem entre um grande bloco e a parede da caverna, com afiadas pontas dificultando os apoios e rasgando o macacão de quem se atrevesse. E foi assim que deixei boa parte da minha camiseta rasgada na rocha. Antes que os outros passassem pelo mesmo aperto, resolvi dar uma corrida mais à frente para averiguar a continuidade da gruta. O conduto se estreitou um pouco, mas logo depois abriu novamente. A quantidade de blocos no solo indicava um desmoronamento à frente. Mais alguns metros e me deparei com a obstrução completa do conduto por muitos blocos e lama. Entrei em uma passagem mais evidente, rastejando entre os blocos. Aperta mais um pouco e me encontrei em meio a um quebra-corpo bastante estreito e instável. Resolvi retornar. Seria sim possível forçar alguma passagem, porém nas condições de cansaço, sem nenhuma circulação de ar e baixas expectativas de continuidade resolvi não correr mais riscos. Outra evidência do final da caverna era a quantidade de materiais levados pela água e depositados naquele ponto como “efeito peneira”. Era o suposto final da caverna e certamente o fim do nosso mapeamento.
Voltei até a Leda e o Diego, que decidiu não descer pela passagem. A Leda desceu, e mapeamos juntos este ultimo trecho da caverna.
A volta também foi cansativa. A cada parada bebíamos muita água e derramávamos no rosto o excesso não consumido (um indescritível alívio!). Como das outras vezes, tínhamos deixado algumas garrafas cheias d’água ao longo do caminho, o que nos ajudou bastante na volta.


A Caverna do Trapiá, com este mapeamento atinge seus 2.325m ultrapassando em desenvolvimento outras importantes cavernas do Nordeste (Furna Feia, Ubajara). 


Apesar dos amplos condutos e belas formações, desaconselhamos fortemente a visitação turística na gruta devido por diversos fatores, como o acesso perigoso (abismo de 18 m com abelhas), a elevada temperatura interna (cerca de 34 graus, muita umidade e sem nenhuma circulação de ar) e algumas passagens de rastejamento (teto-baixo, sifão, passagens entre blocos).

Por outro lado, a Trapiá é sem dúvida um importante registro espeleológico, não somente para o Rio Grande do Norte, mas para toda a região Nordeste.


Agradecemos especialmente ao Jocy, Diego, Wilson, Iatagan e Darcy, funcionários do CECAV que, além de terem oferecido esta parceria, nos convidando para mapear a gruta com eles, sempre nos deram todo o suporte, demonstrando alto nível de profissionalismo, parceria e amizade.
Valeu galera e até as próximas!


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

E as surpresas continuam no RN... continuam... continuam..

Texto: Daniel Menin
Fotos: Daniel Menin, Leda Zogbi Walter Cortez

A expectativa para esta viagem era enorme. O amplo conduto deixado em aberto em uma das viagens anteriores e o insucesso da última investida faziam deste final de semana especial. A época de chuvas havia passado e o nível da água no sifão já estava baixo, o que foi confirmado pelo próprio CECAV em uma averiguação prévia. As abelhas que nos atrapalharam nas outras viagens também já não eram um problema pois haviam sido retiradas por moradores locais. Sem estas barreiras, certamente desvendaríamos a tão esperada continuação da caverna.

Os preparativos ocorreram milimetricamente como planejávamos. Ou quase. A Leda chegou cedo em Fortaleza na Sexta-feira, e cedo também tomamos nosso rumo à Mossoró. Apesar da péssima condição da estrada chegamos cedo em em nosso destino (antes das 22hs) e resolvemos seguir direto para Felipe Guerra onde dormiríamos na pousada de sempre. Dormiríamos...

Acontece que a pousada estava lotada por conta de festividades locais. Paradoxalmente por sorte, havíamos errado o caminho e por conta disso realizado uma grande volta por uma estrada mais longa, mas passando em frente a uma pousada bacana. A pousada ficava cerca de 20km de Felipe Guerra, no sentido contrário do caminho correto... Voltamos e nos instalamos nesta segunda opção.

Dia seguinte encontramos com nossos companheiros do CECAV e seguirmos direto para a caverna. Mais uma vez, bem intensionados, tentamos encontrar pontos para spits e mais uma vez resolvemos descer com ancoragens naturais. Os cuidados para posicionar o nó da descida mais alto que das outras vezes e uma barriga na corda na ancoragem ajudaram a entrada e saida do abismo serem menos penosos.

A descida foi rápida. É verdade que todos estavam mais treinados do que das outras vezes. Uma vez no conduto principal, nos desequipamos e seguimos entusiasmados para as continuações. Em menos de 1 hora chegamos no ponto final da topo anterior. Tinhamos a nossa frente realmente um belo file em se tratando de caverna. Visadas de 20, 30, 35m. Nenhuma pegada. Melhor que isso somente se a temperatura da caverna fosse mais amena. Acontece que o calor interno é fortíssimo (em média 32graus) além de muito humido e sem nenhum sinal de circulação de ar. Tinhamos que nos mover com calma e beber muita água para repor o que perdíamos.


Em poucos minutos já estávamos enxarcados e exaustos. As gotas de suor misturadas com terra pingavam na folha de croquis gerando uma irritante lama em cima do desenho.

E assim topografamos o dia todo cerca de 450m de belos condutos. Algumas tiradas retas, algumas leves curvas e áreas bem ornamentadas. Destaque para alguns setores repletos de ossos bem calcificados e alguns bem grandes, possivelmente de megafauna.


Mas não foi neste dia que chegaríamos no final da caverna. Resolvemos parar a alguns metros de uma curva. Caminhei até a curva apenas para confirmar a continuidade da caverna naquele mesmo padrão e deixamos para prosseguir a topo no dia seguinte. Nos acompanhou à essa empretada o Walter, companheiro de Vôo livre e muiti-atleta, com boas noções de vertical e iniciando-se na espeleologia.

No dia seguinte nossa equipe estava mais reduzida. O próprio Walter, com a empolgação de sua primeira caverna, acabou sobrecarregando seus joelhos em passagens apertadas no dia anterior o que os fez amanhecer inchados... melhor não arriscar.

Como haviamos deixado a caverna equipada, nossa descida no Domingo foi ainda mais rápida. Em pouco tempo estávamos nos limites do dia anterior e dando prosseguimento à topografia. A caverna continuava sem nenhuma dificuldade ou obstáculo. Mais visadas enormes intercalando partes ornamentadas e verdadeiros condutos de metrô.


Após cerca de 300m a caverna começa a mudar sua morfologia. Os condutos ficam mais volumosos, com grandes blocos no solo e teto bem mais alto. Em um determinado ponto encontramos uma piscina, ou melhor, uma pequena poça d’agua, o suficiente para molharmos nossas mãos e levar um pouco de água ao rosto e à cabeça. Um grande alivio diante daquele calor insuportável. E continua…


Topografamos até um ponto onde seria preciso escalar grandes blocos para prosseguir. Resolvemos fixar uma base e pararmos a topo neste ponto. Além dos blocos, não se via uma continuação óbvia, parecia estarmos próximos ao fim. Resolvi atravessar o desmoronamento e averiguar se a gruta terminaria ali ou se haveria novamente alguma continuação. Após os blocos a caverna fazia mais uma curva à esqueda. Ao chegar na curva iluminei o conduto com a força máxima da lanterna e o que vi à frente foi novamente o vazio inexplorado. Amplos condutos ainda nos aguardam à frente. Neste segundo dia havíamos topografado 490m somando quase 1000m em todo final de semana. Praticamente dobramos o tamanho da caverna o que estava muito além de nossas expectativas.

Georeferenciando o mapa em imagem de satélite observamos que não estamos muito longe do rio Apodi.

O que nos aguarda da próxima vez? Uma saída próxima ao rio Apodi? Acho improvavel visto o calor e a falta de circulação de ar... Uma passagem subersa (sifão) uindo a caverna ao rio poderia ser uma boa especulação. Para saber ao certo teremos que aguardar e nos preparar para a próxima investida.

A única certeza que temos hoje é de que inicia-se aqui uma nova fase de trabalhos nesta caverna: o vertical de sua entrada, o calor intenso em seu interior, o tempo de deslocamento até o ponto de trabalho entre outros importantes fatores representam riscos a mais e exigem toda uma logística de equipemantos e planejamento da expedição. Além desse planejamento, os espeleologos envolvidos deverão ter uma preparação física e principalmete psicológica para encarar a encrenca. Nada mais natural quando se trata da mais pura espeleologia!

Até as próximas!

quarta-feira, 18 de março de 2009

Passagem submersa, abelhas, falta de oxigênio...

Texto Daniel Menin - Mapa Leda Zogbi

No final de semana de 07 e 08/03 realizamos como combinado mais uma viagem ao RN para continuar os trabalhos de mapeamento em parceria com o CECAV.

Estávamos muito entusiasmados com as descobertas da última viagem e com a suposta ampla continuidade ainda inexplorada. Já fui me preparando psicologicamente durante toda a semana. Arrumei minha mochila com equipamentos, alimentos e iluminação extra pensando em uma incursão mais longa dentro da caverna.

No Sábado acordamos cedo e rumamos diretamente para entrada da caverna. Tudo indicava que seria uma grande exploração. Devido à umas abelhas na entrada do abismo decidimos usar os mesmos pontos de ancoragem como das outras vezes ao invés de batermos spits em outro ponto conforme planejado. A entrada da caverna é daquelas bem chatinhas. Literalmente um buraco no chão, passagem estreita sem nenhum apoio aos pés. O ponto de fixação da corda baixo faz com que o espeleólogo fique em posições difíceis ao entrar na cavidade. Se entrar já é chato muito mais irritante é sair. Pendurado a uma altura de cerca de 20m o espeleólogo tem que se espremer enquanto eleva-se na corda e projeta seu corpo para fora da caverna.

Tivemos que descer em silêncio pois o barulho das abelhas indicava forte atividade bem pertinho da entrada. A surpresa maior foi quando nos penduramos na corda, já na parte de dentro da caverna e demos de cara com elas construindo uma colméia, logo nos primeiros metros da descida. Neste momento, suspenso a 20m do fundo e após ter passado a sofrível entrada o caminho para baixo, apesar de mais longo, é claramente o mais rápido e seguro em caso de qualquer urgência…

Descemos rapidamente seguimos direto para o sifão da caverna. A esperança era de que ele, apesar das chuvas de alguns dias anteriores, estivesse seco o suficiente para possibilitar nossa passagem. Doce ilusão, o sifão estava cheio e a passagem submersa.

Forçamos um pouco, entrei na água algumas vezes. Mergulhei apalpando o fundo e o teto e…. nada!. Mergulhei de novo e fui sifão adentro agora de ré e… nada. Nem sinal de encontrar o outro lado. A água, já bastante turva não facilitava o trabalho. Era apenas uma pequena passagem, com teto baixo e dentro da água, mas arriscado demais para forcar uma passagem novamente mergulhando. Tentamos baixar o nível de água com as mochilas estanques, mas sem nenhum sucesso perceptível. Após cerca de 40 minutos “secando” a passagem observamos que nosso esforço era em vão. Resolvemos desistir e voltar no dia seguinte.

Deixamos o abismo equipado para o dia seguinte, mas desta vez não foi o sifão que impediu nossa entrada, mas sim as abelhas que estavam bem mais ativas. Fiquei alguns minutos próximo ao ponto de descida, na entrada da caverna para ver como elas reagiam na nossa presença e elas começaram a ficar mais agitadas, como se avisassem que desta vez seriam menos tolerantes… resolvemos não arriscar.

Ainda no Domingo tentamos iniciar o mapa de outra caverna na mesma região. A gruta da Raínha é conhecida pela sua beleza, mas também pelo sufocante calor em seu interior. Nosso plano era tentar descer um abismo no final da caverna e topografar do abismo para a entrada.

Mais uma vez nosso trabalho foi bloqueado e desta vez o oxigênio foi a barreira encontrada. Além de extremamente quente, quanto mais se avança caverna adentro mais difícil fica a respiração. Próximo ao abismo fica bastante perigoso arriscar uma descida em corda sem algum equipamento para auxiliar a respiração. Independente dos esforços físicos, estávamos sem ar, disputando oxigênio como se acabássemos de correr 100m rasos!

Mais uma vez resolvemos não arriscar. Passagem submersa, abelhas, falta de oxigênio... muitos eventos para um só final de semana. Melhor dividir estas barreiras em várias outras viagens futuras.

Este trabalho só está sendo possível devido à parceria entre o CECAV/RN e espeleólogos de diversos grupos do Brasil unidos através da lista Meandros.

Até as próximas!


sexta-feira, 6 de março de 2009

Descobertas e surpresas no RN

Por Leda Zogbi
Fotos Daniel Menin e Leda Zogbi

Para chegar na caverna, só mesmo com trilha no GPS, porque a estradinha tem diversas bifurcações, e seria difícil se localizar. O carro fica a uns 30 m do buraco, então nos equipamos no carro mesmo e rumamos para a entrada do abismo, que fica numa dolina, mato por todo lado. Não é um lagedo aberto como boa parte das cavernas que fomos anteriormente no RN.
O Daniel resolveu usar uma árvore que tinha perto da entrada do abismo para ancorar, e mais um pedaço da rocha bem na boca. Desceu primeiro. Aos poucos fomos descendo todos menos o Iatagan e o Darcy que iam ficar prospectando outras cavernas na região e cuidando da corda também (eles estavam com medo de alguém levar a corda, ia ser mesmo dureza...). O abismo tem 18 m de altura e é bem ornamentado: você desce no meio dos escorrimentos, bem bonito.

Esse abismo de entrada chega bem no meio do conduto principal da caverna, que segue para os dois lados. Resolvemos fazer duas equipes, cada uma avançando para um lado diferente da caverna. Deixamos água e comida na entrada, pois havíamos a impressão de que o nosso lado da caverna seria curto, o plano era mapear esta parte e voltar para ajudar a outra equipe no conduto "principal" da caverna.

Fomos evoluindo em um conduto único, com uns 4/5m de largura, e chão de areia. Um bom trecho era teto baixo, tipo com 1/1,20m de altura. O conduto ia meandrando em curvas suaves, e havia diversas cúpulas com escorrimentos no teto, um alívio, porque dava para ficar em pé por alguns instantes antes de continuar a topo. Atingimos depois de uns 150m um salão, onde encontramos uma enorme caranguejeira e alguns escorrimentos bem bonitos (sala da caranguejeira).
Mapeamos uns 350m, e chegamos num escorrimento alto que praticamente entupia a continuidade do conduto, restando apenas uma fresta de uns 30cm de altura por cima do escorrimento (na parte mais alta) , uns 2,20m acima do nível do chão. Escalamos pela parede oposta e colocamos a cara e a lanterna pelo buraco, e deu para ver que continuava bastante... Logo depois desse escorrimento à direita, achamos uma passagenzinha que dava acesso para uma sala meio ovalada, altíssima: medimos 27m de altura até o teto, também cheio de escorrimentos. Desligamos as lanternas para ver se tinha alguma luz externa, mas não deu para ver luz nenhuma entrando pelo teto. Nessa sala, havia muitos bichos: um amblipígeo gigantesco, uma rãzinha... Chamamos a sala de "cúpula dos Bichos" .
Como a hora já estava adiantada e não tinhamos bebido e nem comido nada, amarramos uma base fixa na entrada do escorrimento e voltamos até o abismo de entrada. Foi gozado, porque a outra equipe estava chegando exatamente na mesma hora. E o mais incrível: achamos amarrado em uma corda uma geladeirinha de isopor com duas cocas litro!!!! Parecia miragem, mas eram os colegas Iatagan e Darcy que tinham feito essa boa ação para nós... A equipe do Daniel contou que tinha mapeado um salão muito ornamentado, e depois havia uma bifurcação. Pegaram à direita e foram até um ponto muito apertado, onde após algumas dezenas de metros rastejando, o conduto parecia ter pouco oxigênio. Deixaram parte do mapa em aberto e voltaram.
Da bifurcação ficou faltando verificar o lado esquerdo.

Já eram umas 3h30, e ficamos na dúvida entre voltar para continuar a topo ou sair. A maioria acabou resolvendo sair e deixar a continuação para o dia seguinte. O apelo da cerveja estava "alto", vocês não imaginam o calor dentro da caverna... Voltamos para a pousada, e depois do banho ainda tive forças de lançar os dados no Compass para ver como estava ficando a caverna... Já tinhamos somado 638m de trena!
Dia seguinte, café da manhã na pousada e lá fomos nós para o buraco. Já estava todo mundo mais "safo" depois da experiência do dia anterior. Montamos de novo duas equipes: a primeira iriam checar o buraco que deixamos em cima do escorrimento, e a segunda (a minha) iria continuar o mapa do ramo esquerdo da bifurcação.
Chegamos logo no salão que eles haviam mapeado no dia anterior, e fui dar uma olhada. Tem realmente algumas flores de gipsita. Segundo os amigos do RN, isso é raríssimo por aqui. No dia anterior a equipe do Daniel havia encontrado também um dente, possivelmente de onça. Para chegar na dita cuja da bifurcação, é preciso passar por um sifãozinho, um teto baixo que enche de água.
Quando os meninos tinham passado na véspera, parece que o nível da água estava bem mais alto, mas meu santo é forte e o nível baixou bem. Passamos o sifão e entramos na bifurcação à esquerda, e daí começou a felicidade plena: um conduto, de areia e seixos, meandrando continuamente. Chegamos então numa sala redonda bem ornamentada, com um nível superior e logo depois mais condutos altos. Em umas 3h mapeamos 400m... Nossa água acabou (tínhamos levado uma garrafa de 1,5 l, mas foi pouco, pelo calor que faz lá dentro). Depois que toda equipe resolveu parar mesmo, ainda andei (na verdade corri) mais uns 100m, e a coisa continuava no mesmo padrão... Na volta, a passagem pelo sifãozinho cheio de água foi uma maravilha... O calor era tanto, que acho que até saiu fumaça quando entramos na água. Voltamos lá pelas 14h, e encontramos a Renata já na corda: eles também tinham acabado de chegar... Tinham mapeado mais 200m depois do escorrimento que havíamos deixado no dia anterior. Quase tudo no teto-baixo, mas condutos largos e bem formados.
No total, a topo chegou em 1225m de linha de trena.
A época das chuvas está começando, e a caverna deve ficar logo com boa parte inundada. Antes disto, uma nova expedição está sendo organizada onde uma equipe de topografia continuará o trabalho neste conduto que, até agora, não apresenta nenhum sinal de estar próximo ao fim…
Na saída, paramos de novo no boteco (lógico), que ninguém é de ferro. Depois de um último brinde, fomos tomar um banho rápido na pousada e tomamos o rumo de Mossoró…
Valeu mesmo pessoal!
Não sei se poderei estar presente já nesta próxima empreitada mas espero poder ir de novo mapear com a galera do RN!!.