"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci

domingo, 11 de agosto de 2013

Vista às cavernas de São Desidério - BA durante o 32º Congresso Brasileiro de Espeleologia

Em julho de 2013 estive em Barreiras, município do oeste baiano, para participar do 32º Congresso Brasileiro de Espeleologia. Realizado no Instituto de Ciências Ambientais da Universidade Federal da Bahia, foi um dos mais desorganizados e chatos congressos já realizados. Os próximos organizadores precisam repensar o formato e recuperar a graça que havia nos encontros de espeleologia.Transformar o CBE em um evento científico de terceira linha direcionado, em sua maior parte, à trabalhos incompletos, irrelevantes e "comentários iniciais preliminares inconclusos" sobre qualquer coisa só para o autor ter uma linha no Lattes é uma péssima estratégia. Mas isto fica para outro artigo. 

Barreiras é uma cidade em pleno crescimento econômico movido pelo poder do agronegócio, evidente nas dezenas de novas construções, na expansão urbana desordenada e nos artigos e carros de luxo pelas ruas. Cidade interessante do ponto de vista histórico, com destaque para o aeroporto usado como base pelo exército Norte Americano durante a II Grande Guerra, porém do ponto de vista espeleológico o que nos interessa é a cidade vizinha de São Desidério.

O carste de São Desidério é magnífico, lapiás à perder de vista, cavernas, dolinas e
caatinga misturada à espécies de mata tropical, remanescente de tempos mais úmidos na região.

Rio Grande em Barreiras 
BR135 sobre o carste de São Desidério. As obras da rodovia afetaram cavernas e dolinas, especialmente o Buraco do Inferno da Lagoa do Cemitério, que abriga o maior lago subterrâneo do Brasil. Estão paralisadas mas devem ser retomadas devido à pressão política.

Trilha no Parque Municipal da Lagoa Azul.

Dolina

Lagoa Azul

Gruta do Catão

Detalhe de formações na Gruta do Catão

Trilha para Sumidouro do Jõao Baio

Trilha para Sumidouro do Jõao Baio

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Acontece: palestra sobre explorações

Um bom programa para quem estiver em Campinas no Sábado, dia 27 de Julho é assistir a palestra do Alexandre Camargo (Iscoti) e do Roberto Brandi sobre os dez anos de exploração espeleológica na região de Bulha D'água, no PETAR, SP.

Embora muitas das aventuras estejam publicadas com fotos e relatos aqui neste site, conhecer, rever, assistir a palestra e bater um papo com alguns dos exploradores pessoalmente é sem dúvida um programa bacana.



BULHA D'ÁGUA - 10 ANOS DE EXPLORAÇÃO
Por: Alexandre Camargo (Iscoti) e Roberto Brandi.

Após uma década de exploração na região de Bulha d’Água, Vale dos Buenos, Fundão e Caboclos, as aventuras vividas serão contadas ao público revelando fatos e descobertas feitas por Espeleólogos de todo o Brasil, nesta que é uma das últimas áreas intocadas do Estado de São Paulo.

A palestra também marca o início uma exposição fotográfica de mesmo tema que ficará em exibição na sede da SBE até o final de agosto.

Data: 27/07
Local: Parque Taquaral, portão 2 (ao lado da Concha Acústica) - Av. Dr. Heitor Penteado, s/n - Campinas SP

terça-feira, 16 de julho de 2013

CURSO - espeleoresgate



Entre os dias 07 e 15 de Setembro de 2013 será realizado mais um curso de espeleoresgate do EGB (Espeleogrupo de Brasília) em parceria com a FFS (Federação Francesa de Espeleologia) e SSF (Speleo Secours Francais).

Este ano será o segundo curso ministrado pelos franceses em Terra Ronca (o primeiro foi em 2012). O curso será focado nas particularidades das cavernas do território brasileiro, além da apresentação de técnicas próprias de resgates em cavernas desenvolvidas na Europa. Os instrutores são espeleólogos franceses que possuem amplo conhecimento das técnicas, da dificuldade do ambiente cavernícola e particularidades do carste brasileiro, tendo participado de diversas expedições em Minas Gerais, Bahia e
Goiás.

Para maiores informações e inscrição, entrar em contato com espeleoresgate2013@gmail.com

domingo, 16 de junho de 2013

Expedição à Caverna de São Mateus, Goiás - Maio de 2013

(Texto Ezio Rubbioli)

Acabamos de voltar de São Domingos em Goiás onde continuamos o mapeamento do sistema São Mateus –Imbira; a ultima das grandes cavernas da região que ainda não teve o seu mapeamento refeito. A exploração e topografia inicial foram realizadas pelo CEU – Centro Excursionista Universitário de São Paulo na década de 70, sendo identificados 5 segmentos do sistema batizados de Matildes. A maior delas (Matilde III) somou na época mais de 10 km restando inúmeras galerias superiores a serem devidamente verificadas.

O Bambuí iniciou os trabalhos de topografia em São Mateus no ano de 2000, sendo na época retopografados cerca de 6 km, quase que totalmente na Matilde II (o segundo maior segmento do sistema). Este ano ficamos 10 dias na região com uma equipe de 15 pessoas e conseguimos acrescentar mais 10,6 km  na topografia, sendo 9,9 km na Matilde III e 700 metros na Matilde II. Além disso, encontramos uma passagem no meio a um grande desmoronamento que permitiu a conexão da Matilde III com a Matilde I (ressurgência do sistema). Esta ligação havia sido descartada nas explorações iniciais da década de 70 onde os espeleólogos foram barrados por um sifão. Com isso devemos acrescentar na Matilde III pelo menos 1 km de novas galerias além de estabelecer um acesso rápido e fácil às galerias mais distantes (anteriormente eram necessários pelo menos 4 a 5 horas utilizando a entrada principal do sistema só para chegar ao fundo).

Este mapeamento faz parte do projeto de reedição do livro “As Grandes Cavernas do Brasil”. Nos últimos 12 meses já formam topografados mais de 62 km de galerias nas grutas Sem Fim, Brejões, Torrinha e agora na São Mateus. Ainda este ano devemos finalizar o mapa da Torrinha e São Mateus sendo que na ultima devemos retornar em setembro. Para o final de 2013 estamos planejando uma expedição a Ourolândia para finalmente topografar a Toca dos Ossos, sem dúvida uma dos maiores labirintos do Brasil e que tem potencial para superar a marca dos 15 km.

Obs: Todas as medidas apresentadas acima são referentes a soma das visadas. A projeção horizontal real só deve ser confirmada depois de confeccionado o mapa. Abaixo segue a linha de trena da Sistema São Mateus com todos os dados atuais.


(fotos: Cavernas Terra Ronca e São Mateus III -  Daniel Menin)














terça-feira, 21 de maio de 2013

Serra do Caraça, Maio de 2013


Escalar a Serra do Caraça para explorar as cavernas em seu cume é uma das atividades mais próximas ao que podemos chamar de espeleologia alpina no Brasil. Como se não bastasse as dificuldades da altitude e do difícil acesso, os espeleólogos ainda têm que lidar com a complexidade das cavernas da região. Grandes fendas de Quartzito (uma rocha instável e de difícil equipagem), que podem chegar a centenas de metros de profundidade. A mais profunda, a Gruta do Centenário, tem mais de 484 metros de profundidade mapeados estando entre as mais profundas cavernas do mundo nesta litologia. Estas dificuldades fazem do pico do Inficionado , no Caraça, um dos locais onde a atividade torna-se a mais extrema e adversa em nosso país.

O grupo Bambuí vem há mais de uma década explorando e mapeando as estas profundas cavernas e a expedição de Maio foi mais uma dentre tantas outras vezes que os espeleólogos lidaram com tamanhas dificuldades.

Subimos o Caraça no final da tarde da Sexta-feira, 17 de Maio de 2013. Devido a uma chuva repentina e frio durante a subida, chegamos no cume na madrugada de Sábado. Acampamento realizado, investimos o final de semana em equipagens e início de topografia de novas cavernas. A descida foi realizada no Domingo ao longo do dia, após a exploração de uma fenda identificada e explorada parcialmente em uma viagem anterior. Parece termos retornado com mais pendências do que quando iniciamos a expedição o que indica que serão necessários ainda muitos anos e energia para explorar e documentar todas as cavernas desta região. 

Escrevo este texto alguns dias após nosso retorno, ainda sentindo dores no corpo e as pernas fracas diante de todo esforço aplicado. Mas apesar do desgaste físico, escrevo feliz de poder ter participado de mais esta aventura, desta vez sobre as nuvens e ao mesmo tempo nos subterrâneos!

(Fotos Daniel Menin)


 













 






(Fotos Rafael Camargo, "Rafinha")