Os preparativos ocorreram milimetricamente como planejávamos. Ou quase. A Leda chegou cedo em Fortaleza na Sexta-feira, e cedo também tomamos nosso rumo à Mossoró. Apesar da péssima condição da estrada chegamos cedo em em nosso destino (antes das 22hs) e resolvemos seguir direto para Felipe Guerra onde dormiríamos na pousada de sempre. Dormiríamos...
Acontece que a pousada estava lotada por conta de festividades locais. Paradoxalmente por sorte, havíamos errado o caminho e por conta disso realizado uma grande volta por uma estrada mais longa, mas passando em frente a uma pousada bacana. A pousada ficava cerca de 20km de Felipe Guerra, no sentido contrário do caminho correto... Voltamos e nos instalamos nesta segunda opção.
Dia seguinte encontramos com nossos companheiros do CECAV e seguirmos direto para a caverna. Mais uma vez, bem intensionados, tentamos encontrar pontos para spits e mais uma vez resolvemos descer com ancoragens naturais. Os cuidados para posicionar o nó da descida mais alto que das outras vezes e uma barriga na corda na ancoragem ajudaram a entrada e saida do abismo serem menos penosos.
A descida foi rápida. É verdade que todos estavam mais treinados do que das outras vezes. Uma vez no conduto principal, nos desequipamos e seguimos entusiasmados para as continuações. Em menos de 1 hora chegamos no ponto final da topo anterior. Tinhamos a nossa frente realmente um belo file em se tratando de caverna. Visadas de 20, 30, 35m. Nenhuma pegada. Melhor que isso somente se a temperatura da caverna fosse mais amena. Acontece que o calor interno é fortíssimo (em média 32graus) além de muito humido e sem nenhum sinal de circulação de ar. Tinhamos que nos mover com calma e beber muita água para repor o que perdíamos.
Em poucos minutos já estávamos enxarcados e exaustos. As gotas de suor misturadas com terra pingavam na folha de croquis gerando uma irritante lama em cima do desenho.
E assim topografamos o dia todo cerca de 450m de belos condutos. Algumas tiradas retas, algumas leves curvas e áreas bem ornamentadas. Destaque para alguns setores repletos de ossos bem calcificados e alguns bem grandes, possivelmente de megafauna.
Mas não foi neste dia que chegaríamos no final da caverna. Resolvemos parar a alguns metros de uma curva. Caminhei até a curva apenas para confirmar a continuidade da caverna naquele mesmo padrão e deixamos para prosseguir a topo no dia seguinte. Nos acompanhou à essa empretada o Walter, companheiro de Vôo livre e muiti-atleta, com boas noções de vertical e iniciando-se na espeleologia.
No dia seguinte nossa equipe estava mais reduzida. O próprio Walter, com a empolgação de sua primeira caverna, acabou sobrecarregando seus joelhos em passagens apertadas no dia anterior o que os fez amanhecer inchados... melhor não arriscar.
Como haviamos deixado a caverna equipada, nossa descida no Domingo foi ainda mais rápida. Em pouco tempo estávamos nos limites do dia anterior e dando prosseguimento à topografia. A caverna continuava sem nenhuma dificuldade ou obstáculo. Mais visadas enormes intercalando partes ornamentadas e verdadeiros condutos de metrô.
Após cerca de 300m a caverna começa a mudar sua morfologia. Os condutos ficam mais volumosos, com grandes blocos no solo e teto bem mais alto. Em um determinado ponto encontramos uma piscina, ou melhor, uma pequena poça d’agua, o suficiente para molharmos nossas mãos e levar um pouco de água ao rosto e à cabeça. Um grande alivio diante daquele calor insuportável. E continua…
Topografamos até um ponto onde seria preciso escalar grandes blocos para prosseguir. Resolvemos fixar uma base e pararmos a topo neste ponto. Além dos blocos, não se via uma continuação óbvia, parecia estarmos próximos ao fim. Resolvi atravessar o desmoronamento e averiguar se a gruta terminaria ali ou se haveria novamente alguma continuação. Após os blocos a caverna fazia mais uma curva à esqueda. Ao chegar na curva iluminei o conduto com a força máxima da lanterna e o que vi à frente foi novamente o vazio inexplorado. Amplos condutos ainda nos aguardam à frente. Neste segundo dia havíamos topografado 490m somando quase 1000m em todo final de semana. Praticamente dobramos o tamanho da caverna o que estava muito além de nossas expectativas.
Georeferenciando o mapa em imagem de satélite observamos que não estamos muito longe do rio Apodi.
O que nos aguarda da próxima vez? Uma saída próxima ao rio Apodi? Acho improvavel visto o calor e a falta de circulação de ar... Uma passagem subersa (sifão) uindo a caverna ao rio poderia ser uma boa especulação. Para saber ao certo teremos que aguardar e nos preparar para a próxima investida.
A única certeza que temos hoje é de que inicia-se aqui uma nova fase de trabalhos nesta caverna: o vertical de sua entrada, o calor intenso em seu interior, o tempo de deslocamento até o ponto de trabalho entre outros importantes fatores representam riscos a mais e exigem toda uma logística de equipemantos e planejamento da expedição. Além desse planejamento, os espeleologos envolvidos deverão ter uma preparação física e principalmete psicológica para encarar a encrenca. Nada mais natural quando se trata da mais pura espeleologia!
Até as próximas!
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