"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci
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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Retomada dos trabalhos no sistema Areias, PETAR - SP

Em Outubro de 2020, após mais de uma década da publicação do Livro sobre o Sistema Areias, contemplando também o mapa da Caverna Areias de Cima, uma frente de trabalho deu entrada a um novo projeto para retomar as explorações e documentações espeleológicas na região.

Ora realizado entre 2005 e 2006 pelo GPME (Grupo Pierre Martin de Espeleologia), parte dos mesmos espeleólogos assumiram o projeto em 2020 através do Meandros Espeleo Clube. A mudança de instituição é uma mera formalidade uma vez que espeleólogos de coordenação no passado também estão trabalhando no projeto atual. Além disso, as atividades são abertas a diferentes grupos desde que os espeleólogos tenham comprovada experiência. 

Uma primeira viagem foi realizada em Novembro de 2020 quando, em dois dias de atividades, 3 equipes retopografaram toda parte conhecida da caverna Areias de Baixo. Novas galerias também foram incorporadas no mapa bem como continuidades do sistema.

Além da caverna, também foram identificadas drenagens e dolinas com potencial de aumentar a relevância espeleométrica das cavidades do sistema.

Como de costume, as viagens têm apoio do PETAR (Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira) e do Instituto Florestal e seguem todas as recomendações de segurança diante das restrições da pandemia.


Formações típicas de água turbulenta (Squellops) em condutos superiores da caverna



Contudo típico do sistema, em forma de fenda.


Novo conduto fóssil incorporado no mapa

Grande sala já conhecida em mapeamentos anteiores.

Boa parte da caverna é realizada em condutos vadosos



Recepção na saída da caverna.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Sistema Areias em Fotos

O Sistema Areias, no PETAR, SP sempre foi especial para mim. Já nos meados de 1997, antes de ser de algum grupo de espeleologia, eu perambulava pelos intermináveis condutos, rios e labirintos subterrâneos do sistema insistindo em encontrar conexões ou novas saídas das cavernas. Era programa obrigatório em todas as viagens para o PETAR. Mas foi somente em 2004, depois de ter entrado no GPME que, após muito incentivar os companheiros do grupo, conseguimos autorização do parque e iniciamos a mapear detalhadamente a caverna Areias de Cima. Foi um trabalho que realizamos entre os anos de 2004 e 2007. Um projeto que deu um grande ânimo para o grupo e, graças a dedicação excepcional da Leda em desenhar mapas (sejamos justos), conseguimos terminar o trabalho a tempo para o lançamento do livro ˜Sistema Areias, 100 anos de estudos", organizado pela Prof de Bio da USP Eleonora Trajano. Topografamos e exploramos muitos condutos ainda desconhecidos na caverna, mas na época, como eu ficava sempre incumbido de mapear as áreas mais profundas e distantes, nunca tive tempo de fotografar como gostaria os belos condutos e salões da Gruta. Fiquei com essa pulga atrás da orelha até semana passada, quando pudemos retornar à caverna e então fotografar alguns condutos com mais tempo e calma. O resultado são algumas das fotos que publico aqui no TerraSub. Não são apenas fotografias da caverna de Areias de Cima, mas também de outra caverna do mesmo sistema, a gruta Laboratório.
Fotos e textos Daniel Menin
















segunda-feira, 24 de março de 2008

29 de abril a 01 de maio de 2007

por Daniel Menin

No Feriado de maio realizamos mais uma viagem ao PETAR. O grupo estava fortemente representado e tinha cerca de 25 pessoas na casa da Cris mais algumas na pousada da Idaty.

Os objetivos no Projeto Passoca e arredores era terminar algumas pendências deixadas na Caverna do Agenor, se possível todas e inicia a topografia do Abismo da Passoca.
O mapa da caverna do Agenor estava quase pronto havendo apenas cerca de 4 ou 5 pequenas entradas a se averiguar.
Foi separada uma equipe logo no primeiro dia (Eu, Renata, Chico, Cris Albuqerque e João mergulhador carioca) e fomos até a caverna do Agenor. Os primeiros fechamentos foram as duas entradas, logo após a segunda corda. Em uma delas seguimos por uma fenda até um pequeno salão de onde observávamos um conduto superior a cerca de 5 metros acima. Eu, o João e o Chico escalamos esta passagem enquanto que a Cris e a Renata acharam melhor ficar aguardando para não se exporem à escalada e colocarem o papo em dia. Uma vez lá em cima acessamos mais um salão de onde partiam outros 5 condutos em diversas direções. Topografamos o maior deles que acessou o salão desmoronado, na área nova. De certa forma já conhecíamos este conduto, porém penetrá-lo através do salão era difícil pois há um abismo separando os dois.
Terminado a topografia deste conduto resolvemos topografar mais um dos outros 4 restantes. Alguns metros adiante e verificamos que 3 destes condutos levavam à mesma área. Um pequeno salão de teto baixo que após um pequeno ressalto escondia um belo poço de cerca de 10m de profundidade. A princípio, lá de cima não podíamos ver continuidades, mas já estava certo que deveríamos voltar outro dia com equipamento apropriado.
Deste salão saia mais um conduto de proporções animadoras, porém ainda de teto baixo. Alguns metros de rastejamento e este conduto começou a abrir. Iluminando a minha frente eu podia ver uma série de estalactities brancas e atrás delas um profundo vazio. Não era possível! Me aproximei mais um pouco, iluminei mais uma vez a continuação do conduto e pude verificar que a caverna abria mais e mais. Tentei reconhecer a área, mas a cada metro eu me certificava que não era uma área conhecida, mas mais um grande salão. Maravilha ! Deixei a novidade para se desvendar à medida em que a topografia avançasse e voltei para prosseguir o trabalho. Vamos seguir a topo por este conduto !, avisei o Chico e o João que contemplavam o poção pensando na melhor maneira de descer.
Topografamos o conduto que dava acesso a esse salão. O conduto estava próximo ao teto, portanto deveríamos descer por uma fenda para efetivamente acessar a continuidade da caverna. Avançamos mapeando até um primeiro patamar, já sobre ume montanha de travertinos bastante escorregadia. Desta parte pude iluminar mais à lateral, para onde o salão tinha seu maior desenvolvimento. Deste ponto podíamos ter idéia das dimensões desta área. A uns 30m de distância pudemos ver um altar de calcita, mais travertinos com grandes estalactities e mities. Topografamos até a base deste primeiro salão e resolvemos dar uma olhada no resto daquela área. Tivemos um pouco de dificuldade de acessar este altar, pois o mesmo, de calcita e argila é bastante frágil e não queríamos deixar muitas marcas. Uma vez em sua lateral pudemos verificar um grande vazio dos dois lados do altar. Estávamos no centro de um grande conduto de proporções ainda desconhecidas. Sem dúvida era até agora a área mais vasta da caverna. Mais vasta que o Salão das Pegáguas ou que o Banco-Central. Descemos do altar e seguimos primeiro pela parte da direita. Um chão plano e de argila estava todo marcado por profundas gretas. Pisávamos com cuidado para deixar o mínimo de marcas possíveis. Seguimos por este conduto até chegarmos em um outro salão bastante ornamentado e um desmoronamento.
Neste dia já estávamos cansados, pensamos na Renata e na Cris que ficaram nos esperando antes da escalada. Resolvemos voltar e deixar o resto deste salão, assim como a continuidade do outro lado do altar para a topo de outro dia.
Diversas vezes havíamos considerado praticamente o fim dos trabalhos na Caverna do Agenor. Restavam apenas pequenos fechamentos ou verificações de condutos que no final das contas acabaram continuando e abrindo outros caminhos. Mais uma vez saímos da caverna com muito mais trabalho do que entramos...

No Dia seguinte seguimos para caverna de Areias topografar a bifurcação nova, próximo ao fim da área da direita.

No último dia do feriado montamos novamente uma equipe para a caverna do Agenor. Daniel, Renata, Chico, Dennys, João e Marcos. Como estávamos com a trena a Laser resolvemos fazer duas equipes para o fechamento de mais 2 condutos na área do poção e para topografar a área do grande conduto novo. Partimos a topo do último ponto na base do primeiro salão. Em 2 equipes resolvemos topografar a área da direita seguindo o conduto principal e deixando condutos laterais em aberto. Uma equipe (Daniel, Chico e Dennys) seguiu a parede da direita enquanto que a outra equipe (Marcos, Renata e João) seguiu pela esquerda. Fechamos as duas topos na extremidade deste conduto, acima do desmoronamento e uma área bem próximo a uma saída. Escalando e forçando a passagem em alguns pontos pude sentir o vento exterior e o cheiro do mato, mas era impossível transpor pois tratava-se um teto de pequenos blocos desmoronados e instáveis. Forçando outro ponto cheguei a um deslizamento de argila onde, na parte mais superior, pude verificar no teto a raiz de árvores o que mais uma vez indica a proximidade da superfície. Pequenas conchas e animais também indicavam o contato com o meio exterior, mas em nenhum ponto identificamos alguma evidência de que esta passagem poderia ser maior do que alguns centímetros.Uma vez terminada esta parte seguimos para o altar, no meio do conduto e topografamos a continuidade da esquerda. Chegamos até o suposto fim do conduto em uma grande parede de escorrimento. À nossa direita uma enorme descida de blocos parecia contornar o conduto e voltar por um andar inferior. Topografamos esta decida deixando mais alguns pontos em aberto. Acessamos uma área de condutos menores, labirínticos e repletos de lama o que indica uma vazão não muito antiga de água. Nesta área, a base de um salão forma um enorme “ralo” para onde fatalmente a água escorre. A outra extremidade desta área entra em um quebra-corpo. Também existem condutos a princípio labirínticos que deixamos para topografar em outra ocasião. Estávamos exaustos em um dia onde topografamos cerca de 750 metros de caverna. Um recorde nos dias de hoje em cavernas novas no PETAR.