"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci
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quinta-feira, 3 de março de 2022

Desequipagem do Abismo Los Tres Amigos




Entre os dias 26/02 e 01/03 foi organizada mais uma viagem à região de Bulha D’água, no PETAR (Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira), em SP. 

O objetivo principal da viagem era desequipar o Abismo Los Três Amigos, caverna em exploração desde 2006 pelo Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas com apoio de espeleólogos de diferentes grupos.

O abismo é atualmente a 11ª caverna de maior desnível do país. Compreende a uma caverna com condutos e salas de grandes proporções, mas acessadas apenas por vias verticais. Um conjunto de poços dão acesso a galerias de grandes proporções com um conduto fóssil de abatimento e outro de rio, a cerca de 200m de desnível da única entrada conhecida.

Durante estes anos, ambas as extremidades foram exploradas e toda caverna topografada com a publicação do mapa em 2019. Entretanto, permanecem algumas possibilidades de continuação por passagens estreitas entre blocos e através de possíveis escaladas ao longo da gruta.

Diante das dificuldades de acesso a estas possibilidades foi tomada a decisão de retomar os esforços por fora da caverna, retirando as cordas de seu interior e buscando alternativas de uma outra entrada. Embora esta decisão tenha sido tomada há algum tempo, a saída para retirada das cordas foi atrasada algumas vezes por conta da pandemia.

Com a ausência de atividades na caverna, as trilhas estavam fechadas, o que atrasou em algumas horas a entrada da equipe no abismo. O primeiro dia da viagem, antes planejado para aumentar a estada na caverna, acabou sendo usado apenas na mata para abrir caminho em uma tentativa frustrada de encontrar a gruta. No dia seguinte os espeleólogos encontraram a caverna e deram início ao planejamento da viagem. Mesmo atrasando em quase um dia a atividade, 4 espeleólogos permaneceram por 27h dentro da caverna. Durante os trabalhos, além da desequipagem também foram realizadas fotografias em alguns grandes salões e corrigidos detalhes de croquis no mapa anterior.

Devido ao volume de todo equipamento retirado, parte das cordas permaneceu guardada em uma sala de fácil acesso à 40m de desnível. O equipamento será removido em uma próxima atividade a ser organizada com esta finalidade.

O Abismo Los Tres Amigos foi descoberto em 2006 e desde então representou um grande desafio para sua exploração e mapeamento. Fotos, história e mapa podem ser encontrados no Atlas do Brasil Subterrâneo (Rubbioli et al. 2019) e em uma publicação no ANAIS do 35º Congresso Brasileiro de Espeleologia (Menin, 2019). Os relatos de praticamente todas as saídas podem ser encontradas aqui neste site (buscando pelo nome do Abismo na área de pesquisa) e Blogo do Iscoti.


Conduto de abatimento com grande volume é uma constante na caverna. Cerca de 30m abaixo encontra-se o atual conduto ativo de rio.
Conduto de abatimento com grande volume é uma constante na caverna. Cerca de 30m abaixo encontra-se o atual conduto ativo de rio.

Nesta imagem observam-se os 2 níveis mais profundos da caverna: um grande conduto de abatimento e a descida para o conduto de rio, 30m abaixo.

Um dos pontos mais icônicos da gruta é esta grande cortina. Com mais de 25m de comprimento e cerca de 3m de diâmetro, é uma das maiores cortinas conhecidas no Brasil.

Nesta imagem observa-se a grande cortina e um chuveiro. A cerca de 30m abaixo encontra-se o conduto ativo de rio.


Da esquerda para a direita: Maria Souza, Daniel Menin, Thomaz R e Silva (Vagalume) e Lucas Padoan (Rejeito).
    

Referências:

RUBBIOLI, E., AULER, A. S., MENIN, D.; BRANDI, R. Atlas do Brasil Subterrâneo. Brasília: Editora IABS, 2019.

MENIN, D.S. Seria o abismo Los Três Amigos a última grande caverna em exploração?. In: ZAMPAULO, R. A. (org.) CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA, 35, 2019. Bonito. Anais... Campinas: SBE, 2019. p.185-189. Disponível em: <http://www.cavernas.org.br/anais35cbe/35cbe_185-189.pdf>. 

Conexão Subterrânea Edições #47 e #56

Blog do Iscoti: https://iscoti.wordpress.com
Revista O Carste: bambui.org.br



quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Rede Taqueupa, Caverna de Santana, SP




A Rede Taqueupa compreende a uma sessão de salões superiores na caverna de Santana, no Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira (PETAR). A área foi descoberta em uma expedição chamada "Operação Tatus", em 1975, quando espeleólogos do grupo CEU (Centro Excursionista Universitário) estiveram por 15 dias dentro da caverna em atividades de permanência subterrânea, exploração e topografia.

Desde então, devido à sua beleza e fragilidade com poucos precedentes no mundo, o salão foi fechado para o turismo e recebe apenas visitas esporádicas com objetivos técnicos ou científicos.

A Caverna Santana é uma das principais cavernas do Alto Vale do Ribeira. Gerenciada pela Fundação Florestal do Estado de São Paulo, a região está dividida em 4 parques Estaduais: PETAR, Parque Estadual de Intervales (PEI), Parque Estadual da Caverna do Diabo (PECAD) e Parque Estadual Carlos Botelho (PECB). Um mosaico que junto abriga alguns dos mais importantes patrimônios espeleológicos e geológicos conhecidos no Brasil, além de grande parte da reserva de Mata Atlântica, com sua notória biodiversidade.

Patrimônio Ameaçado

Atualmente o PETAR, que abriga a maior parte das cavernas (incluindo a Caverna Santana), vem passando por um polêmico projeto de concessão para iniciativa privada e requer atenção especial da mídia, do poder público e da sociedade. É necessário um esforço para que se encontre - em conjunto - a solução que melhor atenda à população local incluindo seu desenvolvimento social e econômico e a conservação dos ricos recursos naturais.

A Caverna Santana, bem como muitas outras cavernas da região com seus rios, salões superiores e espeleotemas, ainda compreendem a um patrimônio natural e científico pouco explorado. Inúmeros outros "Salões Taqueupas" podem estar escondidos nesta e em outras cavernas. Nestes casos, não somente a beleza tem seu o valor, mas em muitos elementos subterrâneos (como as estalagmites, terraços e depósitos de sedimentos, por exemplo) estão gravadas parte da nossa história, incluindo dados sobre o clima, a geologia e vida na Terra. Conhecer esse patrimônio é certamente o melhor caminho para valorizá-lo e conservá-lo.

Sobre o vídeo e a pesquisa

O presente vídeo foi produzido em atividade de campo realizada em Novembro de 2021. Um projeto de pesquisa em inventário espeleológico para uso educativo e de comunicação científica, realizado pelo Instituto de Geociências (IGc-USP), vêm documentando parte do patrimônio espeleológico do Alto Vale do Ribeira. A equipe permaneceu 16h na caverna e os objetivos, além da documentação fotográfica, também foram de reequipagem e melhoria na segurança do acesso aos salões.

Esta atividade, bem como os outros campos no contexto de pesquisa, são apoiados pelo Instituto Florestal de São Paulo e pelo Conselho Técnico Espeleológico de São Paulo (COTEC).





Nota: Por favor, não reproduza imagens deste vídeo ou site sem o consentimento do autor e seus devidos créditos.

Abaixo segue um making off das fotos do vídeo anterior.
Obra do espeleólogo Eduardop Oliveira (Dudu).

 



terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Novos trabalhos de mapeamento na Caverna Laje Branca - PETAR

Espeleólogos dos grupos Meandros, EGRIC e Bambuí estiveram no final e semana dos dias 12 e 13 de Dezembro na Caverna Laje Branca, localizada na região do Lajeado, no PETAR, SP.

Por muito tempo, a caverna fez parte de tradicional circuito turístico da região devido principalmente à seus valores cênicos: largas galerias, um colossal salão subterrâneo e a bela vista de seu paredão.

Há alguns anos, com a exigência de um plano de manejo espeleológico para abertura regulamentada das atividades turísticas, a caverna foi fechada e sua visitação ficou restrita apenas à pesquisadores e sobre autorização dos donos da terra.

Pela cavidade não estar dentro dos limites do PETAR (Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira), mas em terras particulares, o manejo e uso turístico ficou sobre responsabilidade da iniciativa privada não saindo desde então do papel.

Há alguns anos, um projeto de pesquisa paleoclimática, liderado pelo Instituto de Geociências da USP (IGc), solicitou mapeamento com cortes e perfis específicos para o trabalho e uma equipe do Grupo Meandros esteve no local realizando a topografia. Desta vez, de maneira voluntária, espeleólogos de diferentes grupos se uniram para dar andamento a um novo mapa, bem mais detalhado e preparado para futuras análises de uso turístico.

Durante a viagem 3 equipes se organizaram para topografar a maior parte da caverna e também realizar alguns registros fotográficos. Como de costume, a viagem contou com o apoio do Parque e do Instituto Florestal.

Novas atividades deverão ser organizadas para os próximos meses dando andamento ao mapeamento, a algumas explorações e documentação fotográfica. As equipes serão montadas de acordo com as demandas e objetivos de cada viagem e estão abertas a espeleólogos de diferentes grupos.


Sala acessada logo após transposição da fenda.


Sala dos travertinos, localizada em área distante da entrada, após transposição de uma fenda horizontal ao final do grande salão.

Sala dos travertinos. Ao fundo é possível ver o conduto superior de acesso ao rio. 

Equipe revisando detalhes no mapa após trabalho de campo.


Visitante noturno na casa de pesquisa.


Visitante diurno na casa de pesquisa.






quinta-feira, 15 de outubro de 2020

O retorno à Bulha D'água

Aos poucos vamos retomando nossas atividades espeleológicas. 

Nos dias 11 e 12 de Outubro demos andamento aos trabalhos do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas na região de Bulha D'água, em São Paulo. A atividade foi autorizada e seguiu as normas de orientação de segurança publicadas em Diário Oficial para atividades de pesquisa na região.

Os trabalhos realizados foram de registro fotográfico na caverna Buenos I, coletas de aranhas e pendências topográficas na Buenos IV. Esta última com mapeamento quase pronto, entretanto fazia-se necessário realizar uma conexão de uma grande sala fóssil com o conduto ativo de rio.

No Sabado a atividade decorreu sem nenhum problema e foi relativamente fácil, com fotografias e coletas em condutos freáticos da caverna Buenos I. Já Domingo, não somente pelas dificuldades normais de progressão na caverna, mas principalmente pela topografia e lances verticais a atividade foi mais longa e cansativa. Parte da equipe ficou no apoio enquanto outra parte buscava entre desmoronamentos e lances verticais, um bom caminho para se chegar ao rio. A passagem correta foi encontrada somente no período da tarde o que fez o tempo de atividade se prolongar. Após equipagens e topografia de parte do conduto freático, a equipe iniciou seu retorno chegando na casa de pesquisas às 23h30. Segunda-feira, feriado em São Paulo, foi dia de organização e lavagem de equipamentos.


Maior lance vertical que dá acesso ao rio
Equipes Sábado de manhã.

Marcas de onças pelo caminho: uma constante nesta região.

Conduto freático da caverna Buenos I

Entrada - Buenos I

Ossos recentes próximo à uma claraboia

Chuveiro em conduto freático da caverna Buenos I

Conduto freático da caverna Buenos I

Animais por todo lado, ainda bem!

Conduto freático da caverna Buenos IV.
Com um pouco de esforço, é possíve ver a corda ao fundo.


Como sempre, as trilhas estavam escorregadias.

"Máquina de lavar cordas"

Bulha é Bulha: nem tatu de kichute caminha tranquilo. 

Salões superiores
Salas superiores com claraboias e acúmulo de sedimentos (Caverna Buenos I)


Domingo, 23h30. É assim que saímos da caverna!


segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Novas descobertas no Abismo Los Tres amigos: e o mistério continua.




Saída de 17 e 18 de Agosto de 2019

A última vez em que descemos o abismo tivemos uma surpresa: na parte mais distante à jusante da caverna nos deparamos com pegadas. Eram marcas antigas, de bota, provavelmente de algum espeleólogo ou explorador que adentrou na caverna por outro caminho diferente ao que usamos pelas cordas, o que nos intrigou muito.

O palpite principal era que esta pessoa poderia ter vindo de cima, por um íngreme escorrimento em uma das paredes do último conduto de rio explorado por nós. Que ali haveria uma conexão com uma entrada mais fácil, por cima.

Esta viagem portanto estava planejada para se chegar até este ponto e escalar o escorrimento. Devido ao número de pessoas, dividimos a saída em duas equipes de fundo e uma equipe de superfície. A primeira (A) com objetivo principal de chegar ao extremo Leste e escalar o conduto das pegadas. Uma segunda (B) com a intenção de retornar à montante (extremo Oeste) e averiguar possíveis escaladas nos salões superiores. Já a terceira seguiria os trabalhos de prospecção externa em busca de alguma entrada superior, além do apoio da logística e segurança em caso de resgate.

A equipe de escalada estava formada por mim e mais 2 espeleólogos de Brasília: o Adolpho e Rodrigo Severo. A segunda equipe foi formada por dois espeleólogos locais (Dudu e Maurício) e o Alberto, de São Paulo. Já a terceira equipe estava formada pelo Fábio, Adelino e Zé Guapiara.

Devido à distância e complexidade da atividade, a equipe A estava preparada para, ao retorno, dormir no patamar a -40m da entrada retornando para a casa de pesquisa somente Domingo de manhã ou a tarde. Já as duas outras equipes estavam preparadas para retornar no mesmo dia.

Além de nossos pertences pessoais, estávamos bastante carregados por conta da escalada (furadeira e cordas suplementares) e o apoio da equipe B foi essencial carregando alguns equipamentos até o patamar.

Entramos na trilha as 8h30 da manhã, chegando na boca da caverna em 1h40 de caminhada. Quando estávamos equipando a primeira descida, encontramos a segunda equipe chegando pela trilha.  Entramos todos na caverna por volta das 10h30 do Sábado.

Nossa equipe desceu na frente seguindo direto até a sala do voo livre. Na descida, fui refazendo alguns nós para tirar a pressão constante dos mesmos pontos de corda. Uma vez com equipe reunida no salão do voo-livre, seguimos caminho por entre os grandes blocos rumo à Leste da caverna. O caminho está relativamente marcado o que facilitou a progressão. Os grandes blocos e desníveis desta parte da caverna dificultam bastante o avanço.

Fizemos algumas rápidas paradas para fotografar o corrimão calcificado na passagem da grande cortina e continuamos nosso caminho ao extremo da caverna. Depois de passar pelas grandes salas acessa-se enfim o conduto de rio. O rio em algumas partes parece cortar o acabamento da rocha formando pequenas cachoeiras, corredeiras e belos poços. Aproveitamos para fazer algumas fotos enquanto caminhávamos. Por volta do meio-dia chegamos ao conduto fóssil onde havíamos explorado na última viagem e de onde é necessário novo vertical para acessar novamente o rio.
Após algumas tentativas de otimização de cordas, acabamos usando uma de 10m para esta primeira aproximação e outras duas cordas para a descida vertical. Desta vez, deixamos todo o sistema equipado para uma próxima incursão.

Chegamos ao ponto de escala as 13h30. Após cozinhar um banquete liofilizado de frango com feijão, iniciamos a escalada. Com o auxílio da furadeira, fui montando seguranças psicológicas ao longo do escorrimento. Sem muito apoio, a subida seguiu por uma inclinação de 45 a 70 graus com parabolts mal colocados servindo apenas de apoio moral para a subida. O Rodrigo foi fazendo minha segurança e o limite do tamanho da corda foi suficiente para se chegar até um ponto menos inclinado onde fiz uma ancoragem dupla e desta vez com parabolts bem fixados na rocha. Nos juntamos os três no patamar. Era uma sala bonita, com grandes travertinos ainda ativos e profundos. De lá foi possível subir mais um lance, com início totalmente vertical e outra área inclinada onde pude fazer uma ancoragem segura em grandes estalagmites. Novamente ambos se uniram a mim em outro patamar muito ornamentado, repleto de canudos e colunas de 2 a 4m. Dali em diante a escalada ficaria muito mais difícil. Teríamos que subir entre frágeis concreções por uma parede parte negativa e sem grandes possibilidades de continuação. Era possível ver parte do teto da gruta a cerca de uma dezena de metros acima. Estávamos bastante expostos, com o rio cerca de 30m abaixo e a escalada não seria nada fácil. Achamos melhor desistir e descer recolhendo a corda.
Uma vez no rio, resolvi avançar por alguns metros até o desmoronamento de onde vimos as pegadas. A incursão foi rápida e observei algumas possíveis continuações entre blocos, principalmente por partes bastante altas ou entre a água. As 20h iniciamos o retorno para nosso acampamento. Voltamos direto, com algumas rápidas paradas para troca de baterias de lanterna e lanches.
Chegando próximo ao salão do voo livre escutamos vozes da segunda equipe que estava subindo a corda do rio, entre os grandes blocos desmoronados. Iniciamos direto a subida do voo livre com intuito de evitar longas esperas. Cansado, fui o primeiro a entrar na corda e devo ter levado cerca de 30 minutos para subir todo o lance. Logo após veio o Rodrigo que - em forma - levou apenas 10 minutos para subir carregando duas mochilas.
Chegamos no patamar a -40m, local de nosso acampamento, por volta da meia-noite. Cansados, nem fizemos comida mas preparamos nosso acampamento para dormir o mais rápido possível. Desta vez levamos isolante, novas mantas térmicas e sacos de dormir o que tornou a noite muito mais agradável. Por volta da 1h30 da manhã ouvi a segunda equipe passando por nós, mas estava cansado demais para levantar e conversar. Dali em diante foi uma alternância de sono, dores no corpo e despertar com fortes roncos que vinham da direção do Adolpho até que as 9h da manhã resolvemos levantar acampamento. Fizemos nova refeição quente, juntamos as coisas e iniciamos o restante da subida pelas cordas. Ao se aproximar dos últimos lances ouvi alguém gritando do lado de fora: era o Zé Guapiara, que estava na boca da caverna havia cerca de 2h nos aguardando. Santa ajuda! Iniciamos a trilha de retorno por volta do meio dia e chemos na casa de pesquisa as 13h30. No caminho ainda encontramos o restante das equipes que vinham voltando da casa para a caverna preocupados com o horário.

A equipe B relatou não ter subido para as salas superiores, mas decidido tentar passagens pelo rio à montante. Sem a topografia em mãos, informaram ter passado por um desmoronamento no extremo Oeste da caverna e seguido o rio por mais cerca de 100m. Com a descoberta desta passagem no desmoronamento, a caverna avançou em direção à Ribeirãozinho II acabando em um sifão praticamente colado nesta outra gruta. Uma próxima viagem já está sendo organizada para estas duas grutas bem como para a topografia deste conduto ainda não mapeado. Também deverá ocorrer mais uma incursão ao conduto das pegadas para tentar passagens através do desmoronamento.

Já a equipe externa (C) prospectou na região da Caverna Bananeira Preta, ao sul do abismo Los Tres Amigos, constatando a impossibilidade de alguma conexão desta caverna com o abismo. Caminharam também por todo paredão do vale da Bananeira Preta até a gruta Ponte Caída, um sumidouro entre o Abismo e a Caverna Ribeirãozinho III. Foi encontrada uma nova caverna na região, nomeada de Toca da Bananinha, entretanto sem continuidades.

A caverna Los Tres Amigos continua portanto desafiando os espeleólogos. As incursões são cada vez mais distante e longas exigindo equipes preparadas e logísticas apuradas.

Equipe A iniciando a trilha (8h30)

Equipes B e C saindo da casa (por volta das 9h30)


Corrimão calcificado, na passagem da cortina gigante.



Conduto de rio com corredeiras e pequenas cachoeiras, no extremo Leste da caverna (jusante)



Almoço sendo preparado antes dos trabalhos de escalada.
Menu do dia: frango e feijão liofilizados, frutas secas e chocolate.


Selfie no mais alto patamar da escalada: conduto extremamente ornamentado com colunas e canudos.


Acho que meu nariz estava coçando enquanto eu escalava...

Acampamento montado no patamar a -40m da entrada da caverna.

Local expressamente proibido para sonâmbulos: risco de queda em abismos por todo lado.

Último sobrevivente saindo da caverna (Domingo por volta do meio-dia)

Enfim equipe A fora da caverna: Zé Guapiara nos aguardava para apoio na trilha de volta (graças!)

Equipe B no extremo Oeste.

Uma passagem descoberta entre blocos revelou a continuidade de pelo menos mais 100m de amplo conduto de rio.
Equipe C em prospecção externa.
Pequenas entradas encontradas, mas sem grandes potenciais de continuidade