O Abismo Juvenal compreende a uma importante caverna na história
da espeleologia brasileira. Descoberto na década de setenta, foi palco de
explorações relevantes e diferentes épocas, figurando por muitos anos como a
caverna mais profundas do Brasil (-241m).
Os primeiros exploradores foram espeleólogos do Centro
Excursionista Universitário (CEU). Um trabalho inicial continuado mais tarde por
outros grupos de espeleologia em diferentes expedições. Além do CEU,
trabalharam no Abismo do Juvenal o Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas, o
Grupo Pierre Martin de Espeleologia, a Trupe Vertical e o GESCAMP, além de
investidas isoladas de espeleólogos não filiados. Apesar da importância
histórica e dos frequentes trabalhos de exploração, alguns pontos com bom potencial
de continuação da caverna ainda se mantinham não explorados devido às
dificuldades de acesso: Estes locais, representados por grandes pontos de
interrogação nos mapas do abismo, aguçavam a imaginação e desafiavam os
espeleólogos mais aventureiros a explorá-los.
Entre os anos 2001 e 2005 uma nova iniciativa espeleológica estimulou a retomada dos trabalhos de
exploração da caverna: o Projeto Juvenal. Além de atividades sistemáticas de
verificação de possíveis continuidades subterrâneas, o projeto também realizou
uma varredura externa buscando novas entradas e possíveis conexões com outras
cavidades vizinhas.
Composto por três fases distintas, o projeto explorou e mapeou
novos condutos do abismo, desvendou algumas pendências dos mapas anteriores e
descobriu novas cavernas no entorno do abismo.
Em parceria com o Museu de Zoologia da USP, o Projeto Juvenal
também auxiliou trabalhos de prospecção e levantamento paleontológico,
encontrando e estudando fósseis em cavidades vizinhas ao abismo.
Depois de uma fase inicial, com foco na busca por novas cavidades
ou conexões com o abismo, deu-se início a um trabalho sistemático de
verificação de continuações internas na caverna. O foco principal foi a
exploração das extremidades de uma grande galeria, situada a -120m de
profundidade no abismo. A expectativa era de continuidade da galeria por um
conduto superior, acessado somente através de escalada de uma parede vertical
de abatimento na extremidade a jusante do contudo. A dificuldade de subida exigiu o
desenvolvimento de técnicas de escaladas artificiais adaptadas a situação. Uma
ascensão permitida através da incisão de parafusos de aço instalados na parede
para servir como apoio ao escalador até que se atingisse uma superfície maciça
o suficiente para a fixação de spits. A rocha
foi perfurada manualmente e os parafusos instalados a golpes de martelo.
Durante as subidas, a equipe fez uso de técnicas tradicionais de
segurança em escalada, com cordas dinâmicas, spits, chapeletas, costuras e
segurança a partir de baixo.
As investidas de escalada exigiam o transporte de grandes
quantidades de equipamento para dentro da caverna. Para se chegar até o local
de início da escalada, a 120m de profundidade, consumiam-se horas e bastante
energia dos exploradores. Por mais de um ano a caverna se manteve equipada, o
que facilitou o trabalho dos espeleólogos. Mas mesmo assim, para algumas horas
de atividade na parede de escalada calculavam-se um tempo muito maior para o
deslocamento, compreendendo a descida das equipes até a área de exploração e
depois o tempo de subida até a saída da gruta. Cada viagem exigia um minucioso
trabalho de organização e logística prévia, tanto de equipamento e mantimentos
quanto das pessoas envolvidas.
Após cerca de 15m escalados, a equipe se deparou com um terreno
ainda mais instável, repleto de argila, blocos soltos e ausência de pontos para
fixação de segurança. Blocos de sedimento se desprendiam de mais de 30m de
altura diante de qualquer movimento representando alto risco de acidente aos
exploradores abaixo, bem como de graves danos aos equipamentos.
Após mais de um ano de investidas e cerca de 40m escalados, a
equipe se deparou com uma visão clara do teto da caverna e da não continuidade
do conduto por alguma passagem superior. A parede conquistada, bem como um
plateau lateral descoberto foram topografados e adicionados ao mapa, mas
infelizmente não representaram a continuidade do abismo do Juvenal.
Em uma das investidas, enquanto uma equipe realizada a escalada um
outro grupo descobriu uma passagem entre blocos em uma das laterais do conduto
acessando uma área ainda desconhecida da caverna. Embora a princípio a
descoberta representasse um alto potencial de continuidade. Após uma segunda
investida e topografia, as galerias não prosseguiram por mais de uma centena de
metros.
Ao todo, as estatísticas do projeto somam doze dias de trabalho no
entorno do abismo, duzentos e onze horas de atividades dentro dele, o
envolvimento de dezenove espeleólogos, oitenta e sete metros de paredes
escaladas no seu interior e duzentos e setenta metros de cordas instaladas.
Maiores detalhes do projeto, bem como fotografias, mapas e
relatórios estão disponíveis no site oficial do projeto.
Equipe em aproximação da entrada da
caverna
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Descida do abismo pelo caminho
conhecido
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Ascensão em corda durante os trabalhos
de escalada
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Um dos raros pontos com possibilidade
de descanso durante a escalada
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Ponto mais alto conquistado durante a escalada |
Condutos inferiores descobertos durante
o projeto
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Condutos inferiores descobertos durante
o projeto
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