"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci
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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Ducano - Construção de equipamento para vencer lances verticais (1999)

Por: Dennys Corbo e Marcos Otavio Silverio
Escrito em junho de 1999.

Há anos pensávamos numa maneira de subir por aquele buraco no teto. Havia um grande escorrimento à margem do rio por onde podíamos subir e diminuir em mais de 2 metros os quase 6 metros totais a serem vencidos, mas a nova posição apenas servia para que percebessemos a continuação do conduto, localizado sobre o rio. Laçar alguma coisa ou escalar era impossível. Na ansiedade pensamos então em arrastar um tronco desde a parte externa da caverna para subir por ele. A idéia até que era boa mas evidentemente ela precisava ser melhorada.

Então nós e o Chico, que nos ajudou com idéias, solda e marreta, resolvemos fabricar um equipamento, com um cano mesmo, para subir. Ele precisava ser resistente e leve o bastante para podermos carregar e subir por ele. Depois de analisarmos as possibilidades em alguns depósitos de ferro-velho, compramos 2 canos galvanizados, do tipo utilizado em sustentação de placas de sinalização de ruas, com 3 metros cada e com roscas nas extremidades para uní-los.

Entretanto tínhamos de descobrir uma forma melhor para unir os canos pois uma batida na superfície de uma pedra danificaria a rosca irreversivelmente. Além disto a rosca fragiliza o tubo interno, que fica com parede menos espessa. A fragilidade fica quase que completamente corrigida quando se rosqueia a luva para emendar os tubos, mas os ˙últimos fios de rosca ficariam à mostra.

Foi então que decidimos utilizar um tubo com cerca de 40 cm, cujo diâmetro interno fosse ligeiramente maior que o diâmetro externo dos tubos a serem juntados. A junção seria feita com o auxílio de dois furos ortogonais (figura 1) e dois parafusos de aço 8,8 comuns na indústria automobilística. Este é o mesmo aço utilizado para a fixação de plaquetas em ancoragens.

Agora sim tínhamos a ”emenda perfeita”. Cortamos os tubos de 3 metros ao meio para que ficassem mais fáceis de serem carregados tanto na trilha (um por mochila) quanto nos condutos estreitos da parte interna da caverna. Furamos os tubos no arranjo desejado (um tubo dentro do outro) para garantirmos que os furos coincidissem e “voilá”. Tínhamos nas mãos 4 pedaços de 1,5 metros de cano que poderiam ser emendados fornecendo uma estrutura rígida com 6 metros de comprimento.

Para segurar cada pedaço do cano fizemos 2 furos próximos e passamos um pedaço de aço dobrado em "U", que foi soldado como alças conforme ilustra a figura 2. Estas alças seriam úteis para amarração na mochila e também dentro da caverna, evitando que a montagem escorregasse para os lados.

Para amarrar a corda ou escadinha na ponta do cano para a subida nós fizemos dois furos passando pelas duas paredes do cano e colocamos um pedaço de aço em forma de arco (fig 3). Apesar de estarem soldadas nós achamos melhor não confiar muito nestas alças. Assim nós passamos a corda por dentro da alça e por trás do cano (figura 4), assim a alça serviria mais para não deixar a corda correr e a solda seria menos tracionada.

No transporte do cano É interessante manter os parafusos nos furos do tubo mais largo e com as respectivas porcas, para não correr o risco de perdê-los, e levar sempre 2 chaves de boca.

Finalmente conseguimos atingir o tal buraco no teto (foto), aumentando o desenvolvimento da caverna em mais de 200 metros. Quanto à rigidez, nosso cano tem 6m e já entorta um pouco. Para grandes alturas seria necessária alguma modificação. Um agradecimento especial ao pessoal que apoiou a idéia e ajudou a carregar e a testar o equipamento. A propósito o salão se chama Ducano, em homenagem ao equipamento utilizado.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Gouffre la Belle Louise - França


Cidade: Montrond le Château;
Departamento: Doubs;
Saída em estágio junto a EFS de aperfeiçoamento em técnicas ligeiras.
Dia 16 de julho de 2005

Segunda saída com objetivo de utilizar as técnicas leves (Thecnique Legeres) em equipagem vertical. Após termos aprendido em teorias e também termos posto em prática em um ambiente real agora o objetivo foi de equipar e desequipar um abismo inteiro utilizando apenas estas novas técnicas.
O Abismo de La Belle Louise é uma linda cavidade. A entrada é por uma fenda onde observamos várias possibilidades de descida por 2 principais lances separados por um platô. Póximo à entrada tinha uma placa informando sobre a possibilidade de “crue” (tromba d´água) em dias de chuva forte. Estávamos preparando os equipamentos quando um senhor chegou com um trator e disse ter visto na meteorologia a previsão de fortes chuvas durante a tarde. Resolvemos a partir desta informação não seguir até o fundo do abismo mas equipar somente os primeiros e principais lances até atingir um pequeno conduto de “teto baixo” onde em caso de “crue” poderíamos ficar presos. A equipe, como da primeira vez foi formada por mim, Jackie e a instrutora Delphine (sabe muito essa mulher!). Fizemos 2 equipagens descendo em paralelo até o fundo dos principais lances. Jackie equipou o lado principal enquanto eu fui procurar uma descida lateral pelo menor acesso. Com muitos blocos instáveis acabei não encontrando amarragens seguras ao longo do platô e acabei subindo para equipar uma via próximo à de Jackie porém pela lateral do abismo. Como eu havia preparado uma ficha de equipamentos a partir da topografia, desta vez o trabalho foi muito mais organizado e de bons resultados que na primeira saída de técnicas ligeiras. Utilizei bastante os cordeletes de alta resistência de dynemmas e os AS e atingimos nossos objetivos sem maiores problemas. Após vários lances chegamos a uma área onde 2 garrafões paralelos se encontram e pasamos por uma espécie de janela entre eles. Maravilhoso esse abismo!. Como estávamos preocupados com a possibilidade de chuvas então deixamos o almoço no carro, para voltarmos antes. Comemos uma pequena barra de cereais no fundo destes lances e iniciamos nossa subida. A instrutora Delphine desceu pela minha via fazendo algumas correções necessárias e subiu pela via da Jackie também corrigindo eventuais imperfeições. Saindo do abismo comemos na grama, próximo do carro, revimos nós e teorias de amarragens ligeiras e voltamos para o alojamento. E a chuva..... essa nem apareceu...

sábado, 10 de maio de 2008

Série Tecnica - Amarragens perigosas com cordelete de Dynema

Segue abaixo o primeiro artigo da Serie Técnica aqui no Blog.

Trata-se de exemplos de ancoragens perigosas realizadas com o uso de alguns equipamentos considerados específicos para Técnicas Leves (Thecniques Legeres). É sabido que hoje na França as "Thecniques Legeres" estão sendo mais difundidas e padronizadas pela própria Escola Francesa. Este fato é uma resposta da própria Federação à popularidade de alguns equipamento e a certa "massificação" na utilização dos mesmos. É certo que, a utilização sem o devido conhecimento das técnicas e dos limites dos equipamentos torna-se bastante perigosa.
As fotos foram tiradas em alguns abismos de grande fluxo de espeleólogos, durante saídas de avaliação técnica na França. Entre estes equipamentos "leves" está o resistente cordelete de Dynema (vide outras postagens sobre este material).
Utilizando corretamente, as ancoragens com este cordelete são seguras e práticas pois o cordelete tem alta resistencia a abrasão e em muitos casos substitui as tradicionais fitas de alta resistência. Porém existem diversos cuidados extra que devemos tomar quando utilizamos o Dynema.

A intenção desta postagem é colocar aqui algumas imagens que pude vivenciar de outros espeleólogos usando e abusando destas técnicas porém, com baixíssima margem de segurança.

Desta forma, as fotos abaixo servem como exemplos de práticas para nunca repetirmos ou copiarmos.

Nesta imagem o espeleólogo duplicou a ancoragem usando 2 pontos móveis (Nut) para fixar o cordelete. Ao invés de produzir 2 alças com o cordelete, ele usou um cordelete simples diminuindo bastante a resistência do sistema. Em caso de soltura de um dos pontos móveis a margem de segurança no segundo ponto estaria sériamente reduzida.


Já nesta imagem ao lado, a única coisa dita "correta" pelos padrões destas técnicas é o nó usado na corda (balsa com seio duplo, bom para a conexão do longe).
A amarragem não está fixada por um anel duplo de cordelete, o ângulo está aberto demais para uma ancoragem dupla e os pontos de fixação são móveis. A soma destes fatores torna a acoragem extremamente arriscada!!!






Ao lado, outra ancoragem dupla porém perigosa:

Falha 1: Amarragem com cordele simples e não duplo. Recomenda-se usá-lo sempre através de um anel duplicando assim sua resistência. Não foi por falta de cordele pois existe bastante sobra à esquerda.

Falha 2: Este tipo de mosquetão (sem trava) não é recomendável para ancoragens, mas apenas para usar nas extremidade do longe. Se o problema fosse peso, seria suficiente usar qualquer mosquetão de trava em Zycral.
Uma saída rapida para tornar a ancoragem mais segura seria descartar este cordelete e usar as alças do nó para produzir a ancoragem dupla dividindo o penso entre as argolas conectadas nas chapeletas. Ao utilizar o nó balsa com seio duplo em ponta de corda faz se necessário fazer um bloqueio com a pomta da corda.