"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci
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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Gruta do Mandembe

No último dia 03 de Janeiro de 2021 estivemos em uma rápida incursão em Luminárias (MG), na Gruta do Mandembe. O objetivo da viagem foi a realização de alguns registros audiovisuais para o 36 Congresso Brasileiro de Espeleologia. Mapeada Pela União Paulista de Espeleologia (UPE), a Gruta do Mandembe tem 244m de desenvolvimento e menos de 20m de desnível. Trata-se de um conduto vadoso principal com algumas cachoeiras e um pequeno tributário de recarga em uma das laterais. A caverna faz parte de um complexo de pequenas grutas de Quartzito da região. Na ocasião, encontramos uma colônia de andorinhões em seu interior. Durante a atividade pudemos também realizar algumas fotografias realizando assim também o registro fotográfico da caverna e suas feições morfológicas.
Relevo da região, com leves desníveis e algumas matas ciliares.

Uma das entradas da caverna


Percurso principal com algumas corredeiras, cachoeiras e um conduto fóssil

Condutos paralelos e um lago subterrâneo

A sucessão de quedas proporciona também alguns lagos internos

Cachoeira perto de uma das entradas

Amplo conduto


domingo, 19 de julho de 2015

Expedição Bambuí e La Venta - Aracá 2015








Entre os dias 29 de Junho e 14 de Julho estivemos na Serra do Aracá, no norte do estado do Amazonas.

A expedição foi organizada pelo Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas em parceria com o grupo italiano LA VENTA Esplorazioni Geografiche.

Localizada próximo da divisa entre Brasil e Venezuela, a leste do Pico da Neblina, Serra do Aracá ganhou notoriedade devido a descoberta da mais alta queda d'água do Brasil, a Cachoeira do Eldorado com seus 353 metros de queda e a criação do Parque Estadual da Serra do Aracá, em 1990.

A serra é composta, principalmente, por uma montanha em forma de mesa, também chamada de Tepuy. Um maciço de Quartzito que pode atingir cerca de 1400 metros de elevação em alguns pontos mais altos. Outras cadeias de montanhas próximas compõem um conjunto de serras complementares, mas apenas o Aracá tem a morfologia característica dos Tepuys.

A distância das áreas povoadas e a ausência de vias de acesso fazem da Serra do Aracá um dos lugares mais remotos do Brasil. A logística para acessar a montanha a partir de Manaus exige no mínimo 3 dias de barcos e uma caminhada que, com sorte, pode ser realizada em 1 dia. Além da distância, os rios que acessam a montanha são navegáveis apenas nos meses de cheia, ficando intransitáveis boa parte do ano. Uma vez na floresta, não há trilhas bem demarcadas o que pode tornar a subida mais difícil e demorada. Além disso, os limites da serra compreendem paredões verticais exigindo empenho para encontrar vias mais fáceis de subida.

A expedição contou com 5 espeleólogos brasileiros e 4 italianos. Estavam presentes especialistas em exploração, topografia, documentação fotográfica e geologia. O objetivo foi realizar um levantamento espeleológico na parte alta da montanha, com mapeamento das cavernas encontradas durante a viagem e uma topografia detalhada do abismo Guy Collet, conhecido como a mais profunda caverna do Brasil. A equipe permaneceu 5 dias no topo da montanha, em um total de 15 dias de expedição.


Além dos levantamentos topográficos, a expedição produziu imagens fotográficas, vídeos e relatórios de campo que serão divulgados a medida em que forem organizados e trabalhados.




(Fotos: Daniel Menin e Carlos Grohmann (Guano))

Barco-base, utilizado para navegação nos rios Negro e Aracá
A aproximação da serra é realizada durante um dia de navegação em rios e igarapés. Áreas navegáveis apenas em barcos pequenos, como voadeira e rabeta.
Frequentes imprevistos como árvores caídas e bancos de areia exigem paciência e empenho das equipes.

Devido a alta vegetação, a Serra do Aracá é avistada em raros momentos, como nos trechos finais de igarapé. Seus paredões verticais e superfície em forma de mesa fazem do Aracá um Tepuy, como o Monte Roraima e outras montanhas da Venezuela.
Acampamento principal, no alto da serra. A umidade e o clima instável dificulta a estadia dos pesquisadores.
Equipe de reconhecimento - Rio Negro

Um dos poços do Abismo Guy Collet fotografado durante trabalhos de equipagem do abismo.
A rocha de Quartzito apresenta desafios a parte para encontrar pontos seguros de fixação da corda
Descida do abismo Guy Collet durante topografia

Croquis durante exploração e topografia 

Equipe topografando uma caverna encontradas no alto da serra. 
Foram deslocados para o alto da serra cerca de 500kg de equipamentos.


Vista da floresta amazônica a partir da Serra do Aracá.

Vista dos paredões verticais e do canyon da cachoeira do Eldorado. A frente, a cachoeira do Desabamento.

Os paredões verticais e íngremes escarpas fazem da Serra do Aracá um lugar de difícil acesso e exploração.
Vista da Cachoeira do Eldorado, conhecida como a maior cachoeira do Brasil, com seus 353m de queda.
Amanhecer no barco-base para início do retorno.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Quartzito e algumas de suas surpresas

Explorar e mapear cavernas em Quartzito é um desafio à parte. Por este tipo de rocha ser bastante friável, grutas em Quartzito assumem um desenvolvimento menos lógico do que as tradicionais cavernas em Calcário.  Algumas vezes é bem possível que você fique jornadas inteiras deitado, rastejando e se ralando em caóticos labirintos tridimensionais subterrâneos sem conseguir terminar a topografia ou mesmo chegar ao final da gruta. Mas não se desespere! Cavernas em Quartzito podem ser tão belas e surpreendentes quanto suas primas em Calcário. Apesar de não apresentarem uma riqueza em formações geológicas tão diversificada (estalactities, estalagmities, inúmeras formações de calcita e outras precipitações comuns do calcário), as cavernas em Quartzito também apresentam suas belezas, fascínios e principalmente surpresas. Desta forma, ao explorar uma caverna em Quartzito você também poderá encontrar volumosos salões debaixo da terra ou ser surpreendido por novos rios, lagos, cachoeiras e abismos subterrâneos.



Abaixo seguem algumas imagens de um mapa que produzimos há alguns anos em expedições à Chapada Diamantina. 

Esta gruta, em especial, nos presenteou com grandes descobertas e resultados. A primeira delas foi uma inusitada continuação. Onde antes era o “final da gruta” conhecida pelo guia, encontramos uma pequena passagem que nos rendeu mais de 3km de continuidade. A segunda surpresa foi a conexão desta, com outra caverna vizinha, justamente obra de condutos labirínticos. 

Mas talvez a descoberta mais relevante tenha sido a riqueza histórica que a caverna escondia em seu interior.  Em lugares longínquos debaixo da terra encontramos ferramentas antigas, condutos escavados e inscrições datadas do século XVII. Com certeza, obras de escravos que sacrificavam suas vidas por punhados de diamantes. 


Enfim, apos cansativos dias de exploração e topografia chegamos a números bastante expressivos para uma caverna neste tipo de rocha: 200m de desnível sendo o maior desnível subterrâneo da Bahia e mais de 4km de galerias subterrâneas sendo uma das mais extensas cavernas de Quartzito do Brasil.

Nota: os trabalhos nesta gruta ainda não terminaram, portanto, outras expedições devem retornar à caverna para terminar os trabalhos em condutos que ainda continuam e somar mais dados ao mapa.







Esta é somente uma das muitas cavernas que mapeamos neste tipo de rocha no Brasil. Outras grutas ainda estão em fase de trabalho e muitas ainda nem sequer são ainda conhecidas por espeleologos. Isto mostra que ainda temos uma infinidade de cavernas em Quartzito a serem descobertas, exploradas e mapeadas no Brasil. 


Cabe lembrar que apesar da falta de formações delicadas as cavernas de quartzito são ambientes bastante instáveis, perigosos e frágeis. Instáveis pois suas rochas estão sempre “esfarelando” o que pode ocasionar em desmoronamentos e obstrução repentina de passagens durante as explorações. Perigosos pois muitas grutas são (como a do exemplo abaixo) repentinamente inundadas por água de chuva. Frágeis pois muitas destas cavernas apresentam espécies importantes, (bagres-cego, por exemplo), pouco estudados ou mesmo espécies endêmicas (exclusivas daquele ambiente). 


As expedições onde foram gerados os dados acima fazem parte de um projeto idealizado pelo Instituto do Carste (www.institutodocarste.org.br)