"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci
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domingo, 2 de fevereiro de 2025

O que os sedimentos nas cavernas podem nos contar sobre o passado?

Como era o clima há algumas dezenas de milhares de anos atrás? Como era a vegetação e a fauna onde esta caverna está localizada?

Costumo dizer que cavernas são como máquinas do tempo. Ao explorar esses ambientes, exploramos também o passado.

As fotografias abaixo foram realizadas durante uma expedição científica às cavernas de Iraquara, Bahia, na Chapada Diamantina. O objetivo da viagem foi a observação e coleta de sedimentos para pesquisas sobre os paleoambientes daquela região. Através de datações radiométricas nos cristais de quartzo contidos nestes sedimentos é possível saber quando essa "areia" foi trazida para dentro da caverna por grandes inundações. Junto com ela, uma série de informações dos paleoambientes também podem ser extraídas.

Datações radiométricas calculam o decaimento radioativo de alguns minerais ao longo dos anos, como o quartzo. Através dela, é possível saber quando esses minerais receberam os últimos raios solares. Existem também as radiações cosmogênicas, elas conseguem identificar em minerais (como o Berilo, por exemplo) a radiação que eles receberam vinda do universo profundo. Sim, porque não é somente o sol que emite radiações, mas as estrelas também.  

A pesquisa de sedimentologia realizada na região faz parte de uma parceria entre o Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP), a Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) e a Universidade do Vale do São Francisco (UNIVASF).

Fotos: Daniel Menin.
Antes de reproduzir, consulte a fonte e converse com o autor.

 
















quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Estudos na Caverna Paraíso publicados na revista Nature

Há 10 anos estivemos na Caverna Paraíso, localizada no meio da mata Amazônica, no estado do Pará. Além da exploração, o objetivo da viagem era continuar o mapeamento iniciado em uma ocasião anterior e realizar coletas científicas para estudo de paleoclima, estudos que mapeiam o clima da terra em diferentes regiões através de registros deixados no crescimento de estalagmites. Quanto mais rápido o crescimento da formação, mais húmido foi o período registrado. Como a Amazônia não conta ainda com muitas cavernas de calcário conhecidas, as amostras coletadas na Caverna Paraíso serviriam como uma das principais fontes de informação da região. Os geólogos Francisco William da Cruz Junior (Chico Bill), do Instituto de Geociências da USP e Augusto Auler, do Instituto do Carste organizaram a expedição e o estudo das amostras.


Dez anos se passaram e os resultados estão agora se tornando públicos. Um artigo recém publicado na mais importante revista científica do mundo, a Nature, está dando grande visibilidade às pesquisas. Segundo a matéria, a Amazônia passou, nos últimos 45mil anos, por grandes variações climáticas alternando épocas de muita umidade com épocas de menos chuva. De acordo com os resultados, durante a última glaciação – cerca de 21 mil anos atrás – o leste da Amazônia era bem menos úmido do que hoje, com aproximadamente 58% da chuva dos tempos atuais. Mais recentemente, cerca de 6 mil anos atrás, o estudo detectou um período de grande umidade, com 42% mais chuva do que nos dias de hoje (Revista FAPESP, 2017).





A Caverna Paraíso tem grande variação de fauna e também uma rica colação de formações. Apesar de ser hoje a maior caverna em Calcário conhecida na Amazônia, com cerca de 3km de desenvolvimento, é constantemente ameaçada por estar localizada próximo à lavras em plena atividade. Durante as expedições na região, cruzamos constantemente com caminhões de mineradoras locais operando a todo vapor.  Um movimento está sendo organizado para se comprovar a importância da gruta e transformar a região em parque. Se isto for realizado, não somente a Caverna Paraíso, mas outras que possam existir nas proximidades terão uma chance de serem preservadas.