"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci
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domingo, 2 de fevereiro de 2025

O que os sedimentos nas cavernas podem nos contar sobre o passado?

Como era o clima há algumas dezenas de milhares de anos atrás? Como era a vegetação e a fauna onde esta caverna está localizada?

Costumo dizer que cavernas são como máquinas do tempo. Ao explorar esses ambientes, exploramos também o passado.

As fotografias abaixo foram realizadas durante uma expedição científica às cavernas de Iraquara, Bahia, na Chapada Diamantina. O objetivo da viagem foi a observação e coleta de sedimentos para pesquisas sobre os paleoambientes daquela região. Através de datações radiométricas nos cristais de quartzo contidos nestes sedimentos é possível saber quando essa "areia" foi trazida para dentro da caverna por grandes inundações. Junto com ela, uma série de informações dos paleoambientes também podem ser extraídas.

Datações radiométricas calculam o decaimento radioativo de alguns minerais ao longo dos anos, como o quartzo. Através dela, é possível saber quando esses minerais receberam os últimos raios solares. Existem também as radiações cosmogênicas, elas conseguem identificar em minerais (como o Berilo, por exemplo) a radiação que eles receberam vinda do universo profundo. Sim, porque não é somente o sol que emite radiações, mas as estrelas também.  

A pesquisa de sedimentologia realizada na região faz parte de uma parceria entre o Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP), a Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) e a Universidade do Vale do São Francisco (UNIVASF).

Fotos: Daniel Menin.
Antes de reproduzir, consulte a fonte e converse com o autor.

 
















domingo, 12 de janeiro de 2020

Expedição Iraquara 2020


Entre os dias 02 e 09 de Janeiro de 2020, espeleólogos integrantes do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas realizaram mais uma expedição à região de Iraquara, Bahia. Dentre muitas cavernas mapeadas pelo grupo na região, os espeleólogos se concentraram este ano em um trabalho de verificação de partes em aberto em mapas antigos, bem como referências ainda não verificadas.

Uma das grandes cavernas exploradas na década de 90, a Gruta do Impossível, foi novamente visitada. Informações indicavam que o nível do lençol freático estava mais baixo que o usual, fato que propiciou o acesso a condutos antes não topografados. Foram topografados 969m de novos condutos, o que deve levar a Gruta do Impossível para uma projeção horizontal de 5.300m fazendo a gruta subir algumas posições entre as maiores cavernas do país.

Outra gruta visitada foi a Caverna do Escôncio. Com entrada vertical, grandes desmoronamentos e longos condutos ornamentados. Foram topografados 1.113m levando a caverna para uma projeção horizontal de 2.300m. No último dia de expedição foi descoberto uma ampla sala com acesso vertical através de um abismo com mais de 30m.

A expedição também verificou algumas dolinas e deu continuidade ao mapa da Gruta Diva de Maura. Com grandes salas e algumas continuações em aberto no mapa anterior, a caverna teve uma relevante continuidade por um conduto freático acessado após a descida de um abismo em um dos extremos da gruta. Foram topografados 630m na caverna Diva de Maura a levando para uma projeção horizontal de 2.000m.

A região de Iraquara é conhecida turisticamente por estar próximo à Chapada Diamantina e abrigar algumas das maiores e mais importantes cavernas do Brasil. Repleta de dolinas, a região vem sendo explorada e documentada pelo Grupo Bambuí desde a década de 80 e diversos estudos científicos já usufruíram de mapas e dados gerados pelos espeleólogos. A própria caverna do Impossível, por exemplo, tem sido palco de contínuos trabalhos de paleontologia.


Amplas galerias próximas a uma das entradas da caverna do Escôncio



Grande sala com um bloco vertical na Caverna Diva de Maura

Um dos diversos abismos que dão acesso à zona freática da caverna



Vulcões em uma das amplas salas da Caverna Diva de Maura (desta vez até eu saí nas fotos!)
Espeleotemas raros, originários de zona alagada na caverna Diva de Maura






Descida de abismo descoberto na Caverna do Escôncio

Entrada de uma das cavernas topografadas. Abismos verticais em fundo de dolinas são muito frequentes na região da Iraquara.

Raros espeleotemas azuis encontrados em zona remota e de difícil acesso.


Reprodução de foto antiga realizada durante a primeira topografia da Gruta do Impossível  




Equipe topografando mais de 500m de novas galerias

Descontração durante o último dia de topografias