"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci
Mostrando postagens com marcador Morro do Chapéu. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Morro do Chapéu. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Abismo ventania - Morro do Chapéu

O nome da gruta é sugestivo. Normalmente quando da entrada de uma caverna sentimos uma corrente de ar temos uma idéia de que grandes galerias nos aguardam de baixo da terra. Mas nem sempre é assim. As vezes estas galerias não são tão evidentes ou mesmo podem nem mesmo existir. E nesses casos, então, de onde vem o vento?

Em 2010 estivemos em Morro do Chapéu averiguando algumas dolinas. A maioria estava mesmo entupida de sedimentos mas uma delas chamou especialmente nossa atenção. Por uma entrada em formato de fenda soprava um forte vento. Depois parava. Depois voltava a soprar.
Na ocasião, não conseguimos tirar a dúvida pois para se adentrar tínhamos que usar cordas. O buraco era totalmente vertical. Uma queda de uns 30m de onde não se podia nem ter uma visão do que havia lá em baixo. Blocos equilibrados pareciam estar prestes a se soltar a qualquer momento.

Pois bem. Aproveitando a expedição na Toca dos Ossos, em Janeiro de 2013, uma equipe de 4 espeleólogos esticou mais um dia na região e, em fim, o abismo foi explorado.

Segue abaixo o mapa. Apesar da corrente de ar, não conseguimos encontrar nenhuma continuação evidente. Talvez ela não exista mesmo. Talvez esteja guardada para futuros exploradores...

Mapa do abismo: -120m de profundidade.

(Fotos: Luciana Fakhouri, Adolpho Milhomem, Letícia Moraes)
Dolina, dentre várias entupidas na região, uma que conseguimos adentrar.

Fenda da entrada, com aproximação para a descida.

Ancoragem inicial
Descida, com muitos blocos soltos

Fim da linha (lago na parte mais baixa sugere que encontramos o lençol freático)

Equipe retornando para o carro

Equipe de topografia (Letícia, Adolpho e Daniel)
Lu da equipe de apoio de superfície tirando fotos de plantas e bichos... e dela mesma!.





terça-feira, 3 de julho de 2012

Novos mapas publicados

Depois de alguns meses e três viagens à Morro do Chapéu na Bahia, acabamos de publicar dois mapas de importantes cavernas da região. O mapa do Sistema Cristal, compreendendo as Grutas de Cristal I e II, conectadas na penúltima viagem gerando uma só caverna com mais de 2km de projeção e a Caverna da Velha Duda, encontrada na última expedição. Esta segunda, apesar de ser uma caverna de grandes volumes, os cálculos da topografia não apontaram desenvolvimentos tão notáveis (1.136m de desenvolvimento e 75m de desnível), fato que não ofusca a beleza e grandiosidade de seus salões.


Maiores informações sobre as expedições em Morro do Chapéu podem ser encontradas neste mesmo site.
As cavernas encontradas e topografadas foram registradas no cadastro nacional (CNC) e seus mapas enviados à mapoteca da Redespeleo. Os mapas também estão disponíveis na CPRM e no site do Grupo Meandros.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Conexão Subterrânea n.97

Acabou de ser publicado o Conexão Subterrânea n. 97.
Nesta edição, uma reportagem sobre a exploração e mapeamento da caverna Velha Duda, em Morro do Chapéu, cujas fotos foram publicadas aqui no TerraSub.


Caso você ainda não receba o Conexão, acesso o site da Redespeleo e cadastre seu e-mail.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

De volta a Morro do Chapéu, Maio de 2012


É bem verdade que a expedição para Morro do Chapéu realizada durante o carnaval nos havia rendido boas surpresas, mas tenho que admitir que a maior descoberta ainda estava por vir. Foi no último dia daquela viagem que, descendo de rapel em uma dolina, nos deparamos com uma enorme entrada. Uma gruta de grandes volumes e que seria o objetivo de uma próxima viagem exclusivamente para explorá-la e mapeá-la.
Esta segunda viagem aconteceu no início de Maio de 2012. Nesta ocasião, em dois dias bastante intensos, mapeamos o que parece ser uma das mais volumosas cavernas da região. Grandes salões, largos condutos, um desnível considerável e longos desmoronamentos formam a Gruta da Velha Duda, nome dado à dolina a qual a caverna pertence e já era de conhecimento de moradores locais. 
Abaixo seguem algumas fotografias. Em breve teremos pronto e publicado o mapa.
Agradecimentos especiais à CPRM e à Mylene Berbert pelo convite e apoio durante as expedições.



Texto e fotos: Daniel Menin











Participaram da expedição: 
Daniel Menin, Luciana Fakhouri, Leda Zogbi, Mylene Berbert e Jean Sebastien Moquet

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Carnaval de 2012 na Bahia


Enquanto uma esmagadora maioria de foliões pulava em seus blocos de carnaval no litoral da Bahia, nós, uma esmagadora minoria de espeleólogos pulávamos (felizes da vida), cobras, aranhas, blocos de rocha e abismos no árido sertão deste mesmo estado. No final das contas, o cansaço físico até que pode ser comparado entre as duas atividades, mas a produção de mapas, fotos e sensação de felicidade plena já é outra história...
Foi assim que passamos os quatro dias de folga de nossos tradicionais trabalhos para dar continuidade ao Projeto Morro do Chapéu, dirigido pelo CPRM (Centro de Pesquisa de Recursos Minerais) e com nosso apoio na exploração e mapeamento das cavernas da região.
Os resultados foram mais de 1,5km de topografia, novos condutos e salões e uma importante conexão. Agora as Cavernas de Cristal I e II, antes separadas, compreendem a uma só cavidade: o Complexo Cristal. A ligação foi realizada no final das topografias do segundo dia de trabalho e causou um enorme espanto de turistas desavisados que caminhavam pelo grande conduto da caverna de Cristal II. Estes, ao se depararem com espeleólogos sujos e cansados saindo de apertados blocos na lateral do conduto ensaiaram uma fuga repentina, mas ao se certificarem que não se tratava de uma invasão de criaturas alienígenas do subterrâneo se renderam a uma conversa e fotografaram freneticamente seus novos amigos. Esta foi somente um dos bons momentos que essa viagem nos proporcionou. 
O trabalho continua e promete muitas outras boas histórias!