"E impelido pela minha ávida vontade, imaginando poder contemplar a grande abundância de formas várias e estranhas criadas pela artificiosa natureza, enredado pelos sombrios rochedos cheguei à entrada de uma grande caverna, diante da qual permaneci tão estupefato quanto ignorante dessas coisas. Com as costas curvadas em arco, a mão cansada e firme sobre o joelho, procurei, com a mão direita, fazer sombra aos olhos comprimidos, curvando-me cá e lá, para ver se conseguia discernir alguma coisa lá dentro, o que me era impedido pela grande escuridão ali reinante. Assim permanecendo, subitamente brotaram em mim duas coisas: medo e desejo; medo da ameaçadora e escura caverna, desejo de poder contemplar lá dentro algo que me fosse miraculoso"

Leonardo Da Vinci

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Foto de caverna do Rio Grande do Norte vence concurso internacional de fotografia

Acaba de ser divulgada a fotografia ganhadora do concurso internacional Luca Memorial Contest de 2024. Trata-se de um concurso global de alta repercussão no mundo da espeleologia e do canionismo.

A imagem foi feita durante uma expedição na BatCave Urubu, no Estado do Rio Grande do Norte. Dezenas de milhares de morcegos usam a gruta para se proteger e a entrada dos espeleólogos fez com que eles começassem a voar, todos juntos.


O piso da gruta é coberto por guano (fezes) e pequenos animais, com destaque para milhões de carrapatos de morcego. Ficar parado para a foto é um desafio porque os carrapatos começam a subir pelas nossas pernas. A atmosfera interna, carregada de fortes odores e o calor, próximos aos 30 graus, também fazem da atividade um desafio.

Os sedimentos internos nas partes mais profundas da caverna acumulam metros de profundidade de guano em milhares de anos de história sobre o passado. Esse material vem sendo estudado por pesquisadores e revelam os paleomabientes daquela região como, por exemplo, as condições climáticas a fauna e a flora.



A foto foi produzida durante uma expedição do CECAV- Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio-MMA), para trabalho de campo na produção de um livro sobre o carste potiguar. Essa e muitas outras fotos da região estarão no livro que deverá ser publicado para o 38º Congresso Brasileiro de Espeleologia e 19 Congresso Internacional de Espeleologia, que acontecerá na segunda metade de Julho, em Belo Horizonte.



Quer saber mais sobre o concurso? Visite as páginas:
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📌 INSTAGRAM: @lucamemorial.contest
📌 TIKTOK: @lucamemorial.contest
 



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Curso de Espeleofotografia


Lançado o curso de espeleofotografia com Daniel Menin e Maria Souza. O programa consiste em duas aulas online com uma carga de 6 horas/aula e uma oficina vivencial com 3 opções de viagem. São expedições organizadas para alguns dos mais fantásticos locais de cavernas do Brasil.

Durante as aulas à distância serão abordados temas como introdução à espeleologia, fundamentos da fotografia em cavernas, técnicas e equipamentos, tratamento e finalização de imagens. Também é realizada uma apresentação sobre os lugares onde as oficinas acontecem e alinhamentos sobre as expedições.

Nas viagens serão treinadas técnicas e soluções com diferentes equipamentos. Durante as viagens, além das atividades em caverna, também serão realizadas reuniões de tratamento rápido, discussões e trocas de experiências.

As opções de viagens disponíveis são:
A. Parque Estadual Turístico do Alto do Ribeira (PETAR), no Estado de São Paulo: 2 dias inteiros na região com 2 cavernas visitadas (em Abril);

B. Amazônia (Pará): uma viagem de 6 dias com 2 dias intensos em cavernas de diferentes tipos de rocha, chachoeiras e um dia de descanso em lindas praias de rio com águas transparentes (em Junho);

C. Sertão baiano: uma profunda imersão em uma das regiões mais áridas do Brasil, vivenciando a estadia na casa de sertanejos no pé de uma serra com cavernas cênicas para as oficinas (em Agosto).



As vagas são limitadas a 8 participantes de modo que as viagens sejam bem aproveitadas e tenham uma atenção próxima e exclusiva.

Sobre Daniel



Treinado pela Escola Francesa e Espanhola de Espeleologia, Daniel é Doutor em Geociência e atua na divulgação científica e educação envolvendo o tema das cavernas.

Como fotógrafo é premiado no Brasil e exterior com reconhecimento de prêmios como The Nature Concervancy (1 lugar em 2023) e CNPq (1 lugar em 2022) e reconhecimento de revistas globais como a francesa Spelunca (2024). Daniel também tem menções honrosas em concursos na Espanha e Inglaterra e fotografias publicadas em revistas científicas como Nature.

No Brasil além de participar de grupos de espeleologia como Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas e Meandros Espeleoclube, Daniel também compõe o time de fotógrafos do projeto Luzes na Escuridão com 3 Volumes já publicados.

Na docência, Daniel ministra aulas de fotografia para Universidade de Passo Fundo e Casa de Cultura de Marabá, cursos particulares, e também nas disciplinas de Valores Espeleológicos, Técnicas Avançadas, Geoconservação e Topografia.

Maiores informações por whatsapp, e-mail ou instagram:

Daniel Menin - 55.11. 98152-0088
Instagram: danieldsmenin
danielmenin@gmail.com

Maria Souza55.11.965351120
Instagram: mariaspeleo
mariaspeleo@gmail.com

domingo, 2 de fevereiro de 2025

O que os sedimentos nas cavernas podem nos contar sobre o passado?

Como era o clima há algumas dezenas de milhares de anos atrás? Como era a vegetação e a fauna onde esta caverna está localizada?

Costumo dizer que cavernas são como máquinas do tempo. Ao explorar esses ambientes, exploramos também o passado.

As fotografias abaixo foram realizadas durante uma expedição científica às cavernas de Iraquara, Bahia, na Chapada Diamantina. O objetivo da viagem foi a observação e coleta de sedimentos para pesquisas sobre os paleoambientes daquela região. Através de datações radiométricas nos cristais de quartzo contidos nestes sedimentos é possível saber quando essa "areia" foi trazida para dentro da caverna por grandes inundações. Junto com ela, uma série de informações dos paleoambientes também podem ser extraídas.

Datações radiométricas calculam o decaimento radioativo de alguns minerais ao longo dos anos, como o quartzo. Através dela, é possível saber quando esses minerais receberam os últimos raios solares. Existem também as radiações cosmogênicas, elas conseguem identificar em minerais (como o Berilo, por exemplo) a radiação que eles receberam vinda do universo profundo. Sim, porque não é somente o sol que emite radiações, mas as estrelas também.  

A pesquisa de sedimentologia realizada na região faz parte de uma parceria entre o Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP), a Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) e a Universidade do Vale do São Francisco (UNIVASF).

Fotos: Daniel Menin.
Antes de reproduzir, consulte a fonte e converse com o autor.

 
















Testes, cavernas e fotos

Recentemente fizemos uma viagem ao PETAR, SP para testar novos produtos da Mono Equipamentos.

Foi uma ótima cavernada, junto com o amigo Herman, fabricante raíz de mochilas, cintos e macacões.

Testamos atributos como peso, durabilidade, vazão de água e conforto e, também, aproveitamos os dias para também fazer algumas fotos. As conclusões não foram somente que os produtos são ótimos, com cortes mais modernos e bem acabados, mas também que o Hermann dá pra um ótimo modelo ;-)

Abraços!

Daniel

















segunda-feira, 24 de junho de 2024

Exposição no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu traça uma história de 600 milhões de anos atrás à um futuro impactado pelas mudanças climáticas



Quem já visitou o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu certamente se deparou com o Centro de Visitantes, um espaço amplo e bem construído na entrada do parque. 

Em janeiro de 2021, um projeto foi concebido para aproveitar este espaço e construir uma exposição permanente sobre o parque. Com o apoio do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav), por meio do Termo de Compromisso de Compensação Espeleológica (TCCE/2018), e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto foi desenvolvido e executado por uma equipe de profissionais de diversas áreas do conhecimento.


A exposição levou mais de três anos para ser concluída, não apenas devido aos desafios impostos pela pandemia, mas também por seu caráter participativo, que envolveu as comunidades locais desde a concepção até a execução do projeto.

Infelizmente, um dos idealizadores e maiores entusiastas da exposição, Luís Beethoven Piló, veio a falecer pouco depois da aprovação do projeto. Em homenagem e reconhecimento de sua relevância para a criação do parque, foi a ele atribuído o nome da exposição.


Palestra de abertura da exposição para pesquisadores, condutores e população local


Conteúdo:

A exposição está dividida entre duas áreas de visitação: o Centro de Visitantes Principal e o Centro de Visitantes Janelão. Nestes locais, os visitantes são conduzidos por diferentes temas relacionados à origem do Vale do Rio Peruaçu e suas principais características geológicas, biológicas e ocupação humana, desde os tempos pré-históricos até os desafios climáticos e sociais atuais.

Na curadoria e gestão do conteúdo, procurou-se integrar o conhecimento científico mais recente com os saberes locais, apresentando informações e depoimentos coletados junto às comunidades regionais.

Uma ampla equipe multidisciplinar de conteúdo científico foi formada com pesquisadores de diferentes laboratórios e universidades. 

Espaço de acolhimento, no Centro de Visitantes Principal, com vídeos e imagens da população local.


Espaço de conteúdo científico, no Centro de Visitantes Janelão. Paineis e amostras remontam de 600 milhões de anos até os desafios ambientais atuais.


Desenho do perfil do Janelão com "descoberta" de animais "escondidos" ao longo da caverna.

Peças arqueológicas com artesanatos atuais em ordem cronológica demonstram a evolução no uso da cerâmica local.

Nicho com espeleotemas e anel de árvore ilustrando a conexão entra os trabalhos de paleoclima e dendrocronologia


Processo participativo:

Durante todo o processo, da criação à montagem da exposição, foi incentivada a participação das comunidades locais. Reuniões com diferentes grupos sociais, depoimentos, consultas e contratação de mão de obra regional foram constantes, fazendo desta exposição uma realização construída por muitas mãos.

As estruturas mais importantes para abrigar o conteúdo, por exemplo, foram construídas por artesãos e serralheiros locais. O trabalho de trança com palha é reconhecidamente uma especialidade de longa data no Vale do Peruaçu. Este conhecimento, transmitido de geração em geração, agora está presente nas estruturas que sustentam as obras apresentadas.

Processo de criação e montagem, com reuniões e participação das comunidades locais.


Espaços expositivos em construção e em finalização. Reuniões com representantes locais e Xakriabás, peça arqueológica encontradas em trabalhos de campo e réplicas impressas em 3D para a exposição. Finalizações in loco da maquete 3D, cuja produção levou 6 meses de impressão. Painel gigante com mapa e atrativos do parque.

O projeto foi coordenado pelo Professor Francisco William da Cruz Jr (Chico Bill) e o doutorando Daniel Menin, ambos do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP). 

Em destaque, além dos painéis no Centro de Visitantes Janelão, uma maquete tridimensional apresenta projeções com trilhas, cavernas e outras características da região, incluindo mudanças na vegetação ao longo das estações climáticas.

Maquete tridimensional com diferentes projeções ajudam em aulas, palestras e discussões sobre a região,

A exposição contou ainda com a doação de inúmeros documentos, fotografias, mapas, amostras, réplicas, equipamentos, livros e conteúdos históricos sobre a região. 

Agradecimentos especiais ao Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio), à Dayanne Ferreira dos Santos Sirqueira, gestora da Unidade de Conservação, ao Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), Instituto de Geociências (IGc-USP), ao Grupo de Espeleologia Meandros que prontamente cedeu mapas de cavernas da região, ao Projeto Luzes na Escuridão, à Universidade Federal de Minas Gerais (departamentos de Arqueologia e História) e à Universidade Federal de Lavras (Centro de Estudos em Biologia Subterrânea – CEBs-UFLA).


Momento de abertura da exposição no Centro de Visitantes Principal

Entrada do público na exposição logo após a abertura das portas


Palestra de abertura


Apresentação de vídeo inaugural com Augusto Auler e Luís Beethoven Piló


Desenho do Perfil do Janelão feito por Vitor Moura

Área expositiva no Centro de Visitantes Janelão

Área expositiva no Centro de Visitantes Janelão

Apresentação de vídeos no Centro de Visitantes Janelão

Apresentação da maquete tridimensional

Os professores André Prous e Francisco W da Cruz Jr sobre a maquete tridimensional.

Augusto Auler em vídeo sobre a história da espeleologia no Vale do Peruaçu


Pesquisadores, autoridades e povo local interagem durante evento de inauguração

Daniel Menin, Maria Souza, Renata Andrade e Fox reunidos durante evento de inauguração.


Alguns números da exposição:
29 pesquisadores envolvidos no conteúdo científico;
10 Instituições de pesquisa envolvidas;
33 metros de painéis expositivos;
200 minutos de conteúdo audiovisual;
+ de 20 peças expositivas (amostras geológicas, réplicas arqueológicas, equipamentos e  peças de artesanato);