"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

IC - retrospectiva 2010 e atividades 2011

Mais um ano que se vai e temos o prazer de divulgar aqui um balanço das atividades do Instituto do Carste realizadas em 2010 bem como uma pré-agenda do que nos aguarda no ano de 2011.


Em 2010:


1. Finalizada dia 14 de Dezembro a participação do Instituto do Carste no Curso Internacional de Hidrogeologia Cárstica em Guilin, China. Como palestrante convidado (Augusto Auler) e participante (Tatiana Souza). A experiência foi única neste país fantástico com carste e cavernas de fato espetaculares. A experiência foi altamente positiva, abrindo o caminho para colaborações futuras.

2. Em fins de novembro realizamos mais uma expedição aos tepuis na fronteira Brasil/Venezuela/Guiana, a segunda do ano. Esta viagem, parte do Projeto Tepuis, levou ao mapemaneto da mais alta caverna no Brasil (a 2700 m de altitude) além de uma interessante e importante caverna na Guiana. A viagem foi realizada em conjunto com o Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleologicas. Esta foi provavelmente a primeira vez que uma caverna no Brasil foi mapeada com o novo sistema "paperless" inteiramente via computador, através do equipamento "Disto X", sem necessidade de croquis e bússola e clinometros convenciais. Esta inovação foi possível graças à participação do Dr. Lukas Plan, do Museu de História Natural de Viena, Austria, que gentilmente trouxe o equipamento. Outras expedições já estão sendo planejadas, inclusive com a elaboração de um robusto programa científico, que abrirá caminho para dissertações de mestrado e pesquisas diversas.





3. No segundo semestre de 2010 tivemos a segunda etapa do convênio acordado entre o IC e o governo da Wallonia (Belgica), fruto de uma colaboração na área de hidrogeologia cárstica. O sócio colaborador Paulo Pessoa passou 2 semanas na Bélgica, em companhia do Dr. Philippe Meus, participando de atividades ligadas a traçadores no carste. O convênio prosseguirá no ano que vem, com o primeiro curso internacional de traçadores no Carste, em Belo Horizonte.
4. Paleoclimatologia de espeleotemas é uma área das mais ativas, com inúmeras viagens em várias partes do Brasil e do mundo. Francisco William Cruz Jr (Chico Bill) e Augusto Auler participam de um projeto em conjunto com o IRD (Institute de Recherche pour le Developpement), orgão francês de fomento de pesquisas no exterior. Em 2010 houve a oportunidade de participar de viagens a Bolivia, Peru e Marrocos. O carste e as novas oportunidades de pesquisa oriundas destas viagens são várias. Um detalhamento destas viagens será apresentado no boletim Fluxos.

5. Em 2010 também tivemos o Jornadas Carste com a presença de Kevin Downey no Brasil com palestras e cursos de fotografia subterrânea em São Paulo e Minas Gerais. Com o maior acervo fotográfico de cavernas do mundo Kevin é considerado um dos maiore fotografos de caverna da atualidade.


Para 2011:

As perspectivas para o próximo ano são as melhores possíveis. Ainda no primeiro semestre teremos duas atividades importantes:
1. Curso Internacional sobre Traçadores no Carste. A data será brevemente definida. A ser realizado em Belo Horizonte. Com a chancela da IAH (International Association of Hydrogeologists) o curso contará com palestrantes brasileiros e internacionais, além de atividades teóricas e práticas. 

2. Jornadas Carste 2011. Vinda ao Brasil para palestras e atividades de campo da Dra. Hazel Barton, professora da Northern Kentucky University, e especialista em microbiologia em cavernas. Hazel é também conhecida por sua participação em vários filmes espeleológicos, entre os quais o popular "Amazing Caves". Trata-se de uma área pouco explorada no Brasil, com várias possibilidades de pesquisa.



Aguardem maiores notícias no boletim Fluxos, assim como no nosso site: www.institutodocarste.org.br



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Brasil retrocede novamente e fragiliza a proteção de nossas cavernas.

Para toda a comunidade espeleológica e ambientalista do país


No momento em que muitos avanços foram conseguidos em alguns estados, incluindo a aprovação de planos de manejo em unidades de conservação de proteção integral. E no pouco que resta para assegurar a proteção do patrimônio espeleológico, o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) pretende colocar mais uma "pá-de-cal" no tocante às Unidades de Conservação e o patrimônio espeleológico.
Dias 24 e 25 de Novembro (amanhã!), será dado o início das reuniões onde o CONAMA que tem como pauta o desfecho de uma resolução que trata do licenciamento ambiental e anuência dos órgãos gestores para empreendimentos que afetem as Unidades de Conservação ou suas Zonas de Amortecimento e mais especificamente do patrimônio espeleológico.
Se destaca o artigo 8o da nova resolução onde ficarão REVOGADAS diversas determinações que garantem proteção à cavernas e seu entorno e que identificam empreendimentos potencialmente causadores de impacto ambiental nacional ou regional.

Na prática, revogar essas determinações anteriores significa novamente fragilizar todas as unidades de conservação do país, o patrimônio espeleológico, o papel dos Conselhos Consultivos (representados por comunidades, ONGs, Prefeituras, órgãos ambientais, etc) e facilitando, assim, a aprovação de empreendimentos potencialmente impactantes, em especial nas Zonas de Amortecimento criadas justamente para minimizar os impactos sobre as Unidades de Conservação.Esta notícia vem a se juntar com o famigerado decreto de relevância das cavernas e tantos outros atos que visam derrubar os pilares de nossa legislação ambiental (a exemplo da recente discussão sobre o código florestal) e surte efeito bastante negativo entre cientistas, espeleólogos e ambientalistas. Esta postagem é, entre outras atitudes desesperadas, uma tentativa de ao menos trazer à conhecimento de cidadãos comuns as mudanças que o Brasil vem sofrendo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Concurso de Fotografia "Retratos de Lajes"

Laje dos Negors, na Bahia é uma das cidades mais remotas e especiais do Brasil. Além de estar ao lado da Toca da Boa Vista, uma das maiores cavernas do mundo (110km) abriga uma população acolhedora que há mais de vinte anos compartilha das expedições do Grupo Bambuí e visitas de espeleologos de todo o mundo que se aventuram nas entranhas das cavernas da região.

Este ano, junto com a Expedição Toca da Boa Vista, o Grupo Bambuí esta organizando concurso fotográfico "Retratos de Lajes". Para participar não precisa ser fotografo profissional ou ter imagens sensacionais do lugar... o objetivo do concurso é justamente reunir o máximo de imagens da população local e devolver a eles em forma de uma exposição imagens deles mesmos.

Para participar basta entrar em contato com a comissão organizadora:
Luciana Alt: lualt1@gmail.com
Vitor Moura: vmoura@gmail.com
Fred Lott: fredlott@gmail.com

Vamos lá! Vamos participar e privilegiar o povo de Lajes!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

30 e 31 Outubro de 2010, A Exploração do Abismo da Raquel

Há cerca de um mês estivemos no PETAR e durante atividades de prospecção chegamos até a entrada de mais uma nova caverna. Era um abismo, com acesso totalmente vertical não possibilitando nenhuma aproximação mais segura sem o uso de equipamentos. Sua localização nos animava: este abismo estava há apenas alguns metros da Gruta da Marreca e bem alinhado com uma suposta continuidade da caverna. Confesso que o fato de não ter descido o abismo naquela ocasião por falta de equipamentos de vertical me causou muita ansiedade e falta de sono nas semanas que seguiram...
Finalmente, no feriado de finados, retornamos ao PETAR para desvendar o misterio deste abismo. Entre outras atividades da viagem o principal objetivo era mesmo descer o abismo e prepará-lo para uma expedição maior, caso a conexão com a continuação da Marreca se concretizasse.
A viagem foi marcada de última hora e a equipe estava formada por mim e pelo espeleólogo Fabio Christofoletti (Rato). 

Com equipe pequena e ágil equipamos o abismo e rapidamente chegamos ao fundo. Trata-se de uma entrada de medias proporções que dá acesso à um lance livre de 25 metros em um belo garrafão. Apesar do volume animador e da beleza da descida o abismo não apresentou passagens transponíveis que possibilitasse alguma conexão com a Marreca.

Uma continuação no fundo do abismo está completamente obstruída por argila e um conduto suspenso em meio à parede vertical deu acesso há dois belos salões, mas que também não apresentaram continuidade.
A atividade valeu a viagem pela tecnica de acesso ao conduto lateral na parede (pendulando) e também pela bela descida no garrafão. Por outro lado, não foi desta vez que encontramos novas entradas para os rios subterrâneos da região.
Segue então o mapa de mais um abismo do Lajeado e algumas fotos da empreitada.
Como nos foi requisitado por um morador local, fica o nome de Abismo da Raquel para esta caverna.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Lojinha...

Vendo escravo para automatizar disparo de flash em fotografias subterrâneas.
FIREFLY3 - Ultra Sensitive Remote Flashgun
Slave Unit for Digital Cameras



Novo, nunca usado
Preço de venda: R$ 275,00 + frete


Nota: para quem não sabe, este equipamento é acoplado em qquer flash independente (comum) e o faz disparar automaticamente quando se dispara algum outro flash (o da própria máquina, por exemplo). Um ótimo recurso para fotografia profissional ou amadora. Permite excelentes resultados mesmo para aqueles que não são experts em fotos subterrâneas.

Além do slave, tem tbém o manual de instruções, velcro de fixação e etc... tudo bonitinho como veio da fábrica... 
Interessados entrar em contato: danielmenin@gmail.com

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Você assina a revista O Carste?

Há 22 anos, o Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas publica a revista O Carste. 
A publicação acontece três vezes ao ano (nos meses de abrilagosto e dezembro) e além do Brasil, O Carste também é distribuído em outros países da América do Sul, Norte e Europa. 

A anuidade custa somente R$ 30,00 (valor que pode variar para outros países)

O Carste reúne sempre um rico conteúdo técnico, científico, histórico ou mesmo bons relatos de expedições, explorações e aventuras subterrâneas.

Se você é amante das cavernas ou mesmo simpatizante de atividades como esta não pode deixar de ler O Carste.

Para assinar entre em contato com fredlott@gmail.com ou azuias@yahoo.com.br


maiores infos em: www.bambui.org.br

Quebra-cabeça

Mais uma peça para nosso Quebra-cabeça.
Aos poucos vamos juntando as partes e preenchendo a região com seus mapas subterrâneos...

(mapa de parte do Lajeado, PETAR e algumas de suas cavernas plotadas)

domingo, 19 de setembro de 2010

Repercussão... e o desenrolar.

Atualização 24 de Setembro de 2010:  Obras paralisadas devido às denúncias. 



Aguardamos investigação sobre o ocorrido e as decisões sobre os novos traçados recomendados para a estrada!

A Denúncia publicada no Conexão Subterrânea N. 80 sobre as obras da rodovia BR135 começa a surtir efeito.
Se as obras ignoraram a recomendação dos espeleologos e do CECAV, a imprensa encarou o fato com maior seriedade e tem nos dado o apoio necessário.
O barulho gerou uma reportagem de meia capa do caderno de Ciência da Folha de São Paulo de hoje, 19 de Setembro de 2010 e provavelmente este não será o único alarde massivo que vamos gerar.

Parabéns ao Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas e a todos os espeleólogos envolvidos nesta contínua luta na preservação de nossa riqueza subterrânea.
A reportagem também pode ser lida em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/inde19092010.htm
Além do Conexão Subterrânea, a SBE (Sociedade Brasileira de Espeleologia) também apoiou a denúncia publicando o artigo em seu principal informativo.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Conexão Subterrânea N.81

Acaba de ser publicado mais um número do Conexão Subterrâena, Boletin Eletrônico da Redespeleo Brasil.





Atenção especial ao artigo-denúncia sobre obras da BR135 que avançam sobre o Carste de São Desidério, na Bahia. A estrada coloca em risco uma caverna de máxima relevância na região, onde está situado o maior lago subterrâneo do Brasil (vide capa do Conexão).


Se você não recebe o Conexão Subterrânea basta se cadastrar no site da rede (www.redespelo.org.br) ou entrar em contato consoco.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Quartzito e algumas de suas surpresas

Explorar e mapear cavernas em Quartzito é um desafio à parte. Por este tipo de rocha ser bastante friável, grutas em Quartzito assumem um desenvolvimento menos lógico do que as tradicionais cavernas em Calcário.  Algumas vezes é bem possível que você fique jornadas inteiras deitado, rastejando e se ralando em caóticos labirintos tridimensionais subterrâneos sem conseguir terminar a topografia ou mesmo chegar ao final da gruta. Mas não se desespere! Cavernas em Quartzito podem ser tão belas e surpreendentes quanto suas primas em Calcário. Apesar de não apresentarem uma riqueza em formações geológicas tão diversificada (estalactities, estalagmities, inúmeras formações de calcita e outras precipitações comuns do calcário), as cavernas em Quartzito também apresentam suas belezas, fascínios e principalmente surpresas. Desta forma, ao explorar uma caverna em Quartzito você também poderá encontrar volumosos salões debaixo da terra ou ser surpreendido por novos rios, lagos, cachoeiras e abismos subterrâneos.



Abaixo seguem algumas imagens de um mapa que produzimos há alguns anos em expedições à Chapada Diamantina. 

Esta gruta, em especial, nos presenteou com grandes descobertas e resultados. A primeira delas foi uma inusitada continuação. Onde antes era o “final da gruta” conhecida pelo guia, encontramos uma pequena passagem que nos rendeu mais de 3km de continuidade. A segunda surpresa foi a conexão desta, com outra caverna vizinha, justamente obra de condutos labirínticos. 

Mas talvez a descoberta mais relevante tenha sido a riqueza histórica que a caverna escondia em seu interior.  Em lugares longínquos debaixo da terra encontramos ferramentas antigas, condutos escavados e inscrições datadas do século XVII. Com certeza, obras de escravos que sacrificavam suas vidas por punhados de diamantes. 


Enfim, apos cansativos dias de exploração e topografia chegamos a números bastante expressivos para uma caverna neste tipo de rocha: 200m de desnível sendo o maior desnível subterrâneo da Bahia e mais de 4km de galerias subterrâneas sendo uma das mais extensas cavernas de Quartzito do Brasil.

Nota: os trabalhos nesta gruta ainda não terminaram, portanto, outras expedições devem retornar à caverna para terminar os trabalhos em condutos que ainda continuam e somar mais dados ao mapa.







Esta é somente uma das muitas cavernas que mapeamos neste tipo de rocha no Brasil. Outras grutas ainda estão em fase de trabalho e muitas ainda nem sequer são ainda conhecidas por espeleologos. Isto mostra que ainda temos uma infinidade de cavernas em Quartzito a serem descobertas, exploradas e mapeadas no Brasil. 


Cabe lembrar que apesar da falta de formações delicadas as cavernas de quartzito são ambientes bastante instáveis, perigosos e frágeis. Instáveis pois suas rochas estão sempre “esfarelando” o que pode ocasionar em desmoronamentos e obstrução repentina de passagens durante as explorações. Perigosos pois muitas grutas são (como a do exemplo abaixo) repentinamente inundadas por água de chuva. Frágeis pois muitas destas cavernas apresentam espécies importantes, (bagres-cego, por exemplo), pouco estudados ou mesmo espécies endêmicas (exclusivas daquele ambiente). 


As expedições onde foram gerados os dados acima fazem parte de um projeto idealizado pelo Instituto do Carste (www.institutodocarste.org.br)


domingo, 15 de agosto de 2010

Gruta do Calixto - Bahia 2009

Texto: Daniel Menin
Fotos: Augusto Auler e Daniel Menin

Após vários dias mapeando pequenas cavernas de Quartzito na Chapada Diamantina buscávamos agora encontrar alguma caverna maior, preferenciamente em calcário. Seguindo o mapa geomorfologico da Bahia e unindo informações de referências antigas rumamos então à novos horizontes, em busca de lentes carsticas ainda pouco mexidas naquela parte do sertão nordestino.

Era final de tarde e estávamos próximos a nosso destino (a cidade de Iramaia) quando começamos a ver alguns afloramentos não muito longe da estrada. Paramos o carro ao lado de uma enorme dolina, incrivelmente próxima da estrada. Apesar de grande, a depressão teria passado facilmente desapercebida não fosse uma recente queimada deixando um enorme buraco aberto ao ar livre e à vista dos que   passavam por ali. Estacionamos em uma casinha próximo à dolina, pegamos nossos equipamentos e como de costume fomos investigar mais de perto do que se tratava. Logo na beirada da descida já foi possível ver, la no fundo, o vazio negro da entrada de uma gruta. Ao descer na dolina e adentrar na caverna, a princípio tratava-se apenas de um salão inclinado, bastante arredondado, ornamentado e de médias proporções. Apesar de meus protestos (eu não queria perder tempo com grutas pequenas e dolinas) a equipe resolveu iniciar uma topografia do salão, que a princípio deveria durar no máximo 5 minutos (por isso no mapa vemos: "salão dos 5 minutos!").

Ao esticar a trena até a parte mais funda da sala pudemos verificar, em meio a blocos empilhados e sedimentos, uma estreita passagem. Depois de um rapido trabalho de desobstrução uma surpresa: a gruta continuava. Lá se ia, aos ventos e efetivamente, a razão dos meus protestos. Mais algumas descidas íngremes e passagens apertadas e o esforço começou a ser recompensado. Parecia estarmos acessando uma ampla rede de condutos. Horizontais, largos e de teto a cerca de 1,80m, os caminhos se desenvolviam em diferentes direções. A princípio uma rede bastante labiríntica. 


Em alguns lugares, ao caminhar, afundávamos até a canela em uma fina poeira despositada o solo. Possivelmente tratava-se de guano fossil (fezes de morcego fossilizadas). 
Por todo o caminho não vimos pegadas. Indício de que ninguém havia passado por alí até então. Em alguns locais, na medida em que caminhávamos a fina poeira ficava suspensa atrapalhando nossa respiração e um pouco a visibilidade. 

Escolhemos um caminho principal e fomos adentrando na caverna até nos depararmos com a parte superior de um grande salão.  Perplexos, ficamos alguns minutos parados naquele terraço, admirando a e beleza da caverna e a amplitude do salão. Ainda assimilávamos a grandeza da descoberta. Naquele momento percebi que teríamos trabalho para vários dias de exploração e topografia. Uma sensação de excitação difícil de descrever. Quais mistérios ainda nos aguardavam? 
O Sr Calixo, morador local, que com uma headlamp emprestada por mim nos acompanhava nesta primeira incursão tinha um semblante igualmente admirado. Há decadas habitava somente à alguns metros daquele buraco, sem imaginar o mundo que se abriria ao transpor uma pequena passagem no fundo da dolina.
Os 4 dias seguintes passamos mapeando a caverna e explorando seus condutos, salas e caminhos bastante ornamentados e delicados. O Sr Calixto foi se acostumando em nos ver entrar na gruta de manhã cedo saindo somente de noite.




A Gruta do Calixto, como foi cadastrada a caverna, está sendo palco de importantes estudos científicos geologicos. Suas concreções e morfologia, pouco comuns, indicam um processo de formação hipogênico, sugerindo resumidamente que a gruta tenha sido formada de baixo para cima, através de ácido sulfúrico.
A topografia e o mapeamento foram também bastante trabalhosos. Para mim, o maior desafio foi conseguir unir todos os croquis no mapa e encaixando-os a uma verdadeira “teia de aranha” formada pelas linhas de trena. Apesar das dificuldades, o mapa ficou pronto e foi publicado no final de 2009, após muitas horas de analise e reencontros de dados.
Esperamos que a caverna continue intacta. Protegida por sua distância do meio urbano e do acesso de turistas como sempre esteve. Ao mesmo tempo, agradeçemos por termos sido privilegiados por mais esta descoberta, de certa forma, obra do acaso. Nossas pegadas não geraram somente o impacto negativo da presença humana na gruta, mas também algo de positivo: um mapa e um cadastro. Agora a caverna é oficialmente reconhecida pela comunidade científica. Por estar hoje cadastrada e devidamente mapeada é uma caverna que existe formalmente e portanto pode ser protegida por lei.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Conexão Subterrânea N.80

Saiu o octagésimo número do Conexão Subterrânea, o boletim eletrônico da Redespeleo Brasil.




Nesta edição você saberá mais sobre os seguintes assuntos:

   - 32 Planos de Manejo Espeleológico são concluídos no Vale do Ribeira

   - Gruta do Bacaetava - Melhorias estão a caminho

   - Arqueólogos encontram esqueletos de 5 mil anos em caverna na Espanha

   - Novo roteiro turístico “Linha Lund” permitirá resgate de fóssil humano com 11 mil anos

   - Kevin Downey, divide sua vasta experiência com fotógrafos de caverna brasileiros

   - Encontradas novas cavidades no Parque das Mangabeiras 

   - Parque Estadual do Sumidouro é aberto ao público

   - Pesquisadores divulgam imagem de fóssil de rato gigante

   - Grupo de marsupiais morreu ao cair em caverna há 15 milhões de anos



Para obter os números anteriores acesse www.redespeleo.org.br.


Boa leitura!

terça-feira, 27 de julho de 2010

EspeleoInfo - Informativo do CECAV - Ano2 - Nº 2 - 2010



Recentemente foi publicado o segundo número do EspeleoInfo, Boletin Eletrônico do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas - Cecav/ICMBio.

Neste segundo número são apresentadas algumas atividades em desenvolvimento no CECAV como também outras que estão sendo implementadas. Entre estas atividades está a conclusão dos trabalhos de mapeamento da Caverna do Trapiá, realizada em parceria com o grupo Meandros e cuja as fases do projeto estão descritas em detalhes ao longo deste blog. 

Quem tiver interesse em receber o Espeleoinfo completo pode entrar em contato conosco ou diretamente com o CECAV (http://www4.icmbio.gov.br/cecav/index.php?id_menu=252).



terça-feira, 20 de julho de 2010

Abismo Los três amigos


Demorou, mas voltamos ao Abismo Los Três Amigos. No último final de semana, dia 17 de julho, Brandi, Cesinha, Ezio e eu caímos na estrada rumo à Guapiara.

Fazia frio e chovia o bastante para nos preocuparmos com o rio na caverna, uma enchurrada poderia causar muita confusão.

Da entrada do abismo soprava um vento forte e quente e logo, literalmente, escorregávamos para dentro pelas cordas enlameadas. 

Não demorou para eu descobrir o por quê do voo livre, realmente impressiona o vazio negro à frente. Descer no meio do salão com as paredes a dezenas de metros e os pequenos pontos de luz dos outros lá embaixo não nos deixam sossegado.

Chegamos ao ponto em que a equipe anterior havia parado por falta de corda. Descemos e continuamos pela galeria do rio sem dificuldades, apesar da correnteza que nos fazia lembrar da chuva a todo momento. Parecia que a conexão com a Ribeirãozinho III era questão de tempo. Até que um desmoronamento acabou com a nossa animação.

Faltou explorar uma promissora galeria superior, que deve, ao menos, nos premiar com boas descobertas e quem sabe até nos levar ao outro lado. Como tudo na região, nada vem fácil e ainda teremos de encarar o abismo algumas vezes até conseguir encontrar outro provável acesso.

A volta foi sofrida, não bastasse o cansaço da semana de trabalho acumulado ainda tinha de brigar com meu equipamento desregulado e minha maldita mochila pesada. Fora a lama acumulada nas cordas e equipamentos.

O frio da madrugada estava ainda mais forte e a garoa e o vento só pioravam a volta pela trilha. Não havia o Zé com seu trator para nos levar e o mundo estava torto pro nosso lado, era só subida. A saída foi não pensar no caminho e apertar o passo.

Chegamos perto das 3h da manhã, com o Zé nos esperando, como sempre. A cada minuto uma alegria. Banho quente, roupa quente, comida quente, cama quente.

Não choveu o suficiente para nos atrapalhar, mas percebemos o quanto é perigoso uma enchurrada na galeria do rio. O frio também preocupa, principalmente nos momentos de espera para entrar na corda. Agora é entrar em forma, arrumar a tralha e voltar pra continuar os trabalhos pois a caverna ainda promete muito.



segunda-feira, 12 de julho de 2010

Publicado novo mapa do Abismo da Marreca

A Caverna ou Abismo da Marreca (SP-50) é uma importante caverna localizada na região do Lajeado, no PETAR, SP. Sua importância dá-se principalmente a seu valor historico e localização.

O Acesso à caverna é realizado através da descida de um abismo com cerca de 20m e exige o auxílio de corda e conhecimento de técnicas verticais. Após a descida dá-se acesso a seus condutos e salões até chegar a mais uma íngreme descida (necessário cordas) para acessar um grande salão na parte de maior desnível da gruta. 

Com visitas mais frequentes na decada de 60, a caverna apresenta em algumas partes uma serie de inscrições (predatorias) datadas daquela época e alguns acessórios antigos deixados no interior da gruta (detalhe para uma lâmpada calcificada e já totalmente incrustada nas concreções). A caverna apresenta também salões volumosos, com a presença de ossos e formações delicadas. Detalhes para algumas grandes colunas e escorrimentos um belo “disco”, formação não muito frequente.


Em meados de Março de 1966 a caverna teve seu mapeamento realizado pelo Espeleo Grupo de Londrina e também outras tentativas de continuidade realizadas no mesmo ano pelo CAP (Clube Alpino Paulista), durante expedições que se passavam na Gruta de Areias.

Mapa do Abismo da Marreca (Espeleo Grupo de Londrina - 1966)


Mapa do Abismo da Marreca (CAP 1966)


Através do Projeto Paçoca e Arredores (Sistema Corrego-Fundo) observamos a necessidade de remapear a caverna seguindo os mesmos criterios de detalhamento das outras cavernas mapeadas na região.

Os trabalhos de tropografia e mapeamento foram realizados no início de 2010 e o novo mapa publicado em Julho deste mesmo ano.

Para este mapa demos especial atenção a representar a caverna além de sua planta, mas também realizando um corte em perfil detalhado. Desta forma é possível ter uma imagem bastante próxima à realidade não somente da morfologia da gruta, mas também da localização de pontos importantes na caverna (ossos, disco, abismos, pérolas, etc...). Cabe lembrar que a qualidade do mapa só reflete a riqueza destes detalhes na caverna porque os mesmos foram cuidadosamente bem representados em um excelente croquis, obra do nosso amigo arquiteto Marcos. Valeu Marcão!



Mapa atual do Abismo da Marreca (2010- Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleologicas)

O mapa está disponível na Mapoteca da Redespeleo Brasil e as informações detalhadas sobre o histórico da caverna encontra-se no Projeto Paçoca e Arredores (pdf disponibilizado ao governo e entidades competentes).