Há doze anos era descoberta aquela que seria uma das cavernas mais desafiadoras dos últimos tempos na espeleologia brasileira.
O Abismo Los 3 Amigos, localizado na região de Bulha D'água no PETAR, apresenta um desnível de 193m. Esta profundidade não o coloca entre as dez mais profundas cavernas do país, entretanto suas grandes dimensões certamente o classificam em posição de destaque entre as mais volumosas.
A única entrada conhecida é um buraco vertical, encontrado após 1h30 de trilha no interminável sobe-desce de serras da região. O acesso tem ficado a cada dia mais difícil uma vez que as estradas antigas, sem manutenção, são tomadas pela mata atlântica e desaparecem.
De dentro do buraco, uma forte corrente de vento sopra balançando a vegetação e espirrando para fora folhas que eventualmente caiam pela entrada da caverna.
Por dezenas de metros os espeleólogos descem por cordas tendo que vencer os mais diferentes tipos de obstáculos. Passagens escorregadias, cordas enlameadas, fracionamentos difíceis. Nada que já não seja esperado para uma caverna vertical em plena exploração. A maior surpresa, no entanto, está a 80m verticais da entrada: um lance livre de 50m em corda no meio de um gigante salão dá acesso a um conduto de rio de grandes proporções. Com uma média de 30m de diâmetro por mais de 40 de altura, o conduto se estende para os dois lados não estando ainda por completo explorado.
Após anos de dedicação externa em busca de novas entradas ou conexões com cavernas do entorno, as tentativas foram se exaurindo e as investidas voltaram a ser através das galerias verticais. Em 2017 uma investida deu manutenção às cordas e equipamentos deixados no interior da caverna e em 2018 novas viagens estão sendo organizadas para continuidade das explorações e mapeamento.
No final de semana de 16 e 17 de Junho estivemos novamente na caverna. Com as partes horizontais exploradas já mapeadas, fazia-se necessária mais uma ida para com calma redesenhar o perfil vertical da descida. Com esta finalidade, três espeleólogos estiveram na gruta descendo até a cota de -190m.
Após acessar o grande salão, a equipe realizou algumas fotos e - por não ter encontrado o caminho da última descida para o rio - seguiu pelo grande conduto fóssil à Leste, sentido montante. Caminhar neste conduto é difícil devido às grandes dimensões dos blocos e desníveis, qualquer deslocamento demanda tempo e calma. Uma das laterais em aberto foi checada e a equipe tomou a decisão de voltar.
Do momento de entrada até a saída da gruta foram necessárias mais de 13h de atividade. A equipe entrou na caverna as 12h30 do Sábado e saiu as 2h do Domingo.
Com 1h30 de trilha, chegamos à casa de pesquisa as 3h30 da manhã debaixo de uma garoa fraca e um frio intenso...
O mapa, já desenhado, está em constante evolução e a cada viagem uma nova área é adicionada ao documento.
Texto e fotos: Daniel Menin
Equipe antes da atividade: descansados... |
1h de trator até chegar à casa de pesquisa. Chuva e frio foram uma constante. |
Trilha aberta, mas com muita lama e umidade |
A -140m de profundidade está a Grande Sala, dela um enorme conduto de rio segue parcialmente explorado. |
Grande sala, -140m de desnível |
Parada para abastecimento dos estômagos. |
Sem muito tempo, mas foi possível fazer algumas fotos da sala a -140m |
O objetivo desta atividade foi fazer o desenho de toda descida até o salão. Dever cumprido. |
Equipe recém chegada à casa de pesquisa: 3h30 da manhã... |
Mapa em constante evolução: Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas. |
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