"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci
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quinta-feira, 3 de março de 2022

Desequipagem do Abismo Los Tres Amigos




Entre os dias 26/02 e 01/03 foi organizada mais uma viagem à região de Bulha D’água, no PETAR (Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira), em SP. 

O objetivo principal da viagem era desequipar o Abismo Los Três Amigos, caverna em exploração desde 2006 pelo Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas com apoio de espeleólogos de diferentes grupos.

O abismo é atualmente a 11ª caverna de maior desnível do país. Compreende a uma caverna com condutos e salas de grandes proporções, mas acessadas apenas por vias verticais. Um conjunto de poços dão acesso a galerias de grandes proporções com um conduto fóssil de abatimento e outro de rio, a cerca de 200m de desnível da única entrada conhecida.

Durante estes anos, ambas as extremidades foram exploradas e toda caverna topografada com a publicação do mapa em 2019. Entretanto, permanecem algumas possibilidades de continuação por passagens estreitas entre blocos e através de possíveis escaladas ao longo da gruta.

Diante das dificuldades de acesso a estas possibilidades foi tomada a decisão de retomar os esforços por fora da caverna, retirando as cordas de seu interior e buscando alternativas de uma outra entrada. Embora esta decisão tenha sido tomada há algum tempo, a saída para retirada das cordas foi atrasada algumas vezes por conta da pandemia.

Com a ausência de atividades na caverna, as trilhas estavam fechadas, o que atrasou em algumas horas a entrada da equipe no abismo. O primeiro dia da viagem, antes planejado para aumentar a estada na caverna, acabou sendo usado apenas na mata para abrir caminho em uma tentativa frustrada de encontrar a gruta. No dia seguinte os espeleólogos encontraram a caverna e deram início ao planejamento da viagem. Mesmo atrasando em quase um dia a atividade, 4 espeleólogos permaneceram por 27h dentro da caverna. Durante os trabalhos, além da desequipagem também foram realizadas fotografias em alguns grandes salões e corrigidos detalhes de croquis no mapa anterior.

Devido ao volume de todo equipamento retirado, parte das cordas permaneceu guardada em uma sala de fácil acesso à 40m de desnível. O equipamento será removido em uma próxima atividade a ser organizada com esta finalidade.

O Abismo Los Tres Amigos foi descoberto em 2006 e desde então representou um grande desafio para sua exploração e mapeamento. Fotos, história e mapa podem ser encontrados no Atlas do Brasil Subterrâneo (Rubbioli et al. 2019) e em uma publicação no ANAIS do 35º Congresso Brasileiro de Espeleologia (Menin, 2019). Os relatos de praticamente todas as saídas podem ser encontradas aqui neste site (buscando pelo nome do Abismo na área de pesquisa) e Blogo do Iscoti.


Conduto de abatimento com grande volume é uma constante na caverna. Cerca de 30m abaixo encontra-se o atual conduto ativo de rio.
Conduto de abatimento com grande volume é uma constante na caverna. Cerca de 30m abaixo encontra-se o atual conduto ativo de rio.

Nesta imagem observam-se os 2 níveis mais profundos da caverna: um grande conduto de abatimento e a descida para o conduto de rio, 30m abaixo.

Um dos pontos mais icônicos da gruta é esta grande cortina. Com mais de 25m de comprimento e cerca de 3m de diâmetro, é uma das maiores cortinas conhecidas no Brasil.

Nesta imagem observa-se a grande cortina e um chuveiro. A cerca de 30m abaixo encontra-se o conduto ativo de rio.


Da esquerda para a direita: Maria Souza, Daniel Menin, Thomaz R e Silva (Vagalume) e Lucas Padoan (Rejeito).
    

Referências:

RUBBIOLI, E., AULER, A. S., MENIN, D.; BRANDI, R. Atlas do Brasil Subterrâneo. Brasília: Editora IABS, 2019.

MENIN, D.S. Seria o abismo Los Três Amigos a última grande caverna em exploração?. In: ZAMPAULO, R. A. (org.) CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA, 35, 2019. Bonito. Anais... Campinas: SBE, 2019. p.185-189. Disponível em: <http://www.cavernas.org.br/anais35cbe/35cbe_185-189.pdf>. 

Conexão Subterrânea Edições #47 e #56

Blog do Iscoti: https://iscoti.wordpress.com
Revista O Carste: bambui.org.br



segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Novas descobertas no Abismo Los Tres amigos: e o mistério continua.




Saída de 17 e 18 de Agosto de 2019

A última vez em que descemos o abismo tivemos uma surpresa: na parte mais distante à jusante da caverna nos deparamos com pegadas. Eram marcas antigas, de bota, provavelmente de algum espeleólogo ou explorador que adentrou na caverna por outro caminho diferente ao que usamos pelas cordas, o que nos intrigou muito.

O palpite principal era que esta pessoa poderia ter vindo de cima, por um íngreme escorrimento em uma das paredes do último conduto de rio explorado por nós. Que ali haveria uma conexão com uma entrada mais fácil, por cima.

Esta viagem portanto estava planejada para se chegar até este ponto e escalar o escorrimento. Devido ao número de pessoas, dividimos a saída em duas equipes de fundo e uma equipe de superfície. A primeira (A) com objetivo principal de chegar ao extremo Leste e escalar o conduto das pegadas. Uma segunda (B) com a intenção de retornar à montante (extremo Oeste) e averiguar possíveis escaladas nos salões superiores. Já a terceira seguiria os trabalhos de prospecção externa em busca de alguma entrada superior, além do apoio da logística e segurança em caso de resgate.

A equipe de escalada estava formada por mim e mais 2 espeleólogos de Brasília: o Adolpho e Rodrigo Severo. A segunda equipe foi formada por dois espeleólogos locais (Dudu e Maurício) e o Alberto, de São Paulo. Já a terceira equipe estava formada pelo Fábio, Adelino e Zé Guapiara.

Devido à distância e complexidade da atividade, a equipe A estava preparada para, ao retorno, dormir no patamar a -40m da entrada retornando para a casa de pesquisa somente Domingo de manhã ou a tarde. Já as duas outras equipes estavam preparadas para retornar no mesmo dia.

Além de nossos pertences pessoais, estávamos bastante carregados por conta da escalada (furadeira e cordas suplementares) e o apoio da equipe B foi essencial carregando alguns equipamentos até o patamar.

Entramos na trilha as 8h30 da manhã, chegando na boca da caverna em 1h40 de caminhada. Quando estávamos equipando a primeira descida, encontramos a segunda equipe chegando pela trilha.  Entramos todos na caverna por volta das 10h30 do Sábado.

Nossa equipe desceu na frente seguindo direto até a sala do voo livre. Na descida, fui refazendo alguns nós para tirar a pressão constante dos mesmos pontos de corda. Uma vez com equipe reunida no salão do voo-livre, seguimos caminho por entre os grandes blocos rumo à Leste da caverna. O caminho está relativamente marcado o que facilitou a progressão. Os grandes blocos e desníveis desta parte da caverna dificultam bastante o avanço.

Fizemos algumas rápidas paradas para fotografar o corrimão calcificado na passagem da grande cortina e continuamos nosso caminho ao extremo da caverna. Depois de passar pelas grandes salas acessa-se enfim o conduto de rio. O rio em algumas partes parece cortar o acabamento da rocha formando pequenas cachoeiras, corredeiras e belos poços. Aproveitamos para fazer algumas fotos enquanto caminhávamos. Por volta do meio-dia chegamos ao conduto fóssil onde havíamos explorado na última viagem e de onde é necessário novo vertical para acessar novamente o rio.
Após algumas tentativas de otimização de cordas, acabamos usando uma de 10m para esta primeira aproximação e outras duas cordas para a descida vertical. Desta vez, deixamos todo o sistema equipado para uma próxima incursão.

Chegamos ao ponto de escala as 13h30. Após cozinhar um banquete liofilizado de frango com feijão, iniciamos a escalada. Com o auxílio da furadeira, fui montando seguranças psicológicas ao longo do escorrimento. Sem muito apoio, a subida seguiu por uma inclinação de 45 a 70 graus com parabolts mal colocados servindo apenas de apoio moral para a subida. O Rodrigo foi fazendo minha segurança e o limite do tamanho da corda foi suficiente para se chegar até um ponto menos inclinado onde fiz uma ancoragem dupla e desta vez com parabolts bem fixados na rocha. Nos juntamos os três no patamar. Era uma sala bonita, com grandes travertinos ainda ativos e profundos. De lá foi possível subir mais um lance, com início totalmente vertical e outra área inclinada onde pude fazer uma ancoragem segura em grandes estalagmites. Novamente ambos se uniram a mim em outro patamar muito ornamentado, repleto de canudos e colunas de 2 a 4m. Dali em diante a escalada ficaria muito mais difícil. Teríamos que subir entre frágeis concreções por uma parede parte negativa e sem grandes possibilidades de continuação. Era possível ver parte do teto da gruta a cerca de uma dezena de metros acima. Estávamos bastante expostos, com o rio cerca de 30m abaixo e a escalada não seria nada fácil. Achamos melhor desistir e descer recolhendo a corda.
Uma vez no rio, resolvi avançar por alguns metros até o desmoronamento de onde vimos as pegadas. A incursão foi rápida e observei algumas possíveis continuações entre blocos, principalmente por partes bastante altas ou entre a água. As 20h iniciamos o retorno para nosso acampamento. Voltamos direto, com algumas rápidas paradas para troca de baterias de lanterna e lanches.
Chegando próximo ao salão do voo livre escutamos vozes da segunda equipe que estava subindo a corda do rio, entre os grandes blocos desmoronados. Iniciamos direto a subida do voo livre com intuito de evitar longas esperas. Cansado, fui o primeiro a entrar na corda e devo ter levado cerca de 30 minutos para subir todo o lance. Logo após veio o Rodrigo que - em forma - levou apenas 10 minutos para subir carregando duas mochilas.
Chegamos no patamar a -40m, local de nosso acampamento, por volta da meia-noite. Cansados, nem fizemos comida mas preparamos nosso acampamento para dormir o mais rápido possível. Desta vez levamos isolante, novas mantas térmicas e sacos de dormir o que tornou a noite muito mais agradável. Por volta da 1h30 da manhã ouvi a segunda equipe passando por nós, mas estava cansado demais para levantar e conversar. Dali em diante foi uma alternância de sono, dores no corpo e despertar com fortes roncos que vinham da direção do Adolpho até que as 9h da manhã resolvemos levantar acampamento. Fizemos nova refeição quente, juntamos as coisas e iniciamos o restante da subida pelas cordas. Ao se aproximar dos últimos lances ouvi alguém gritando do lado de fora: era o Zé Guapiara, que estava na boca da caverna havia cerca de 2h nos aguardando. Santa ajuda! Iniciamos a trilha de retorno por volta do meio dia e chemos na casa de pesquisa as 13h30. No caminho ainda encontramos o restante das equipes que vinham voltando da casa para a caverna preocupados com o horário.

A equipe B relatou não ter subido para as salas superiores, mas decidido tentar passagens pelo rio à montante. Sem a topografia em mãos, informaram ter passado por um desmoronamento no extremo Oeste da caverna e seguido o rio por mais cerca de 100m. Com a descoberta desta passagem no desmoronamento, a caverna avançou em direção à Ribeirãozinho II acabando em um sifão praticamente colado nesta outra gruta. Uma próxima viagem já está sendo organizada para estas duas grutas bem como para a topografia deste conduto ainda não mapeado. Também deverá ocorrer mais uma incursão ao conduto das pegadas para tentar passagens através do desmoronamento.

Já a equipe externa (C) prospectou na região da Caverna Bananeira Preta, ao sul do abismo Los Tres Amigos, constatando a impossibilidade de alguma conexão desta caverna com o abismo. Caminharam também por todo paredão do vale da Bananeira Preta até a gruta Ponte Caída, um sumidouro entre o Abismo e a Caverna Ribeirãozinho III. Foi encontrada uma nova caverna na região, nomeada de Toca da Bananinha, entretanto sem continuidades.

A caverna Los Tres Amigos continua portanto desafiando os espeleólogos. As incursões são cada vez mais distante e longas exigindo equipes preparadas e logísticas apuradas.

Equipe A iniciando a trilha (8h30)

Equipes B e C saindo da casa (por volta das 9h30)


Corrimão calcificado, na passagem da cortina gigante.



Conduto de rio com corredeiras e pequenas cachoeiras, no extremo Leste da caverna (jusante)



Almoço sendo preparado antes dos trabalhos de escalada.
Menu do dia: frango e feijão liofilizados, frutas secas e chocolate.


Selfie no mais alto patamar da escalada: conduto extremamente ornamentado com colunas e canudos.


Acho que meu nariz estava coçando enquanto eu escalava...

Acampamento montado no patamar a -40m da entrada da caverna.

Local expressamente proibido para sonâmbulos: risco de queda em abismos por todo lado.

Último sobrevivente saindo da caverna (Domingo por volta do meio-dia)

Enfim equipe A fora da caverna: Zé Guapiara nos aguardava para apoio na trilha de volta (graças!)

Equipe B no extremo Oeste.

Uma passagem descoberta entre blocos revelou a continuidade de pelo menos mais 100m de amplo conduto de rio.
Equipe C em prospecção externa.
Pequenas entradas encontradas, mas sem grandes potenciais de continuidade



terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Conectamos! Mas.... onde?

Uma das maiores e mais desafiadoras cavernas do PETAR está próxima de ter um mistério revelado: uma nova entrada.

Há mais de dez anos o Abismo Los Três Amigos desafia os espeleólogos. Desde sua descoberta, em 2005, foram dezenas de viagens para equipar os abismos, topografar e amplos condutos de rio e um gigantesco nível fóssil.

Quem olha apenas para os números não tem ideia da dimensão da caverna: são 4km de linha de trena e aproximadamente 2km em projeção horizontal, mas estes dados não refletem nem de perto a grandiosidade dos condutos e a dificuldade de explorá-los. Após vencer 140m de cordas enlameadas, os espeleólogos têm que encontrar caminhos entre gigantescos blocos abatidos em uma sequência de grandes salas tanto à Leste quanto Oeste da descida. 60m abaixo, um conduto freático avança ora em grandes proporções, ora entre desmoronamentos dificultando ainda mais a progressão.

A cada viagem, uma nova peça do quebra-cabeça foi sendo encontrada. Já tentamos por vias externas em diferentes cavernas para encontrar novas entradas, sem sucesso. Por dez anos investimos em escaladas e longos desmoronamentos nas supostas ressurgência e sumidouro, respectivamente caverna João Dias e Ribeirãozinho III, igualmente sem sucesso. Em 2016 retomamos os trabalhos via abismo e desde então a cada viagem metros a mais são somados na topografia.

Esta última viagem teve um contingente excepcional: 17 espeleólogos se uniram na casa de pesquisa de Bulha D'água com o intuito de somar esforços dentro e fora da gruta. Duas equipes internas, uma de fundo e outra de apoio se concentraram no abismo. A primeira tinha o objetivo de equipar os 30m verticais no extremo Leste da caverna (jusante) e - caso encontrasse novamente a galeria de rio - seguir mapeando em direção à Ribeirãozinho III. A segunda equipe tinha como objetivo realizar trocas de corda entre -40 e -80m de profundidade, as mais duras e enlameadas cordas da gruta. Outras equipes se dividiram entre exploração da Fenda do Fábio, localizada logo acima da caverna e prospecção externa na sequência de dolinas à leste da entrada.

 A equipe de fundo da gruta tinha um objetivo audacioso: entrar cedo na caverna, realizar seu trabalho e retornar no mesmo dia. Com este desafio, dormimos na casa de pesquisa Sexta-feira e Sábado antes mesmo dos primeiros raios de sol já estávamos com tudo pronto, tomando café e esperando que o dia clareasse um pouco para entrarmos na trilha. Chegamos na caverna cedo e as 9h já estávamos na corda. A progressão dentro da gruta foi igualmente rápido e as 11h da manhã estávamos no extremo Leste, próximo ao abismo, nosso objetivo.
Levamos conosco cerca de 60m de cordas e tínhamos 20m de uma antiga deixada no local na última investida (relato aqui no blog).
A equipagem com a furadeira facilitou o trabalho, mas demoramos um pouco para encontrar a melhor logística na ordem das cordas. A corda antiga (cerca de 10 anos de gruta) foi instalada no início da via, para uma aproximação mais segura. A corda mais fina, colocamos nos primeiros lances inclinados. Finalmente, a corda em melhor estado foi instalada com uma ancoragem dupla em parabolt para uma descida livre de cerca de 20m até a galeria de rio. Às 13h estávamos iniciando a topografia dos condutos novos de rio, seguindo em direção à parte inexplorada da gruta.
Topografamos por um amplo conduto, com teto variando entre 20 e 50 metros de altura e largura entre 5 e 20 metros. Mas a felicidade não durou muito: após cerca de 200m chegamos até um novo desmoronamento. Pelo rio a passagem era muito apertada então subimos por uma lateral de areia até que... surpresa! Encontramos pegadas!!!

Conforme avançávamos pelo desmoronamento as marcas ficavam mais evidentes. Rastejamentos, escaladas, escorregadas, a caverna estava repleta de marcas de exploração antiga e tentativas de atravessar o quebra-corpo. Era evidente que alguém tentara passar pelo mesmo desmoronamento que nos deparávamos.

Nosso entusiasmo foi enorme, embora não tenhamos encontrado vestígios de onde vinham as marcas. A elevação das águas teria apagado as pegadas mais baixas por todo conduto de rio deixando marcado apenas os locais mais altos. Nossa primeira teoria é que o explorador teria vindo de cima, por corda e tentava atravessar os blocos no mesmo sentido de que nós. Ao explorar o rio na montante, também teria se deparado com uma parte intransponível sem ideia de que havia um grande conduto fóssil acima de onde descemos de corda, mas claro, tudo isso era suposição... Outra sugestão é que a pessoa teria vindo da caverna Ribeirãozinho III forçando muito a passagem entre bolos pela água e depois tentara retornar por cima em outros caminhos.

Após várias tentativas por entre os blocos, chegamos em áreas sem marcas e bastante apertadas. Resolvemos dar por encerrada a atividade e começar a voltar. Durante o retorno ainda tentamos uma escalada entre escorrimentos, mas sem equipamento adequado e tempo achamos mais sensato não arriscar.
Saímos da caverna às 23h chegando na casa de pesquisa por volta de 1h30 do Domingo.

A segunda equipe concluiu com êxito a tarefa das trocas de corda deixando mais segura a descida até a cota de -80m.
As equipes de superfície, composta por integrantes do Bambuí e Grupo Mandurí também concluíram suas atividades excluindo as possibilidades de conexão via Fenda do Fábio e não encontrando nenhuma nova entrada pela mata.

A plotagem da caverna pelo mapa de superfície mostra que a caverna Los 3 Amigos está a menos de 200m da caverna Ribeirãozinho III, mas uma possibilidade de conexão via conduto de rio é bastante remota visto a dificuldade entre os blocos desmoronados em ambas as grutas. Resta como um mistério a entrada que originou as pegadas encontradas no final da caverna Los 3 Amigos. Certamente conectamos o abismo com alguma caverna parcialmente explorada, nos resta entretanto saber qual é esta caverna e onde está sua sua entrada.

Equipe de fundo: Descida do Vôo-livre (foto Alexandre Lobo)
Equipe de fundo: ponto de descida do abismo no extremo leste da caverna antes de encontrar novamente o conduto de rio.
(foto Alexandre Lobo) 
Equipe de fundo: ponto de descida do abismo no extremo leste da caverna visto de baixo.
(foto Daniel Menin)
Equipe de fundo: conduto de rio descoberto após rappel do abismo na continuidade da caverna (foto Alexandre Lobo).

Equipe de fundo: escalada de lateral no conduto de rio mapeado no extremo Leste da caverna (foto Alexandre Lobo).
Teriam as pegadas vindas daqueles condutos superiores?

Nosso estado nos raros momentos de descanso
Equipe de fundo: Self após 15 horas de gruta.
Uma sucessão de alívios até chegar na casa de pesquisa.

Área mapeada na viagem pela equipe de fundo, após descida vertical e reencontro do conduto de rio.

Equipe de manutenção de reequipagem 

Terraço do vôo-livre durante trabalho de reequipagem.

Terraço do vôo-livre durante trabalho de reequipagem (abaixo são 53m verticais em um enorme salão)
Equipe de prospecção Fenda do Fábio
Exploração de possíveis entradas durante prospecção da Fenda do Fabio.
Equipe de prospecção realizando descida de entrada vertical (foto: Herman)

Partes da Fenda do Fábio - Embora esteja a poucos metros de salas superiores da caverna, infelizmente não foi encontrada uma conexão com o abismo (foto: Herman)

Exploração de possíveis entradas durante prospecção.

Exploração de possíveis entradas durante prospecção.

Exploração de possíveis entradas durante prospecção.

Região da Caverna Los 3 Amigos e Ribeirãozinho III - apenas 200m separam as duas grutas.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Seria esta uma nova entrada para o abismo Los Três Amigos?

Texto: Thomaz Rocha e Sila (Vagalumne) e Fabio Von Tein
Fotos: Adrian Boiller

Na quarta feira, 19 de dezembro, após 2 dias de cavernadas, Zé Guapiara, eu (Vagalume) e Adrian fomos para uma incursão no morro onde está a caverna Los Três Amigos. Eram dois objetivos: georreferenciar e topografar a Gruta da Borboleta, pendência de uma viagem de 2015, e georreferenciar, explorar e topografar uma fenda encontrada pelo Zé Guapiara e Fábio von Tein quinze dias antes, com potencial de ser uma nova entrada para o Los Três Amigos.
A topografia da Gruta da Borboleta, de pouco mais de 50m de linha de trena, foi tranquila e levou tempo suficiente para o Zé encontrar mais duas cavidades a menos de 100 metros dali. As duas pequenas cavidades estão lado a lado e são inversas. A Gruta achatada, de 15m de desenvolvimento, é completamente horizontal, enquanto o Buraco do Sapo, 6 metros distante da primeira, consiste em uma entrada no fundo de uma dolina íngreme levando por um canudo completamente vertical de 7 metros de profundidade e 1,5m de diâmetro. Como só foi possível constatar essas dimensões ao chegar na boca do abismo, uma vez que a dolina era muito íngreme, o Vagalume teve de equipar e ancorar para a curta descida, que foi frustrante já que estávamos bem acima da grande caverna.
Rumamos finalmente para a fenda descoberta na viagem anterior, por uma trilha que corta caminho, mas atravessa passagens muito íngremes enlameadas no meio de samambaiaçus (o que significa espinhos em todos os lugares). Ao chegarmos, constatamos um grande paredão formando uma cavidade de quase 30 metros de comprimento. O Zé nos falou que exploraram o primeiro nível da fenda e que haveria continuações à direita e à esquerda, sendo a da direita mais promissora. Optamos então por realizar a exploração e voltar topografando, iniciando pela direita. A descida é íngreme e o desnível é passível de acidente, principalmente pela quantidade e tamanho de blocos soltos, mas isso também indica que houve pouca frequência humana. Ao descermos, constatamos que há um primeiro nível, com vários acessos ao que seria um segundo nível inferior. O da direita chegou a um pequeno salão que fechou. Voltamos topografando o nível superior, deixando indicadas as possíveis descidas. Ao chegar ao canto esquerdo, junto à parede, encontramos atrás de um grande bloco uma descida de aproximadamente 6 metros quase negativa em bloco liso, o que nos fez instalar um spit para maior segurança. Ao descermos, a topo retornava o azimute reverso do nível superior, demonstrando que realmente se trava de níveis. No entanto este logo se fechou. Porém, seguindo a linha vertical do paredão à esquerda, ainda descemos para o que parece ser uma outra galeria, cujo acesso passa por um quebra corpo sem vento por baixo de blocos soltos. Já completávamos 9 horas de atividade e, no terceiro dia seguido de cavernada, o cansaço e projeção da trilha da volta nos frearam. Optamos por aguardar a plotagem da linha de trena para verificar o quão promissor é o local.
Para nossa alegria, a linha de trena demonstra que o local que paramos está a aproximadamente 40 metros do último ponto de topografia do Los três Amigos! Em breve realizaremos uma incursão de ataque ao local para tentearmos esta conexão.


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Observe no canto superior esquerdo a linha de trena da fenda em direção ao abismo Los Três Amigos.
Em cinza a representação do terreno.