"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci
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terça-feira, 21 de maio de 2013

Serra do Caraça, Maio de 2013


Escalar a Serra do Caraça para explorar as cavernas em seu cume é uma das atividades mais próximas ao que podemos chamar de espeleologia alpina no Brasil. Como se não bastasse as dificuldades da altitude e do difícil acesso, os espeleólogos ainda têm que lidar com a complexidade das cavernas da região. Grandes fendas de Quartzito (uma rocha instável e de difícil equipagem), que podem chegar a centenas de metros de profundidade. A mais profunda, a Gruta do Centenário, tem mais de 484 metros de profundidade mapeados estando entre as mais profundas cavernas do mundo nesta litologia. Estas dificuldades fazem do pico do Inficionado , no Caraça, um dos locais onde a atividade torna-se a mais extrema e adversa em nosso país.

O grupo Bambuí vem há mais de uma década explorando e mapeando as estas profundas cavernas e a expedição de Maio foi mais uma dentre tantas outras vezes que os espeleólogos lidaram com tamanhas dificuldades.

Subimos o Caraça no final da tarde da Sexta-feira, 17 de Maio de 2013. Devido a uma chuva repentina e frio durante a subida, chegamos no cume na madrugada de Sábado. Acampamento realizado, investimos o final de semana em equipagens e início de topografia de novas cavernas. A descida foi realizada no Domingo ao longo do dia, após a exploração de uma fenda identificada e explorada parcialmente em uma viagem anterior. Parece termos retornado com mais pendências do que quando iniciamos a expedição o que indica que serão necessários ainda muitos anos e energia para explorar e documentar todas as cavernas desta região. 

Escrevo este texto alguns dias após nosso retorno, ainda sentindo dores no corpo e as pernas fracas diante de todo esforço aplicado. Mas apesar do desgaste físico, escrevo feliz de poder ter participado de mais esta aventura, desta vez sobre as nuvens e ao mesmo tempo nos subterrâneos!

(Fotos Daniel Menin)


 













 






(Fotos Rafael Camargo, "Rafinha")