Na mesma viagem express à Bahia já descrita aqui no site, mapeamos mais 2 cavernas relevantes além da descrita no relatório anterior. Ambas estas cavernas consideravelmente importantes e bastante diferentes entre si.
Como tínhamos 4 dias de viagem e terminamos os trabalhos na primeira caverna já no segundo dia, ainda nos sobravam 2 dias inteiros para averiguar outras áreas ali próximo e, se possível, já irmos tomando o rumo de Salvador. Sendo assim, no terceiro dia fomos acompanhados de nosso guia até uma fazenda não muito distante onde tínhamos pistas da existência de cavernas.
Pergunta daqui, entra em estradas de terra ali, pergunta novamente, mais alguns kms de terra e não foi difícil encontrar a fazenda. Logo próximo à entrada, moradores locais trabalhavam em uma roça. Com um pouco de conversa conseguimos que alguns deles nos levassem até uma suposta entrada de gruta, na encosta de um morro não muito longe. O problema foi que para acessar a entrada da caverna, tínhamos que atravessar uma densa floresta de cizal. Para quem não conhece, o cizal compreende a arbustos de compridas folhas com afiadíssimos espinhos na ponta de cada folha. Isso sim foi bem mais difícil do que esperávamos.
As folhas saem de um núcleo da planta, próximo ao chão e se prolongam até a altura da cintura. Os espinhos apontam para todos os lados fechando qualquer possibilidade de caminhamento. Com facão e foice na mão fizemos várias tentativas de trilhas sem muito conseguir avançar. Em cada tentativa acumulávamos doloridos furos nos braços e pernas. Simplesmente desesperador ver o morrote tão perto (uns 50m adiante) e com acesso tão complicado.
Estávamos quase desistindo quando um dos moradores que nos acompanhava nos informou ter encontrado um caminho mais próximo em uma lateral da floresta de cizal. Seguimos por este caminho até conseguirmos chegar a poucos metros do morro. Bastou mais alguns minutos abrindo a trilha em meio aos espinhos e conseguimos chegar a uma grande entrada de caverna. Uma íngreme descida acessa um enorme salão, morro adentro. Descemos em silêncio, para não irritar uma imensa colméia no teto da caverna, próximo à entrada. O barulho das abelhas era assustador. Dentro da gruta, nenhuma pegada nos dava a sugestão de pouca visitação até o momento.
No fundo do salão uma enorme montanha de travertino, em forma de bolo de noiva, estava cortada ao meio pelo afundamento da metade da formação. Um corte transversal expondo centenas de camadas em uma excelente representação didatica da geologia e idade do espeleotema.
Um estreito caminho entre blocos, por baixo da formação sugeriria continuação, porém encontra-se totalmente fechada sedimentos.
Trata-se esta caverna um belo exemplo de gruta de fácil acesso, mas com pouquíssima intervenção humana. Faz-se extremamente necessário aplicar medidas de proteção em seu interior e entorno para evitar depredação e poluição da caverna por desconhecimento e desinformação por parte da população, em especial, fiéis religiosos.
No mesmo dia, ainda fomos a uma outra caverna alí próximo. Segundo os moradores, tratava-se de um buracão no chão, onde até então ninguém havia descido por medo e insegurança.
Logo ao chegar fiz uma rápida ancoragem natural em umas grandes raízes infiltradas na rocha e fui sozinho até o fundo da gruta.
Caminhei por alguns metros até acessar um salão maior de onde saiam 2 condutos paralelos. Caminhei mais um pouco, o suficiente para avaliar a necessidade do mapeamento e estimar o tempo de uma topografia.
Nem foi preciso andar por toda a caverna. Voltei com a notícia de que a mesma prometia um belo mapa e resolvemos iniciar os trabalhos naquele mesmo dia. Puxamos um pouco as atividades ficando até mais tarde dentro da caverna, mas valeu muito a pena. Saimos com o mapa pronto e belas fotografias.
Em um dos condutos encontramos estranhos objetos depositados acumuladamente no solo. Espécies de escamas, brancas, grandes, compactas. Não conseguimos identificar de que animal se tratava, ou se tinha realmente alguma origem biológica.
Na dúvida, cansados e com pouco tempo, deixamos exatamente da maneira em que encontramos e seguimos rumo para fora da caverna.
No momento da saída, ao desescalar a ancoragem de fora da gruta fui surpreendido, a poucos centímetros de meu rosto uma enorme aranha caranguejeira. A maior que eu já havia encontrado. Um verdadeiro presente após 3 dias de muito mapeamento. Pedimos licensa e desculpas pela invasão e ela respondeu com certo ar de desconfiança, mas não fugiu. Então todos saíram da caverna a deixando em paz para prosseguir sua jornada, ou melhor, noitada!
Um comentário:
Elaia. Esse é o cara hem. Parabéns. Lhe desejo boas aventuras. Se descobrir alguma caverna nova me chama pra explorar com vc hem. rs
abss
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